CAPÍTULO I

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Era uma manhã daquelas. Um congestionamento interminável de carros às sete da manhã. Desespero daqueles que precisavam chegar no horário. Motoristas impacientes, buzinas, motos cortando por entre os carros parados.

- Sete da manhã e o trânsito já está desse jeito… Quanto mais atrasados estamos, parece que tudo piora… - disse Cristina, a si mesma. Tinha o hábito de falar sozinha no trânsito. Às vezes alguém notava e ela ficava até sem graça, mas depois esquecia e continuava o bate-papo consigo mesma. Era geralmente a melhor conversa que tinha quando algo a incomodava.

- Teve um acidente, dona Cristina, mais lá pra frente - disse uma menina de seus oito, nove anos que vendia doces no semáforo todas as manhãs, aproveitando a lentidão dos carros. Deve ter ouvido a conversa de Cristina consigo mesma.

- Oi, bom dia… - respondeu Cristina, meio sem graça - faz tempo isso?

- Sei não, quando eu cheguei aqui já estava o maior furdunço. Estão tentando tirar o motorista de dentro do carro, mas parece que está difícil - respondeu a menina.

- Nossa, a pessoa, não satisfeita de prejudicar a própria vida, ainda atrapalha uma infinidade de gente! - reclamou Cristina, olhando para o relógio.

- Diz isso não, dona, a gente nem sabe o que aconteceu, né… A pessoa tem família, gente que vai ficar triste quando ficarem sabendo do acidente…

- Tem razão, olha eu aqui falando bobagem… Me dá um chiclete aí pra ver se eu deixo de falar besteira.

Algum tempo depois e Cristina passa pelo acidente. Um carro caro, completamente destruído. Os bombeiros trabalhando duro para remover as ferragens. Não conseguiu ver muitos detalhes, os policiais apressavam os carros, para que curiosos não parassem para ficar olhando e atrapalhando ainda mais o trânsito. Acidente sério, quem quer que estivesse naquele carro, certamente estava muito machucado, pensou Cristina. Depois disso, mais quarenta minutos de trânsito até que finalmente conseguisse chegar até o trabalho.

Cristina estacionou o carro de qualquer jeito, ligou o alarme e caminhou, quase correndo, até a entrada do Hospital Santa Teresinha, um dos mais conhecidos da cidade. Era cedo, mas já estava bastante cheio.

- Doutora Cristina, bom dia - disse a moça na recepção do hospital.

- Bom dia - respondeu Cristina. - Tô muito atrasada hoje! Deixa eu correr pra emergência, é hora da troca de plantão!

- Todo mundo está chegando atrasado hoje, doutora, por causa de um acidente aí pelas redondezas. Parece que estão trazendo o motorista do carro pra cá, em estado grave.

- É… - concluiu Cristina - o dia vai ser longo hoje.

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