Com minha fuga intempestiva da escola, veio uma enxurrada de mensagens em meu celular logo depois. Sunshine queria saber para onde eu tinha ido. Becca queria saber se eu estava bem, e ainda queria o resto das fofocas. Thomas estava à minha procura. Quando cheguei em casa, apenas tive ânimo de tomar um banho e me livrar da roupa melecada de suco, colocar tudo na lavanderia, antes que meus irmãos chegassem e perguntassem sobre aquilo, além de ter tempo para fazer o dever escolar, que eu já havia perdido muito das últimas aulas. Ajeitei a comida e ainda deixei algo preparado para Sunny e Storm.Queria me enfiar no quarto e ficar por lá. Por favor, alguém me dê o desconto. Estava tentando sair da minha concha pessoal e emocional, mas toda garota que se preze precisa do espaço de seu quarto como uma espécie de santuário sagrado para momentos de TPM pura ou um momento deprê. Embora nem assim eu estaria ligando meu iPod, para não correr o risco de me direcionar a músicas melosas que poderiam me levar a um rio de lágrimas.Mais uma mensagem de Thomas chegou. Onde você se enfiou? Estou com muita cólica. Desculpe.:/ Um momento de silêncio se passou e mais uma mensagem. Posso ir aí? Pensei seriamente no que responder. Desculpa, Thomas. Eu realmente não estou me sentindo bem. Pronto. Foi isso. Eu esperava que ele não insistisse. Homens deveriam entender quando as mulheres estavam em vias de fato, mergulhadas em dores horrendas, onde a impressão era a de que seus úteros estavam sendo palco de obras com trabalhadores brutais com picaretas sangrentas. É claro que eu estava mentindo e não estava com cólica alguma. Graças a Deus. Porque, se estivesse, a dimensão daquele meu drama seria muito pior. Mesmo sem querer fazer, sabendo que o que eu faria era feio e errado e muito, muito imaturo, entrei no google e vasculhei a vida da vaca Cybella. E puta que pariu! Eram muitas as fotos dela e Thomas juntos. Percebi que talvez de dois anos antes, sei lá. Talvez quando ela não tivesse sido tão louca ou surtada. Eles realmente faziam um casal lindo, digno de filme, seriado teen e essas porras todas. Meu ego frágil tomou um baque homérico e apenas joguei meu celular longe. Deixei que as primeiras lágrimas caíssem e simplesmente apaguei. Nem sequer dei atenção para o horário que Sunny ou Storm possam ter chegado. Tão lindo foi meu nível de irmã eficaz e cuidadosa... Penso que Sunny pode ter colocado um cobertor sobre mim no meio da noite, mas essa é uma dúvida que terei de tirar depois.
Thomas
Olhei para o celular e fiquei intrigado e ressabiado com sua resposta.Desculpa, Thomas. Eu realmente não estou me sentindo bem. Mike havia me passado o que acontecera no refeitório, porque sua irmã presenciara tudo. Pelo que se soube da rádio-corredor, Rainbow fora para a sala do diretor Jackson e ficara um bom tempo lá. Jason levou uma suspensão de dois dias e mais três jogos no banco. Dali era uma incógnita. Rainbow não voltara para a sala. Eu estava me sentindo um merda porque, com a porra toda da Cybella, passei o domingo e a segunda inteira, praticamente, resolvendo as coisas e recuperando o que ela destruiu. Cadernos, material,tudo. Nessa leva, comprei um pen-drive e resolvi colocar algumas músicas escolhidas para Rainbow, e porra, eu estava piegas e ali, instalando a porra do One Direction. Até que esses merdas tinham letras que falavam o que eu queria que minha garota entendesse. Cheguei ao fundo do poço quando instalei The Vamps e outra boy band ridícula, mas eu sabia que ela gostava. Claro que, para equilibrar um pouco, também coloquei algumas músicas que fossem minha marca registrada. Músicas que eu queria que ela sempre associasse a mim. Inclusive a música sexy pra caralho que dançamos na festa do treinador Murray. Passei a mão pelo centro do meu peito, porque sabia que uma angústia estava querendo se acomodar ali. Porque um sentimento perturbador de que Rainbow poderia se fechar de novo, e me deixar de fora, ardia e estava quase me deixando louco. Cara, eu estava orgulhoso pra caralho do que ela havia feito no refeitório. Ela simplesmente não se calou. Foi lá e falou o que precisava ser falado e colocou aquele merda no lugar que merecia. Eu só não esperava que Rainbow realmente fosse se trancafiar e deixar tudo o que estávamos vivendo pra fora.
Rainbow
Nos três dias seguintes, ao longo daquela semana, consegui fugir de Thomas de maneira sorrateira. Eu não saberia explicar a razão da minha fuga alucinada, mas não conseguia confrontá-lo. Ou olhar para ele e perceber que realmente seu lugar não era ao meu lado. Realmente aquela vaca loira conseguiu quebrar a pequena fagulha de autoconfiança que eu havia erguido tão bravamente. Sunny e Storm estavam preocupados porque eu andava mais calada do que o normal. Uau.Era como se eu tivesse voltado à estaca zero, tipo, colocaram o chip da velha Rainbow de volta. Quando estávamos na cozinha, eles tentavam conversar, mas o máximo que eu fazia era murmurar um hummmm. Apenas isso. Eu tinha um hábito ruim. Quanto mais calada ficava, mais meu humor se degringolava. A solidão era uma merda. Eu seria a típica ermitã emburrada. Becca tentava conversar comigo, mas apenas de olhar para mim ela já sabia. Nas aulas que eu compartilhava com Thomas, dava um jeito de não comparecer. De maneira muito covarde, simplesmente me enfiava no banheiro e ficava lá até o sinal bater. E meu celular esteve desligado durante todo esse tempo. Era quase uma cura para um viciado cibernético. Dica boa: passe por uma crise existencial e tente se isolar do mundo. Dessa forma você conseguirá se libertar das amarras do mundo virtual e do cativeiro que um celular pode fazer em sua vida. E, se me perguntar por que eu precisava desse tempo, eu mesma nem saberia responder. Só sei que eu estava no limbo dos sentimentos. Sabe a sensação do entorpecimento? Era a sensação que eu tinha. Na verdade, tinha a sensação esgotante de estar por baixo da superfície da água, abaixo de uma onda, tentando subir, mas sem nunca conseguir. E aquele mantra do caralho, "continue a nadar", não estava servindo de nada para mim nesse momento. Eu queria respirar. Ao final do terceiro dia, tal qual uma profecia muito doida e surreal, eu estava escondida no banheiro, quando a horda de meninas do mal entrou. - Meu Deus, então é verdade que você conseguiu que os dois não ficassem mais juntos? E a Cybella vai te dar uma passagem para Manhattan? - uma vaca qualquer falou. - Siiim! Não é maravilhoso? Eu amo aquela mulher. Sério! Achei que ela não cumpriria o prometido, mas tcharam! Ela disse que vem neste fim de semana e que me leva de volta com ela para passar um sábado inteiro fazendo compras na Victoria's Secret!!! O grito das gralhas quase fez meus tímpanos explodirem, mas resisti bravamente. - Os dois não estão juntos. Disso tenho certeza. Aquela songamonga finalmente caiu na real e percebeu que não vale nada.Porra. Ouvir aquilo doía. Mesmo que eu soubesse que não era verdade. - Bicha burra. Deixou o caminho livre, do jeito que Cybella precisa. Com o som das torneiras sendo fechadas, eu apenas esperei para poder fazer minha fuga alucinada dali. Meu Deus! Minha vida havia se transformado em um caos ambulante. Era um High School Musical do caralho. Espera. Monster High do caralho. Nossa. Qualquer coisa High School do caralho. Quando eu poderia imaginar que,a partir do momento que resolvi abrir o compartimento de "sentir" as coisas, eu também estaria abrindo minha mente para aquela enxurrada de dramas e mais dramas acompanhados? Eu achava que a minha vida era um pouco mais fácil antes. Eu. A solidão. O silêncio e meus pensamentos. Claro que era um pouco frio e inóspito, às vezes, mas enfim... pelo menos estava mais bem protegida dessa torrente de vibrações malignas do caralho. Pensei naquele momento que minha boca precisava mesmo de uma lavagem com sabão líquido. Para fazer bastante espuma. Porque uma coisa eu digo:pessoas ruins nascem e frequentam a escola. Eu já disse isso? E elas começam a alastrar suas maldades e deixar os traumas desde cedo. Estendem suas garras maldosas ainda nos corredores escolares, às vezes com um simples giz de cera na mão. É uma imagem aterradora, mas real. Saí do banheiro, passei voada pela porta da sala na qual seria minha próxima aula. Estava comprovado agora que, uma vez que você mata aula, fica muito mais fácil repetir esse comportamento e torná-lo padrão. Ignorei o chamado pelo meu nome e voei, se é que isso era possível, pelo corredor afora.
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Rainbow
Fiksi RemajaRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...