12. Acabou?

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Nossos comportamentos ficaram estranhos após o beijo, retornamos para casa com aquele tanto de sacolas e com aquele banho de silêncio durante o caminho. Sem dar palavras arrumei um espacinho e guardei as roupas de Taehyung no guarda-roupa, fui até a cozinha para fazer um lanche, estava faminta, ele por outro lado preferiu se acomodar no degrau da escadinha abaixo da porta para fumar novamente, apenas o observei por uns instantes.

-Ann! -Escuto o rapaz me chamar rouco, meu corpo estremece.

Percebi que Taehyung queria conversar mas fiz o máximo para evitar tal situação, tentei me manter ocupada, mesmo não tendo muito o que fazer.

-Eu vou... Limpar meu quarto!

-Tudo bem! -Recebo de Tae um olhar um tanto enfezado.

...

Estava exausta, eu disse que iria limpar meu quarto para Tae, acabei que limpando toda a casa para fugir de qualquer abordagem da parte dele, já havia anoitecido e eu não poderia fazer mais nada para evitar, me acomodei na cama com o celular em mãos, escrevi uma mensagem de texto e estava prestes a enviar para Jimin, me cedi a ele em desespero, mas antes mesmo que eu conseguisse enviar Tae aparece subitamente e imóvel na porta, engoli seco, me olhou com desprezo e eu não tinha para onde fugir, eu iria encará-lo. Por mais que ele fosse inofensivo tinha algo nele que me dava medo, pessoas não precisam ser agressivas para darem medo, e ele tinha algo peculiar que me dava essa sensação.

-Já chega de me evitar, precisamos conversar agora!

Suspirei e assenti me sentando sobre a cama, deixei o celular do meu lado e vi que a mensagem ficou como rascunho "amanhã envio" pensei, retornei os olhos para Taehyung que estava impaciente e irritado.

-Me desculpa, eu não queria ter beijado você, não pensei na hora e cometi um erro... Mas me diz quem nunca errou?

-O problema foi ter me usado para magoar aquele cara! -Tae se aproxima de mim com passos pesados.

-Tae... Desde de quando você se preocupa em ter magoado Namjoon ou não?

-Ele que se foda Anny, o problema sou eu, não gosto de ser usado muito menos enganado.

-Eu não te enga... -Interrompida novamente.

-É mesmo? -Ele bate suas duas mãos na cama e ali fica, me deixando entre elas consequentemente estufando meus olhos de susto, Tae fica próximo de meu rosto quase como um beijo -Você me beijaria agora?

Meus olhos se molham me alertando que estava prestes a chorar.

-Na... Não!

Tae se desencurva caminhando para trás lentamente, me jogou mais desprezo com os olhos me intimidando ainda mais, em seguida bateu palmas como se estivesse parabenizando algo.

-Parabéns Ann... você me enganou, acho que não era eu o tempo todo.

Estranhei aquele comportamento do rapaz, esperei Tae sair e corri até a porta, fechei com tanta força que o barulho ecoou pela casa, retornei a cama e me deitei em posição fetal no qual desabei em choro, magoei ele, jamais me perdoaria, era a última pessoa que desejaria magoar, achei que ele iria entender meu lado, mas não... esse foi um dos motivos para evitá-lo o dia todo.

Não sei por quantas horas chorei, cai no sono por não ter mais lágrimas para derramar, estava fora de mim, cometi erros, mas como concerta los?

...

Logo pela manhã ao abrir os olhos inchados que estavam se recuperando da noite passada, lembro de tudo o que aconteceu "não foi um pesadelo foi real" penso, esfrego os olhos que ainda estavam cansados, me levanto e me visto casualmente, faço minhas higienes, minutos depois preparo um café da manhã, pão com manteiga e leite, estava muito silencioso a casa, Taehyung deveria estar no quintal fumando novamente, era brecha que eu tinha para desabafar com um brotinho de feijão.

-Eu estou mal hoje, cometi um erro terrível e não sei como arrumar isso feijãozinho... A propósito tá mais bonito que ontem! -Sorrio o molhando- É bom falar com você, não tenho ninguém pra conversar a não ser a única amiga que tenho e Taehyung, mas os dois estão fora de questão agora!

Uma música de fundo me chama atenção, deveria ser o celular de Taehyung, olhei pela janela e vi o mesmo com o cigarro em uma mão e na outra atendendo o chamado, seu semblante havia mudado radicalmente, o rapaz estava amedrontado, dei de ombros e continuei molhando o feijão.

-Queria ser uma mosca para escutar a conversa! -me apoio na pia-Bom acho que por hoje já deu.

Me sentei na mesa e comecei meu café, reparti com os dedos o pão, passei um pouco de manteiga e molhei no leite quente, eu amava quando papai me fazia comer desse jeito, é uma pena ele não estar aqui agora, o bom é que logo ele voltará, mas por enquanto o que me resta é fazer tudo sozinha.

-Anny!!! -Taehyung novamente me assusta abrindo a porta no supetão, mas dessa vez ele me chamou berrando no desespero no qual me fez ficar também.

-Você quer matar de susto?? -Levo as mãos no sentido do coração -Me conta o que aconteceu!

-Temos que sair daqui... AGORA!-Tae segura meu pulso e me puxa para fora.

-ESPERA!!! -Puxo no sentido contrário parando nós dois -Primeiro me conta o que aconteceu...

-Não há tempo, temos segundos!

Ele me puxa novamente e saímos da casa, Tae não me deixou trancar a porta de tão desesperado, como de se esperar, na pressa acabo pisando falso torcendo o tornozelo, grito de dor, sons de viatura ecoavam pelo bairro que se aproximava cada vez mais, acho que já sei o porque a pressa... Tae me observa mas não sabia o que fazer, ele olhava para rua e para mim, parecia indeciso, e já que ele não conseguiria escolher, eu o faria isso por ele.

-Vai Tae, eu vou ficar bem... Pode ir! -Digo gemendo de dor.

-Desculpa!- Seus olhos marejavam.

Sou atingida por um flash lembrando do sonho, ele fez o mesmo antes de atirar, foi tão real quanto agora, observo Tae se afastando de mim, e antes que ele pudesse atravessar a rua a única viatura o cerca apontando em direção de seu crânio uma arma "Ah não!"

-PARADO!! -Os dois policiais saem da viatura e Tae levanta as mãos.

"Droga!"

Não tinha escapatória, eu iria junto por cumplicidade, eu não acredito, eu sou um fracasso, como eu iria explicar isso para meu pai, o orgulho dele de mim estava agora sendo jogado no lixo, mas eu sei... eu sei que ajudei um ser humano e isso ninguém tira de mim.

O Fugitivo - kthOnde histórias criam vida. Descubra agora