Capítulo 19

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- Sério, Sunny? - Olhei incerta para meu reflexo no espelho grande que mostrava meu corpo inteiro. - Eu não estou nem um pouco a fim de me parecer com uma... uma... - Garota gostosa? - ela emendou e continuou arrumando meu rabo de cavalo. Não sei o que ela estava fazendo, mas afirmava que era para deixar o penteado um pouco mais arrojado. - Tipo isso. - Bem, querida irmã... você é uma garota gostosa. O único problema é que sempre foi muito tapada para enxergar esse potencial todo que Deus lhe deu. - Ela puxou mais algumas mechas. - Fomos agraciadas com os bons genes de mamãe... Por que não usá-los? - Por que isso parece frívolo pra caralho? - Minha pergunta era retórica. Claro que ela entendeu e deu um puxão mais forte em meus cabelos. - Ai! - Olha... eu fiz questão de fazer você se vestir de uma maneira casual, porém despojada e no estilo "sou gostosa e não faço ideia"... - a louca disse. - E você realmente faz jus ao jargão.Olhei meu reflexo e o que via me assustava tanto quanto me deixava envaidecida. Aquela era realmente eu? Eu tinha plena noção de que me escondia por baixo de roupas insossas no intuito de não ser notada de maneira alguma. Eu preferia ser uma pessoa que passasse totalmente despercebida em um ambiente escolar. Ou qualquer outro. O engraçado é que me esconder por baixo de tecidos e roupas não significava única e exclusivamente que os mesmos fossem feios ou disformes. A atitude da pessoa que vestia determinada roupa é que denotava todo o conjunto.Então, uma pessoa extremamente confiante e que gostasse de se relacionar com pessoas, poderia estar usando um jeans qualquer e uma blusa sem muitos detalhes, mas ainda assim parecer completamente estonteante. As roupas simples não a faziam simples. A atitude dela em relação a si mesma é que comandava o show. Dessa forma, lá estava eu, me olhando, vestida em meus casuais jeans surrados, porém um pouco mais apertados que o normal. É claro que aqueles jeans pertenciam a Sunny, ou então foram meus em um século passado. Talvez.Uma simples blusa preta, meio caída em um ombro, completava o visual. Eu usava os mesmos tênis que amava. Converses pretos e surrados. Mas o que me tornava tão diferente do que eu estava acostumada a ver todos os dias? Sunny colocara um colar prateado bacana que sobressaía sobre a blusa preta sem estampas, e um par de brincos simples, porém eficazes. Como meus cabelos estavam presos, os brincos acabaram realmente fazendo uma aparição interessante. Girei a cabeça e me encantei com a forma como Sunny havia amarrado minha juba. O castanho que eu enxergava sem graça e sem atrativo algum agora brilhava e parecia hipermacio e sedoso. Em vez de um rabo de cavalo simples e com os fios indomáveis, eles agora ostentavam umas ondas lindas que deram todo um charme ao penteado. Como não era uma festa, Sunny permitiu que meu rosto ficasse isento de produtos químicos, embora ela tenha me obrigado a passar um batom um pouco mais vivo. E, obviamente, não poderia deixar de borrifar atrás das orelhas o perfume que eu mantinha encostado na penteadeira. Embora eu quase nunca o usasse, também não deixava que ela passasse a mão.Minha alegação era que cada uma de nós deveria ter seu próprio cheiro. Por exemplo, se eu usasse aquele determinado perfume para um caso hipotético de fazer meu namorado recordar-se sempre de mim, à medida que eu emprestasse "minha essência" para ela, meu namorado sentiria meu cheiro em outra garota. Esse pensamento era desconcertante e irritante ao mesmo tempo. Passei as mãos suadas pela lateral da calça jeans, sentindo que todas as minhas curvas ficavam realmente muito evidentes. - Essa calça está... - Sensacional. - Sunny cortou meu pensamento. - Você está casual e sexy. Exatamente do que precisa para marcar seu território. Olhei desconfiada para minha irmã. Como ela poderia ser tão antenada nesses assuntos? Onde essa garota aprendia esse tipo de manejos e traquejos? - Você vai ao jogo? - perguntei na expectativa de não me sentir sozinha. - Claro. Mas vou depois de você, obviamente - ela disse rapidamente. - Tayllie vem me buscar. Eu não perderia esse jogo por nada neste mundo. Dando um beijo estalado na minha bochecha, Sunny apontou o relógio que ficava na cabeceira da minha cama. - Já está na hora, queridinha. - Ela riu. - Não que você esteja indo para um baile, e eu seja uma fada madrinha envergada e tal... mas é hora de você zarpar. Respirei profundamente. - Ah... - ela disse e parei no caminho da porta. - Não existe essa regra de feitiço quebrando às badaladas da meia-noite, okay? - ela disse e piscou um olho de forma maliciosa. - O jogo pode prosseguir para o segundo tempo...Saí revirando os olhos. Sério. Minha irmã mais nova parecia regida por hormônios enlouquecidos. Em termos de conhecimento, parecia que ela estava a anos-luz da minha parca experiência. Eu podia apostar que era culpa das inúmeras revistas de entretenimento nas quais era viciada. Entrei no carro e conferi se meu celular estava carregado e se as chaves estavam certas. Uma mania meio TOC, já que eu sabia que as chaves estavam todas ali. Ou quem eu gostaria de enganar? Eu estava protelando. Seguir para o estádio estava carcomendo minhas entranhas, tamanha a ansiedade. Cheguei ao estacionamento e procurei pelo carro de Thomas, mas não o avistei em lugar nenhum. Escolhi um lugar qualquer e desci do carro. Passei as mãos novamente pelos meus quadris, tentando garantir que eles estavam discretos e não muito evidentes, embora agora fosse tarde para qualquer percepção de que realmente estavam chamando atenção. Enquanto andava em direção à arquibancada que Thomas havia me indicado, fiquei pasma porque minhas entranhas, tamanha a ansiedade. Cheguei ao estacionamento e procurei pelo carro de Thomas, mas não o avistei em lugar nenhum. Escolhi um lugar qualquer e desci do carro. Passei as mãos novamente pelos meus quadris, tentando garantir que eles estavam discretos e não muito evidentes, embora agora fosse tarde para qualquer percepção de que realmente estavam chamando atenção. Enquanto andava em direção à arquibancada que Thomas havia me indicado, fiquei pasma porque minhas entranhas, tamanha a ansiedade. Cheguei ao estacionamento e procurei pelo carro de Thomas, mas não o avistei em lugar nenhum. Escolhi um lugar qualquer e desci do carro. Passei as mãos novamente pelos meus quadris, tentando garantir que eles estavam discretos e não muito evidentes, embora agora fosse tarde para qualquer percepção de que realmente estavam chamando atenção. Enquanto andava em direção à arquibancada que Thomas havia me indicado, fiquei pasma porque escutei assovios masculinos vindos de um lugar desconhecido. Contive meu nervosismo de procurar pelos atrevidos e segui firme. Avistei Thomas recostado à parede, com os braços cruzados e olhando para o campo. Como se sentisse minha presença, ele aprumou o corpo e olhou diretamente para mim. Seus olhos passaram de arregalados para semicerrados em uma fração de segundos. Um sorriso sorrateiro deslizou por seus lábios. - Uau! - Ele me puxou para um abraço e afundou o rosto na curva do meu pescoço. - Quando eu disse para você se arrumar para o jogo, não contava que iria querer arrasar meu coração dessa forma. Meu rosto ficou quente. Eu ainda não havia me acostumado com a mania de Thomas e seus elogios galantes. - Obrigada - falei simplesmente. - Sunny me obrigou a vir bem vestida. Quase me bati ao revelar aquilo. Eu deveria parecer confiante o suficiente para ter tomado a decisão sozinha, certo? - Sunny merece um prêmio, mas ao mesmo tempo, merece uma reprimenda.Ergui as sobrancelhas indagativamente. - Por quê? - Porque você parece cada vez mais estonteante quando eu te vejo - ele disse e me beijou suavemente. Foi apenas um leve toque de lábios. Nada muito devastador. Era como se ele apenas estivesse absorvendo o gosto. O que ele acabaria conseguindo, já que o batom tinha sabor morango. - Que delícia... - Ele lambeu os lábios. - Porra... como vou jogar agora? Uma onda súbita de nervosismo acometeu meus pensamentos. Droga! Eu não queria estragar nada para ele! - Rain... seus olhos são tão reveladores... - ele disse e me abraçou fortemente. -Eu não quis dizer que você vai me atrapalhar no jogo... Só quis dizer que vou traçar estratégias para chegarmos aos touchdowns o mais rápido possível, dessa forma, com a vitória garantida, talvez o jogo acabe rápido e possa correr de volta pra você. Suspirei aliviada e enlacei seu corpo, abraçando-o demoradamente. - Estarei te esperando. - Assim espero. Quando ele disse aquilo, o corredor foi repentinamente tomado pelos outros garotos que compunham o time. Muitos passaram e espiaram em nossa direção. Acredito que ouvi cochichos chocados. - Vou colocar você sentadinha num lugar onde eu te veja sempre que quiser - ele disse e segurou minha mão, me puxando em direção às cadeiras numeradas bem à frente. Eu conseguia praticamente segurar o alambrado que separava a arquibancada da lateral do campo. - Aqui - falou e fez com que me sentasse. Como se eu fosse uma garota pequena. Odiaria aquilo se não tivesse parecido tão terno e fofo. - Não fale com estranhos.Thomas me beijou longamente e piscou o olhou. Saiu sorrindo em direção aos vestiários, enquanto eu segurava meu coração para que não saltasse do peito. Eu podia ouvir as pessoas ao meu redor acomodando-se em seus devidos lugares. Pouco mais de vinte minutos se passaram e Sunny sentou-se ao meu lado. Tayllie ficou do outro lado. Ambas com copos gigantes de refrigerantes e pacotes de pipoca. O jogo nem sequer havia começado e eu já queria devorar toda a pipoca para controlar minha ansiedade crescente. - Relaxe, Rain. - Sunny bateu seu ombro no meu. - Lá vêm eles. Eu não estava preparada para o espetáculo que um jogo podia ser. Olhei para trás e quase levei um susto, já que eu, em minha ignorância, não havia me atentado para o tamanho do estádio. Pelo menos umas dez mil pessoas deviam estar ali presentes. Meu coração quase saltou do peito enquanto Sunny batia palmas! - Adoro essa parte! Olha, Rain! É superemocionante! Olhei para a porta que dava acesso aos vestiários e um grupo de garotos se amontoava ali, com uma faixa azul gigante contendo a debandada. Quando a torcida veio à loucura gritando o nome da escola, senti a energia vibrante do lugar. As líderes de torcida da nossa escola correram pelo campo e fizeram suas piruetas mirabolantes, recebendo assovios e aplausos pelas performances. Contive uma onda sutil de inveja por não ser tão descolada quanto aquelas garotas, que pareciam tão bem resolvidas diante de um público imenso como aquele. Do outro lado do campo, o time adversário, The Gators, se alinhava às margens.Quando ouvimos um estouro, olhei para a concentração onde nossos jogadores estavam. Eles arrebentaram a faixa e correram em direção ao campo, saudando a torcida que havia comparecido ao jogo. Eu tentava descobrir onde Thomas estava e podia assumir meu fracasso total ao perceber que nem sequer perguntara a ele, antes, qual o número da camisa que vestia. - Lá vem ele! - Sunny gritou. - E logo atrás vem o objeto dos meus desmaios! Me segura, Tayllie!!! A excitação de Sunshine passou totalmente para mim quando consegui distinguir Thomas no meio dos jogadores. Ele olhou para onde estávamos sentadas e ergueu o capacete em um cumprimento, com um sorriso que poderia fazer com que eu desmaiasse ali mesmo. Abaixo de seus olhos ele tinha uma faixa preta pintada e, quando por fim virou de costas, pude guardar na memória o que sempre assombraria meus sonhos mais loucos: número 18, estampado logo abaixo de REYNARD. O uniforme era um show à parte. Com as calças brancas completamente justas, engoli em seco, tentando desviar o foco do traseiro bem delineado do meu namorado. Olhei para o lado e Sunny fingia um desmaio, com Tayllie rindo aos cântaros e abanando seu rosto. A camisa, ou mais precisamente Jersey, como eles a chamavam, era azul com letras brancas. O mascote da escola destacava-se no centro do peito dos jogadores. Um urso era o símbolo. Quando o locutor começou a anunciar, alertando os jogadores a se alinharem e tomarem posição para a execução do hino nacional, meu coração acelerou porque ali entendi a seriedade com que muitos viam aquele esporte. Thomas falava do futebol com uma paixão viciante. Agora eu podia entender. E para os desavisados como eu, os jogos interescolares eram levados tão a sério quanto os jogos universitários e os da própria liga profissional. Na verdade, os jogadores de Ensino Médio eram visados pelas universidades de todo o país, procurados por olheiros que se espalhavam pelo lugar. E, embora aquele não fosse um jogo de final, o show funcionava como uma preliminar para o que viria mais à frente. Os times tomaram suas posições, com linhas ofensivas e defensivas, e eu tinha de confessar... não entendia absolutamente nada da dinâmica do jogo. Só sabia que eles tinham de fazer de tudo para chegarem à linha final do campo adversário. Jardas, posições, regras... eu não sabia nada. E nem poderia atestar que algum dia fosse ser uma fiel conhecedora de tudo aquilo, mas por Thomas eu me esforçaria para compreender um pouco mais do esporte que ele levava no coração. Quando o apito soou anunciando o início do jogo, meus olhos se focaram exclusivamente para onde o número 18 se movimentava. Eu o rastreava como uma águia, torcendo por ele, sofrendo por ele e completamente chocada com a brutalidade do jogo em si. Parecia uma arena. Mas lá dentro do campo, Thomas Reynard reinava como um verdadeiro gladiador.

Thomas

Porra! Pense em um jogo espetacular e cheio de adrenalina do começo ao fim! Agora pense em um jogador que jogou anestesiado e em piloto automático, apenas esperando que os tempos se encerrassem logo, para que pudesse correr diretamente para os braços de uma garota ainda mais espetacular que o esperava na arquibancada A. Esse cara era eu. Thomas definitivamente apaixonado Reynard. Quando o jogo acabou, me esquivei rapidamente dos cumprimentos do resto da equipe, trocando apenas umas palavras com Mike, e corri diretamente para o vestiário. Eu queria retirar logo meu uniforme imundo e, se possível, tomar um banho. Mas... honestamente? Quando passei por Rainbow e a avisei para me aguardar ali mesmo onde estava sentada, simplesmente apaguei qualquer ideia que fizesse com que eu me demorasse mais do que o necessário. Retirei apenas as ombreiras e as joguei no banco, peguei minhas coisas no armário e saí do jeito que estava. Foda-se. O banho ficaria para depois. Eu queria era chegar na minha garota. Meu vício e necessidade por ela eram maiores do que a ânsia por um gole de Gatorade depois de um treino ou jogo intenso. E isso era tremendamente assustador.

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