Esperar Thomas em sua casa foi algo extremamente embaraçoso. Eu não queria ficar em seu quarto, pois o nível de intimidade era muito para mim. Por mais que eu já tivesse estado ali, em seus braços, naquele momento abrasador onde definimos que o falso namoro se tornaria real, não queria correr o risco de ficar tentada a implorar por mais daquele sentimento de formigamento quando nossos corpos se tocavam. Acabei convencendo-o a subir sozinho, como um bom menino, e levar o tempo que precisasse para se arrumar. Pelo que ele havia me dito, provavelmente tomaria um banho de banheira, em uma imersão escaldante para "tratar" seus pobres músculos. Sacudi a cabeça porque eu não queria pensar em um Thomas muito nu em sua banheira... do jeito que veio ao mundo... Oh, minha nossa! Senti um calor esquentar meu rosto e percebi que estava corando sozinha, sentada na sala, apenas com o pensamento de algo indecente. Coloquei as mãos frias no rosto, na tentativa de refrescar o ardor. Comecei a rir quando a porta de entrada da casa se abriu. Fiquei constrangida imediatamente, já que os pais de Thomas entravam naquele momento. Graças a Deus eles não podiam ler mentes. Ou ficariam chocados com a minha. O choque foi de ambos os lados. Vi quando os olhos de seus pais se arregalaram e eu pude sentir que os meus também estavam enormes. - Boa noite. - Quis ser educada e os cumprimentei antes. - Olá, querida. - A mãe de Thomas veio em minha direção como se já me conhecesse. - Stuart, esta garota adorável aqui é a namoradinha de Thomas - ela disse eufórica, mas não passou despercebido por mim, que o "namoradinha" ganhava uma conotação um tanto quanto sarcástica, como se não fosse nada sério. Levantei rapidamente do sofá e estendi a mão para o cumprimento do homem elegante que era a versão mais velha de Thomas. - Muito prazer, senhor Reynard. - Senti um alívio imediato quando ele sorriu de volta. - O prazer é todo nosso, querida - ele disse e olhou ao redor em busca, muito provavelmente, de seu filho. - Onde está o Thomas? Ele não tinha um jogo hoje à noite? - Ãh, sim. Ele está tomando banho para irmos à festa de comemoração - falei rapidamente. - Será na casa do treinador. - Não sei por qual razão senti a necessidade de completar com aquele pequeno pedaço de informação. Talvez para que eles não tivessem uma ideia errada. A mãe de Thomas me observava atentamente. Comecei a ficar extremamente nervosa com todo aquele escrutínio. - Por que ele não tomou banho no vestiário do estádio? - a mãe perguntou. Ótima pergunta, Sra. Reynard, pensei. - Não sei, Sra. Reynard. - Oh, deixemos de formalidades, querida - ela disse calorosamente. - Pode me chamar de Alyce. Apenas Alyce e Stuart. Assim nos sentimos joviais e tudo mais. Acabei rindo e senti que poderia até mesmo tentar quebrar o protocolo. Só não soube o que fazer quando a Sra. Reynard, digo Alyce, simplesmente me abraçou.Assim... do nada. Sem mais nem menos. Eu não era uma pessoa muito de abraços e toques repentinos. Normalmente, quando as pessoas se aproximavam muito, eu me afastava. Era minha natureza e eu sabia que Thomas vinha tentando mudar aquilo de maneira gradual. Sempre que ele podia, sua mão repousava sobre meu ombro, ou os dedos acariciavam meu rosto, ou brincavam com os meus. Thomas vinha derrubando várias barreiras que criei à minha volta. Onde antes eu não sentia nada, agora ficava um eterno formigar, uma vontade engraçada de tocá-lo tanto quanto ele fazia comigo. Para mim, era um grande avanço o fato de me permitir ser tocada a todo momento ou abraçada sem razão alguma. - Você é uma gracinha, querida - a mãe de Thomas disse enquanto ainda me mantinha entre seus braços. - Fico tão feliz em ver meu Tommy feliz! Uau! Aquele era um momento catártico e constrangedor ao mesmo tempo. Catártico porque pude perceber que não... meu rosto não podia cair de vergonha ou explodir em vermelhidão. E constrangedor porque, exatamente naquele momento, Thomas descia as escadas e sorria para a cena estranha. - Mãe, sabia que Rainbow não curte muito esse lance de abraços e afagos? - o descarado disse e senti uma vontade imensa de matá-lo a sangue frio. Sim. Com requintes de crueldade. Não havia probabilidade de meu rosto esquentar mais do que já estava. A sensação térmica era a mesma que um vulcão em erupção. Meus braços ainda pendiam soltos ao lado do corpo. Eu ia morrer. - Aww... bom, você vai ter que aprender a conviver com isso, querida. Thomas puxou à nossa família nesse quesito. Já deve ter notado que ele é um típico agarrador, não é? - Ela piscou desavergonhadamente para mim. Eu pensava que a coisa não podia piorar. Podia, sim. E muito. Thomas simplesmente se aproximou e abraçou nós duas, em uma espécie de abraço coletivo. E claro, o idiota sem noção ainda fez por merecer o direito de apanhar de mim naquela noite. Mais tarde. Sem plateia. - Pai! Venha aqui! Estamos em um momento de muita emoção! - ele disse sem conseguir conter as risadas enquanto olhava para mim. Deus! Por favor, me leve desta Terra. O pai de Thomas abraçou o pacote apertado de braços ao meu redor. Se um buraco se abrisse naquele momento, seria a glória, porque minha vingança estaria completa, já que todos cairiam juntos. Acabei me rendendo ao momento e deixei escapar uma espécie de soluço. Opa. Não. Era uma risada mesmo. - Nestas horas devia haver outra pessoa na sala para registrar este momento lindo e bater uma foto - a mãe de Thomas disse simplesmente. - Não, mãe. A pessoa iria se juntar a este abraço caloroso fazendo com que Rainbow adquirisse todas as cores do arco-íris... literalmente - Thomas disse e beijou a ponta do meu nariz. Oh, meu Deus! Na frente dos seus pais! Quando o abraço foi desfeito, senti meus braços meio dormentes. Nem sequer consegui erguê-los para afastar o cretino de mim. Thomas me abraçou e escondeu o rosto no vão do meu pescoço. Eu podia sentir as vibrações de sua risada descarada.- Eu ainda vou matar você - sussurrei. Seu riso aumentou e acabei sentindo arrepios quando ele beijou logo abaixo da minha orelha. - Meu Deus, Rain... - Ele olhou diretamente para mim. - Este momento deveria ficar eternizado. Foi impagável! Graças a Deus os pais dele já haviam ido para a cozinha e não puderam acompanhar o idiota fazendo chacota do meu sofrimento. - Mãe! Estamos saindo! A mãe dele apareceu no vão da sala e disse: - Vão com Deus e apareça sempre que quiser, querida. -Alyce acenou, despedindo-se. Thomas saiu de casa puxando minha mão. Eu estava anestesiada ainda. Nem sequer me dei conta de que ele assumiu o volante do meu carro. Quando estávamos a duas quadras do local da festa, ele disse: - Estou preocupado. Até agora você não falou nada. Olhei para ele com os olhos entrecerrados e lançando faíscas. - Estou sem fala. Tentando amortizar o impacto daquele momento na sala - admiti.Thomas começou a rir novamente, mas eu precisava ser honesta. Milagrosamente, não sentia raiva alguma. Senti vergonha, claro. Mas não a raiva que eu poderia esperar por ter sido obrigada a enfrentar um momento tabu para mim. - Prefere não falar do assunto? - Ele era esperto e sabia como conduzir meu humor. Eu precisava lhe dar o crédito. - Thomas - falei seriamente. - Obrigada. Porra! Até eu me espantei! Ele arregalou os olhos, completamente chocado.- Oh, meu Deus... quem é você e o que fez com minha namorada? - ele perguntou e praticamente sacudiu minha cabeça. Começamos a rir dentro do carro. Nem eu sabia quem era naquele momento. Só sei que estava gostando cada vez mais daquela minha nova versão. Thomas Não há palavras suficientes para descrever o sentimento que tive quando desci as escadas e dei de cara com a cena toda. Minha mãe, abraçada à minha Rainbow. Seus olhos estavam completamente abertos em puro choque e terror diante daquele arroubo.Eu sabia que Rain era meio avessa a muitos toques. Meio, não. Completamente avessa. Não havia um trauma evidente, ou algo assim, mas ela simplesmente não curtia muito contato físico. Mas como eu era um cara insistente, ao longo do tempo em que estivemos juntos, seja na escola, ou em qualquer outro lugar, sempre fazia questão de colocar as mãos sobre ela. Pequenos toques sutis. E acabei esquecendo de avisar que minha necessidade de contato físico foi algo herdado da família. Ali não tínhamos pudores ou vergonha em demonstrar carinho e atenção.Meus pais abraçavam-se o tempo inteiro e repartiam abraços a todo instante. Talvez fosse todo aquele excesso de amor derramado que os fazia tão condescendentes com as birras e acessos de Cybella. Acabei correndo o risco de irritar totalmente minha garota quando participei do abraço coletivo, embora imaginasse que em sua família hiponga aquela fosse uma prática comum. Rainbow me surpreendeu mais uma vez. Quando, mesmo envergonhada, ainda assim, manteve seus sentimentos sob controle e lidou bem com a situação. Como eu disse... Rainbow Walker era um vulcão adormecido. Não é que ela fosse fria de sentimentos. O problema é que ela sentia tantos, e alguns eram tão confiantes que muitos se misturavam e subiam à tona no momento errado.Quando ela precisava controlar o temperamento, ela explodia, quando precisava dar vazão, ela se retraía. O que minha garota precisava aprender era encontrar o equilíbrio no meio de toda aquela bagunça sentimental. E agora era o momento em que eu me sentia o Dr. Phil, ou podia jurar que a filosofia zen dos pais dela estava me pegando como um vírus insidioso.
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Rainbow
Teen FictionRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...