Quando as aulas daquele dia ingrato chegaram ao fim, tentei absorver um pouco do conselho zen que Thomas havia dado e respirei profundamente para conseguir vencer a vontade de vomitar as tripas por conta da festa à qual teríamos de comparecer junto com Storm. Quando cheguei ao meu carro, Sunny já estava ali e mantinha uma discussão acirrada com Storm. - Você é um idiota, Storm! Nem adianta tentar me fazer desistir de ir, ou vou ligar para o papai agora! - ela falava nervosa. - Que saco! Vocês são garotas, porra! Deveriam ir para casa e fazer as merdas que garotas fazem, tipo... pintar as unhas, sei lá. Eu podia sentir o tom de frustração que vinha acompanhado nas palavras de Storm. - Você acha que é isso que garotas fazem, Storm? - Sunny estava furiosa. - Pintam as unhas e só? - Sei lá o que vocês fazem! Só quero que arranjem uma desculpa qualquer e não apareçam.Respirei profundamente e deixei de lado a ideia de fingir que não estava ouvindo nada. - Você está com vergonha de suas irmãs, Storm? - perguntei, e meu tom foi áspero o suficiente para que ele engolisse o que ia dizer e me encarasse. - Não é isso. - É isso, sim! - Sunny continuou a ofensiva. Coloquei uma mão em seu ombro para que ela se acalmasse. - Não iremos atrapalhar seus planos, Storm - eu disse. - Mas vou dar uma dica gratuita a você.Tenho certeza de que nessa porra de festa não haverá somente meninos fortes e cheios de testosterona exalando pelos poros. Muitas garotas estarão no local também. Talvez mostrando os peitos ou pernas para esses mesmos portadores de testosterona idiotas que pensam exatamente como você pensa sobre a presença delas ali. - Eu não penso nada! - Claro que pensa - argumentei firme. - Você não quer suas irmãs lá porque, no mínimo, acha que as garotas que estarão ali serão iscas fáceis para seus desejos carnais, certo? - O quê? - Ele estava confuso. - Ãhhh, mais ou menos.- Pois bem. Este é um pensamento machista pra caralho. Está desmerecendo as garotas que irão a esta festa, classificando-as como carne fácil. - Elas são carne fácil, porra! - Maneire sua boca comigo, garoto! Ou vou te descer a porrada na frente do colégio inteiro, entendeu? -falei e, pelo tom de voz, ele percebeu que era sério. - Cresça e aprenda de uma vez por todas que os idiotas são vocês também. Não somente as garotas que simplesmente pensam em abrir as pernas para vocês, pelo simples fato de serem "jogadores" de futebol da escola. - Fiz questão de enfatizar meu repúdio com minhas aspas gesticuladas. Storm odiava quando eu fazia isso. - Aprenda a respeitar estas mesmas meninas que tanto quer comer! Storm estava agitado e nervoso. Sunny olhava para mim embasbacada. - Eu só não quero que os garotos pensem isso de vocês duas, só isso - admitiu por fim. Respirei fundo e passei a mão suavemente pelo braço do meu irmão. - Quem deve se dar ao respeito não são somente as garotas, Storm. Os meninos também - eu disse. - Honestamente, não queria ir a festa alguma, mas se Sunny quer, eu irei e lá nós poderemos observar quais comportamentos são altamente inofensivos e quais são absurdos. Sunny vai se comportar, não é mesmo? - Sim. - Porque mesmo que ela seja uma garota assanhada, louca por músculos e jogadores, tenho certeza de que ela vai saber identificar as vagabundas e as garotas legais. Os dois olharam assustados pra mim. Nossa. Eu mesma achava que estava esquisita. Será que aquela simples conversa com Thomas Reynard havia extraído aquele meu novo temperamento? -Vamos logo para essa orgia programada aí. Entramos no carro depois de Storm deixar a bicicleta guardada no bicicletário da escola. Pelo andar da carruagem, era uma festinha informal, já que todos continuavam vestidos com as mesmas roupas do dia e alguns atletas ainda estavam fazendo questão de ostentar seus uniformes suados e fétidos. De acordo com o código da escola, todas as sextas-feiras, após os jogos de futebol, havia uma festa barulhenta em algum lugar. Torci o nariz não para o odor impregnado na sala da residência.Não especificamente para os integrantes do time, mas para quem era o dono da mesma. Jason Babaca Carson. Quando eu achava que uma coisa não poderia piorar, o universo me surpreendia. - Oh, uau, Torm! Então estas são as suas irmãs? - ele disse, e deu um tapinha no ombro de Storm. - Gatas! Eu estudo com a... Rainbow, certo? O imbecil estava realmente ganhando pontos no meu caderno. Pontuação para piadas ridículas. - Certo - Storm disse constrangido e nos olhou ressabiado. - Vou me misturar. Vocês ficarão bem? - Claro que elas ficarão, idiota - Jason disse e empurrou nosso irmão para longe. - Vá pegar alguma bebida para você e deixe que cuido de suas queridas irmãzinhas. - Eu sou a irmã mais velha, idiota - eu disse entre dentes. - Oh, então veio cuidar de seu mano? - Ele riu alto. - Ei, pessoal! - Se ousar envergonhar o meu irmão simplesmente pelo fato de querer ser um babaca, eu juro que... - Opa, opa... O que temos aqui? - Thomas Reynard entrou no nosso espaço e colocou o braço musculoso sobre os meus ombros e o de Sunny. - As irmãs mais quentes do pedaço.Ele nos levou dali para o quintal enquanto eu tentava conter minha ira. Nem terminei de proferir minha ameaça, que eu nem sequer sabia qual seria ou se surtiria efeito, mas ao menos Jason parara de falar. - O que está fazendo aqui, Rainbow? - ele perguntou. - Se misturando? Achei que essa não fosse sua praia. Okay. Acabei de retirar meus elogios ao Sr. Punk. Ele havia conseguido voltar a dizer merda. Olhei embaraçada para Sunny, que nem sequer piscava os olhos, admirando nosso interlocutor.- Sunny, este é Thomas. Thomas, esta é minha irmã, Sunshine - apresentei a contragosto. O idiota teve o descaramento de beijar a mão da minha irmã, fazendo com que ela quase se derretesse em uma poça de lama aos nossos pés. - Muito prazer, querida - ele disse. - Estão curtindo a festa? - Acabamos de chegar, Thomas - falei irritada. Não sei por quê, mas estava enciumada com a situação. - Rain, não seja chata! - Sunny ralhou. - Estamos aptas a nos divertir, Thomas. Você tem um apelido? Tipo Tommy? Ele riu. - Não, meu bem. As pessoas me chamam apenas de Thomas. É mais másculo. Naquele momento, em que minha boca se abriu em horror, ouvimos gritinhos de algumas garotas. - Sunny! Venha! Ela desvencilhou-se de mim e saiu ao encontro de suas amigas, espevitadas ao extremo. Não sem antes olhar para trás e abanar o rosto como se estivesse com um calor profano e ainda abrir a boca para dizer um grande "gostoso" mudo. - Rain? Olhei sem entender.- O quê? - Sua irmã te chamou de Rain. Bufei irritada. - Não bastasse meu nome adoravelmente estranho, eles ainda insistem em usar uma redução mais sinistra ainda - admiti muito a contragosto. Thomas estava agora com as mãos enfiadas dentro dos bolsos da calça jeans. Ele parecia um modelo de capa de revista de roqueiros adolescentes. - Eu gostei - ele disse. Dei de ombros porque para mim não importava muito a opinião dele a respeito do assunto. Nossa. Eu estava me sentindo uma cadela. - Obrigada pela interrupção do momento ali atrás - agradeci, mesmo que forçadamente. - Não há de quê. Uns segundos de silêncio embaraçoso e Thomas fez o inimaginável. - Quer dançar? - O quê? - Dançar? - ele perguntou e sacudiu o corpo para demonstrar. - Eu entendi, só estou chocada com o convite.- Por quê? Eu estava encabulada, mas mesmo assim respondi. - Só não achei que você fosse do estilo de gostar de dançar, só isso. - Eu também nunca achei que você fosse do estilo de garota revoltada, mas você é - ele disse e eu abri a boca em choque. - Eu... eu... eu não sou revoltada! - Ah, sim... você é, Rainbow. - Thomas me puxou para a pista de dança enquanto eu ainda estava perturbada com seu comentário. - Não! Não sou, não. - É, sim. Você parece dócil por fora. Quando nos aproximamos muito, já solta as garras e uéééún... - ele disse e fez o som esganiçado de um gato. Tentei não rir. Mas foi engraçado. Uma de suas mãos estava posicionada logo acima do meu traseiro, me puxando para perto de seu corpo. Pude sentir todas as estruturas musculares que ele escondia por baixo da camiseta preta. Ele tinha um corpo magro e esbelto, mas aparentemente aquele abdômen falava de momentos de malhação intensa. Engoli em seco e fiquei com medo de engolir minha própria língua no processo. Eu não sabia o que fazer com as mãos, então nem fiquei com raiva quando Thomas as posicionou atrás do seu pescoço. Senti o cheiro de perfume e identifiquei algo como sândalo. Eu nunca tinha reparado que ele usava perfume. - Você passou perfume? - perguntei e quase engasguei com minha própria saliva. Senti seu corpo vibrando em uma risada. - É meu suor que é assim cheiroso - ele respondeu e continuou rindo. Revirei os olhos diante de tamanho ego inflado. - Apenas perguntei. - Eu sei, e não. Não passei antes de vir para cá, mas passei antes de ir à escola - ele disse. - Tem uma garota lá que estou tentando impressionar. Oh! Acho que minha boca abriu naquela interjeição e ficou. Senti um leve estremecimento. Ele era um cara bonito, obviamente que estava comprometido. - Legal. - Legal o quê? O cheiro ou o fato de que eu esteja tentando impressionar alguém? - ele perguntou me olhando intensamente. Dei de ombros. - Ambos, acho. A música parou e, graças a Deus, uma balada agitada tomava lugar. Dei uma desculpa qualquer e tentei sair em busca de minha irmã. Consegui me desvencilhar daqueles braços quentes e, tal qual uma grande covarde, bati em retirada da pista de dança. Eu precisava achar Sunny imediatamente. Storm, eu nem me atreveria a buscar, já que eu não queria embaraçá-lo.- Ei! Quando cheguei à cozinha, eu me virei para o grito um pouco alto de Jason. - Quer dançar? Outro convite em menos de vinte minutos? Era estranho. - Não, obrigada. Eu não danço - menti descaradamente. - Mentira, novata - ele disse e chegou bem próximo do balcão onde eu estava recostada. - Vi você com Thomas. - Certo. Aquilo lá foi na verdade uma discussão sobre nosso projeto de Biologia. Só isso. - Sabe... - ele disse e foi se aproximando mais. Enquanto isso eu me afastava. - Você é até bastante interessante. - Sério? Que bacana. Obrigada. - Virei para a porta de saída. - Thomas não namora ninguém, sabe? - ele disse a título de informação espontânea. - Ele é meio que prometido para a minha irmã. Okay. Informação demais. Eu era novata na escola. Não estava de olho em absolutamente ninguém para que o idiota tivesse ideias erradas e nem imaginava que Thomas tivesse uma namorada. Nem sequer sabia que o idiota do Jason tinha uma irmã.- Bom para ele - falei e saí da cozinha. Tentei ignorar as batidas aceleradas do meu coração. Encontrei com Sunny no meio da sala, completamente agarrada a um cara mais ou menos da sua idade, tipicamente jogador do time. Talvez fosse o tal quarterback? Quando consegui que ela se desvencilhasse do indivíduo, eu a puxei para o canto e perguntei: - Esse é o tal quarterback que você tanto cobiçava, Sunny? - perguntei e vi quando ela me olhou em choque. - Não. Claro que não. O quarterback gostoso que te falei era aquele amigo seu, Rain.Pensei imediatamente em Jason e torci a boca em desgosto. Típico. Eu deveria ter adivinhado. - Jason? - Não, tonta. Thomas. Thomas Reynard é o quarterback do time e o astro mais top da escola! - ela disse num sussurro emocionado. Olhei pela sala em busca do objeto falado e ele ergueu um copo vermelho de bebida em minha saudação. Ao seu lado, duas loiras estavam ostensivamente penduradas em seus braços. Pense em alguém totalmente chocada com o rumo das coisas. Eu julguei completamente pela estampa e pela capa. Classifiquei o garoto como punk porque ele não fazia o estereótipo, em hipótese alguma, de um jogador de futebol. Senti as bochechas ficando vermelhas da cor de um tomate e disfarcei, virando o rosto e fazendo com que meus cabelos cobrissem a minha vergonha. Eu precisava ir para casa. Quem diria que o principal jogador do time fosse Thomas Reynard? Percebi que meu pré-julgamento foi completamente errôneo e senti uma leve fisgada de desapontamento comigo mesma.
Thomas
Observei atentamente quando Rainbow saiu acompanhada de sua irmã mais nova. Olhei ao redor e vi que o irmão dela, Storm, ainda estava entretido com alguns amigos, assistindo a algum jogo na TV. Consegui me desvencilhar das duas líderes de torcida de quem nem sequer lembrava o nome e resolvi que também era hora de ir para casa. Com meu objeto de interesse partindo precipitadamente da festa, não haveria razão para que eu continuasse a fazer a social ali. Consegui o inimaginável. Dancei com ela. Foi um momento em que pude sentir que ela havia se soltado, ao menos um pouquinho. Ouvir o som de seu riso foi tão empolgante que, por um momento, quase segurei seu rosto e a beijei nos lábios. Consegui me conter. Eu não queria assustá-la. Em minha percepção de que ela era uma garota diferente daquelas com as quais eu estava acostumado, poderia jurar que ela não tinha muita experiência em avanços masculinos. Seu desconforto era óbvio quando a puxei para dançar. Fui um cretino, mas puxei aquele corpo sedutor bem colado ao meu. Foi uma armadilha masculina para sentir os contornos femininos, mas funcionou, e agora eu estava um pouco mais obcecado por Rainbow Walker.Larguei o copo intocado da minha bebida na mesa da cozinha e segui rumo à saída da casa do idiota do Jason. Eu odiava aquele paspalho, mas o treinador nos obrigava a funcionar como equipe, e o ato de comemorar um jogo ganho deveria ser encarado como dever de equipe. Porém, ninguém disse por quanto tempo eu deveria cumprir esse protocolo. - Thomas! - o grito estridente de Tiffany quase arrebentou meus tímpanos. Respirei fundo antes de me voltar para a garota que aproveitava todas as oportunidades que tinha para me perturbar.- Tiff - tentei disfarçar minha irritação. - Você não pode ir agora... - Ela arranhou meu braço com aquelas unhas enormes. - Está tão cedo, Tommy... Porra! Eu odiava quando alguém me chamava de Tommy. - Você sabe que eu odeio que me chamem de Tommy, Tiffany. Qual é a sua? - Para que ela estivesse me pentelhando, deveria haver uma razão. - Vi você dançando com a esquisita. - Por fim, a garota admitiu. Cruzando os braços em uma pose beligerante, ela aguardava uma resposta minha. Contive a onda de irritação por vê-la se referir a Rainbow daquela forma. - Sabe o que dizem de meninas perseguidoras, Tiff? - perguntei baixinho. - Que são loucas e perturbadas. É isso o que você é agora? Bom, que ela era um tipo perseguidora eu sempre soube, mas admitir o feito era um pouco cruel. - Por que está me tratando assim, Thomas? - ela perguntou, fingindo uma mágoa profunda. - Estou irritado e cansado, Tiffany. Só me deixe em paz,okay? - Honestamente, eu estava cansado demais para jogar todas as verdades que sempre tive vontade de dizer a ela. Saí rapidamente, ignorando o olhar chocado de Tiffany e as tentativas de outros colegas do time de me impedir de sair. Mike bateu o punho com o meu quando me aproximei do meu carro. Já me aguardava ali para irmos embora. Mike era o amigo que qualquer cara poderia desejar ter. Ele sabia exatamente quando falar e quando permanecer em silêncio, como naquele exato momento. Arranquei com meu carro e tentei apagar da memória a sensação inebriante de ter aquela garota em meus braços.
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Rainbow
Teen FictionRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...