Eu estava tentando sair o mais rápido possível depois que o sinal informou o término das aulas. Aquela semana estava sendo tensa, já que, com a chegada de Cybella à cidade, Thomas resolveu acampar definitivamente em minha casa e nem sequer voltou para a dele. Sua mãe já estava avisada e, na tentativa de evitar um episódio como o do último surto psicótico da vaca louca, Alyce concordara que era melhor Thomas se manter afastado mesmo..A ideia dele não poderia ser melhor. Simplesmente tomou posse do meu quarto e dos meus pensamentos. Para piorar, tínhamos alguns trabalhos finais para serem entregues e as provas estavam chegando, enquanto a expectativa do baile de formatura tomava nossas mentes. Seria dali a uma semana. Meu coração pulsava em agonia, já que, com a ausência da minha mãe, eu não teria o famoso ritual de arrumação e choros e lágrimas por uma etapa sendo cumprida. Eu acreditava que meus pais nem mesmo se dariam ao trabalho de vir à formatura. Em duas semanas estaríamos nos formando no Ensino Médio e cada um já deveria saber o que faria. Eu apliquei algum formulário para alguma faculdade? Claro que não. Por conta de realmente não saber o que fazer com meus irmãos ou se meus pais estariam de volta. Minha mochila estava cheia de papéis que Thomas fizera questão de enfiar ali dentro, com o intuito de me convencer a olhar para aquelas opções de universidades. Eu nem estava pensando, honestamente. Estava mais do que agradecida que a sexta-feira havia chegado, porém, com ela, viria a ausência certa de Thomas, que já devia estar no treino de futebol naquele momento. Aquilo me daria um tempo para fazer um bolo de chocolate, talvez. Com toda certeza os garotos chegariam do jogo mais tarde com muita fome. Meu carro estava parado um pouco mais distante do que o usual e a chuva fina que caía cobria meus olhos, impedindo que eu enxergasse tudo com clareza. Passava as mãos nervosas sobre meus olhos, afastando os cabelos do rosto, tentando segurar a mochila e ainda proteger um pouco da minha roupa seca por dentro do casaco. Quando coloquei o pé na pista, descendo da calçada, vi o carro guinchar à distância. Reconheci o carro de Thomas e um sorriso bobo aflorou em meu rosto. E sumiu com uma velocidade recorde quando percebi que o carro vinha a toda velocidade e exatamente em minha direção. Thomas gostava de dirigir perigosamente em estradas retas e longas, e nunca havia recebido uma multa de trânsito. Na área da escola ele era absolutamente correto, obedecendo à velocidade da via. O que causou certa estranheza. Na verdade, acredito que foi coisa de segundos até eu perceber que algo estava muito errado e que um frio incompreensível percorria meu corpo. Você já ouviu dizer que, muitas vezes, diante de uma situação real de perigo, consegue ver o filme inteiro de sua vida passando até mesmo em câmera lenta? Bom, eu não vi nada porque foi tudo muito rápido. A não ser que minha vida fosse uma reles propaganda de comercial de 17 segundos ao invés de um filme bacana. Quando abri a boca para gritar, simplesmente ergui os braços contra meu rosto e me preparei para o impacto. Porque sabia que haveria um. Só não sabia o que seria de mim depois dele. *** O som de uma ambulância conseguiu despertar a alma vivente que gemia. A alma vivente era eu. E se era vivente ainda
significava que eu não estava morta. E se eu não estava morta, podia agora agonizar diante da dor que sentia em cada partícula do meu corpo. Não consegui abrir os olhos. Não faço a mínima ideia da razão. Minha boca estava obstruída com alguma coisa e tudo o que eu podia sentir era dor. Dor na potência máxima da palavra. Que raios havia acontecido comigo? Meus ouvidos conseguiram captar vozes distintas e nervosas, um choro compulsivo, que eu rezava para que não fosse eu, já que odiava chorar em público, e o som de bipes característicos de algo que eu não conseguia atinar.Então, de repente toda a cena veio à minha memória. Meu corpo agitou-se e senti uma mão tentando me conter. - Calma, garota. Tudo vai ficar bem... estamos levando você para o hospital, okay? - De quem era aquela voz tranquilizadora? - Rain... Rain... - A voz suave que choramingava continuava como um cântico nos meus ouvidos. Sunshine. Minha irmã Sunny. Era ela que chorava. Graças a Deus. Ao menos não era eu. Ou pelo menos gostei de afirmar para mim mesma que eu era durona. Porém, a vontade de chorar veio subitamente, por conta da dor
horrível que eu estava sentindo e por conta das lembranças. Eu tinha sido atingida pelo carro de Thomas. No estacionamento da escola. Lembrei que havia estranhado o comportamento e a velocidade com que o carro dele estava vindo em minha direção. Meu cérebro ainda tentava conjecturar o que ele fazia ali, já que deveria estar no treino. Depois disso, não me lembro de absolutamente mais nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rainbow
Teen FictionRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...