No caminho para casa, o silêncio imperou no carro. Meus pensamentos conflituosos, por si só, já faziam uma bagunça na minha cabeça. Storm estava calado, o que não era seu costume, então eu só poderia supor que a história da discussão na festa tinha influenciado seu humor taciturno. Sunny, por outro lado, estava exultante com sua nova conquista e não teimava em alardear no carro. Storm revirava os olhos com nojo. Ao que parece, ela havia se envolvido em uma conversa intensa com Mike, amigo de Thomas. Ambos estavam apenas nisso, até que, em um determinado momento da festa, sumiram rapidamente. Quando descemos do carro, Storm e Sunny travavam uma discussão infantil sobre isso. Graças a Deus, o dia seguinte era um sábado e não precisaria enfrentar o rescaldo da festa de Thomas na escola. - Pelo amor de Deus, Sunny - ele disse e tampou os ouvidos. - Eu não preciso ouvir como minha irmã gêmea simplesmente deixou um garoto enfiar a língua em sua garganta Comecei a rir. Sunny não tinha papas na língua e não maneirava em expor seus pensamentos. Ela era realmente uma alma livre. Livre até demais, se você me perguntar. Eu achava que nossa mãe - ainda tinha de dar uma sova nela e explicar direito certas coisas, antes que Sunny acabasse fazendo uma besteira com sua vida. Mas quem eu queria enganar? Minha mãe tinha sido a primeira a incentivar a libertação de toda a exuberância sexual de Sunshine. - Torm, você é um recalcado. Só porque não conseguiu ficar com Shirley, quer jogar água fria na minha cabeça e apagar o meu fogo - ela respondeu amuada.- Sunny, você tem que tomar cuidado para este fogo não se transformar num incêndio de proporções épicas e acabar saindo queimada - falei em um tom mais brando, porém firme. - Tostada - Storm completou. Sunny revirou os olhos e nos mostrou a língua. - Olhe quem está falando, a garota que passou boa parte da festa trancada no quarto de Thomas Reynard - ela zombou. Senti meu rosto esquentar. - O quê? - Storm gritou de onde estava. - Você também,Rain? Eu não posso acreditar nisso! Não você! Minha irmã supernerd e concentrada em tudo, menos nos garotos ao redor! - ele disse irritado. Dei-lhe um tapa na cabeça exatamente na mesma hora em que enfiava a chave na fechadura. Tranquei a porta, conferi as janelas e subimos cada um para nossos respectivos quartos. Depois de usar o banheiro e escovar os dentes, passando um tempo necessário para retirar a maquiagem dos meus olhos, pude enfim contemplar minha imagem no espelho e refletir sobre quem eu estava olhando.Aquela era a Rainbow com a qual eu estava acostumada. A calma e despretensiosa. Que fazia questão de não estar no radar de ninguém ou ser um empecilho para qualquer pessoa. Agora meus olhos brilhavam de modo um pouco diferente. Um sorriso cruzou meus lábios e toquei exatamente onde Thomas havia enchido de beijos escaldantes. Houve um momento em que cheguei a pensar, com o coração acelerado, que ele seria mais enfático em sua decisão de estar comigo. Ou em sua resolução de fazer questão de me conquistar.Thomas Reynard poderia conquistar qualquer garota que quisesse. Por que seus olhos se focaram em mim? Então, em um determinado momento de nossa conversa, cheguei a ver em seu olhar algo que nem mesmo eu saberia reconhecer. Mas percebi que ele agiu como qualquer garoto de sua idade. Admitiu que sentia desejo por mim. Isso era normal, certo? Todo aquele lance hormonal. Eu era bem inteligente e estudada para sacar isso. E entendia que meninos funcionavam de maneira distinta das garotas. Uma centelha de algo mais se acendeu em meu coração, porém.O que, nem eu mesma poderia apontar. Todas as emoções e sensações que Thomas estava despertando em mim eram muito novas. Eu era um turbilhão de pensamentos desconexos. Fui para o quarto e coloquei um pijama, me jogando na cama e abraçando meu travesseiro, fingindo, por um momento apenas, que era Thomas, e que nossos corpos estavam enlaçados como estiveram horas antes.
Thomas
Sempre que rolava festa pós-jogo na minha casa, eu obrigava a equipe a ajudar na arrumação da bagunça. Então,quando o último infeliz saiu da festa, carregando uma tralha de sujeira com ele, recolhi mais alguns copos espalhados e fui para a cozinha fazer um sanduíche. Estava pegando alguns ingredientes na geladeira, quando senti as mãos de Cybella no meu corpo. Meu reflexo foi pular longe de seu alcance imediatamente. - Porra, Cybella! Caralho! Você me assustou! - Eu estava puto. Odiava quando ela vinha ostentando aquele ar de celebridade, achando que todos ao seu redor deveriam beijar seus pés. - Nossa, Thomas... Você não costumava reagir assim às minhas mãos - ela ronronou, achando que era sexy. Cybella estava vestida com nada mais que uma camisola completamente transparente, que mais mostrava que cobria. Nem sei como ela poderia dizer que dormia protegida do frio com aquilo. Em outras ocasiões eu poderia dizer que era sexy pra caralho. - Acho ótimo quando você conjuga o verbo adequadamente, Cy - falei calmamente, e enquanto mastigava meu sanduíche captava a onda de ódio em seus olhos. - Aquela sua namoradinha, afinal... é ridícula. Sempre achei que fosse capaz de conseguir algo melhor, meu bem - Cybella disse e inclinou sua cabeça, abaixando uma alça de sua camisola indecente. - Suponho que era para ser sexy esta camisola da Victoria's Secret, certo? - cuspi com ironia. - Engraçado que em você fica simplesmente vulgar. Eu sabia que conquistaria a ira dela. E Cybella irada era uma força da natureza. - Isso não vai ficar assim, Thomas. Vou falar pra sua mãe como você e essa vadiazinha que chama de namorada me trataram - dizendo aquilo, Cybella virou-se dramaticamente e saiu da cozinha. Depois que terminei aquele sanduíche, que acabou descendo amargamente, subi para o quarto e me deitei na cama. Peguei e abracei o travesseiro, onde horas antes Rainbow esteve deitada. Eu ainda podia sentir o cheiro delicioso de seu perfume, ou do xampu. Eu nunca saberia diferenciar o que mais amava em seu cheiro único. Em um momento louco naquela noite, quase derramei meu coração para ela. Quase. Por apenas um fôlego. Mas eu sabia que Rainbow era uma garota completamente reclusa dentro de camadas que havia tecido dentro de si. Ela nem sequer enxergava a beleza que havia em seu íntimo. Era preciso que ela soltasse a armadura que forjou ao seu redor, e só então eu poderia dizer tudo o que ela me fazia sentir. Porque, porra... a garota fez um rombo no meu coração. De uma forma inimaginável. Daquela maneira que nunca sonhei que poderia acontecer comigo. Eu achava ridícula qualquer alusão a esta espécie de sentimento súbito anunciado nos quatro cantos do planeta: amor à primeira vista. Acabei provando em primeira mão. Cheguei a pensar se não poderia ser o desafio em si. Eu sei que poderia ter qualquer garota que quisesse. Muitas vinham para mim pelo meu status de jogador. Muitas vinham pela minha aparência. Cheguei a pensar que, como Rainbow não me deu a mínima inicialmente, aquilo tivesse aguçado meus instintos animais de predador, em que ela era a caça. Mas meu coração enlouquecia sempre que eu tinha a expectativa de vê-la. E no momento em que minhas mãos a tocavam, então, meu peito parecia que ia explodir. Quando a tive ali sob meu corpo, precisei buscar forças não sei de onde para combater os instintos de fazê-la minha. Eu não poderia assustá-la em hipótese alguma. Ou ela escorregaria das minhas mãos, tal qual uma peça de porcelana ensaboada. Poooorra. Rainbow Walker estava rastejando debaixo da minha pele. Eu esperava que em algum momento ela estivesse rastejando embaixo de mim. Um cara podia sonhar, certo?
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Rainbow
Teen FictionRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...