Senti uma mão percorrer meus cabelos e um beijo suave nos lábios. Também percebi que as pessoas sussurravam ao redor. Mas por quê? Lembrei. A briga. Abri os olhos e dei de cara com o olhar preocupado no rosto lindo do meu namorado. Aquele que amo tanto que chega a doer. Mordi a língua para evitar que falasse alguma besteira relativa àquela descoberta recente e gemi de dor, já que acabei pressionando os dentes no mesmo local onde havia mordido.- Rain! Fale comigo! - Era a voz de Storm e eu podia dizer que ele estava desesperado. - Estou tentando... - falei engrolado. Minha língua devia estar inchada mesmo. - Mordi a língua... acho... Storm fazia jus ao nome que mamãe colocara nele. Ele andava furiosamente pela sala. Olhei ao redor e não reconheci o lugar. Meus olhos devem ter mostrado a pergunta que nem sequer cheguei a fazer, porque em seguida Thomas respondeu. - Estamos no escritório do técnico Murray.Fazia sentido, já que estávamos na festa na casa dele. Uma mulher de meia-idade, que supus ser a esposa do treinador, entrou naquele momento com uma vasilha nas mãos. - Olhe aqui, meu bem. Mais gelo - ela disse e olhou penalizada para onde eu estava deitada. Meu Deus. Seu olhar era tão chocado, que agora eu estava com medo de me olhar no espelho. Tentei me levantar do sofá, mas meu corpo doeu em lugares vitais. Parecia que eu tinha me envolvido em uma luta livre. Ah, sim. Foi quase isso.- Puxa... eu virei um sanduíche de socos e pontapés, né? - tentei brincar. Storm olhou para mim com tanto desespero que cheguei a ter vontade de pegá-lo no colo para confortá-lo. A porta se abriu e Sunny entrou parecendo uma valquíria desgovernada. - Onde está aquele imbecil? Vou descer a mão na cara dele! - ela gritou. - Fique na fila - Storm falou. - Okay. Alguém poderia me contar o que aconteceu a partir do momento em que apaguei? Thomas acariciou meus cabelos e me ajudou a sentar calmamente no sofá. Ele ficou com o corpo atrás do meu, me dando suporte. - Acho que acertei um soco em você, Rain - Storm assumiu pesaroso. - Não dá pra atestar isso do meu ponto de vista. - Tentei amenizar a culpa que via em seus olhos. - Os socos voavam e eu estava com medo de ele acertar você! - Você nem devia ter sido envolvida nessa merda, Rain! - Thomas falou nervoso. Sunny pegou um gelo e me ofereceu para que o colocasse na boca. Agradeci com um sorriso. Minha língua estava doendo pra burro. - Quando arranquei o idiota de cima da minha irmã, não podia imaginar que ele estava grudado como um polvo e não soltaria, porra. - Storm falou chateado. - Okay... sshhhh... - Tentei chupar o gelo silenciosamente, mas era complexo. - Ssshhhh... - Você está mandando alguém calar a boca? - Sunny perguntou. - Não. Estou tentando não morrer engasgada com esse gelo - falei simplesmente.Todos os olhares viraram para mim como se eu fosse louca. - Ãhhh... você sabe que o gelo derrete, certo? - Sunny resolveu fazer piada naquele instante. - Diga isso para aquela pedra com que você ficou entalada quando era mais nova e chegou a ficar roxa. Foi preciso um soco violento nas suas costas e um aperto de morte para que você a cuspisse... - falei. - Que eu saiba, você ficou proibida de chupar gelo por um bom tempo. Sunny teve a delicadeza de corar. - Oh... é mesmo.
- Okay. Voltemos. - Quando percebi que tinha sido atingida, consegui tirar seu irmão de cima de você e, antes de te afastar dali, ainda pude dar um soco na cara do Jason - Thomas falou como se fosse a coisa mais simples do mundo. - Foi um belo soco, por sinal - Storm elogiou. Thomas nem sequer deu bola. Ele olhava diretamente para mim e para o local onde eu mantinha o saco de gelo. - O que foi? Está tão horrível assim? - perguntei.- Não. - Ainda bem que não foi no olho, mana - Sunny disse. - Você ia ficar com um hematoma do tamanho do buraco da camada de ozônio. Ri da minha irmãzinha, porque somente ela conseguia extrair pérolas de sabedoria durante um momento tenso. O treinador Murray escolheu aquele momento para entrar no escritório e em seus olhos nós podíamos ver a desaprovação. - Jason será punido pelos atos de hoje e você, Thomas, ficará suspenso por dois treinos. - Ele olhou para Storm. - Você só não ficará de fora da equipe porque sei que agiu em defesa da sua irmã, já que outros alunos relataram o ocorrido. Mas espero que esse comportamento não se repita. - Seus olhos passaram por todos na sala. - É vergonhoso esse tipo de atitude, tanto por parte do Jason, quanto de vocês, de se envolverem em uma briga de rua. Praticamente. Espero que tenham visto que outras pessoas que nem deviam sair feridas acabaram se machucando. Ficamos em silêncio, já que o esporro era geral. Graças a Deus ele não resolveu chamar o idiota criador da contenda para um bate-papo e para fazer as pazes.Thomas ficou calado e com a cabeça baixa praticamente todo o tempo. Eu só sentia suas mãos fazendo carinho em minhas costas de vez em quando. - Vamos embora. - Sunny levantou-se do sofá e puxou o irmão. - Você também precisa de um gelo em alguma parte dessa cabeça dura aí. - Vamos, Rain - Storm chamou da porta. - Eu vou levá-la. - Thomas dispensou os dois. Tentei argumentar, mas seu olhar foi mais eloquente que palavras.Ele me ajudou a levantar do sofá e, quando saí do escritório, pude ver apenas os sinais da festa que aconteceu mais cedo. Copos espalhados pelo chão, pratos e salgadinhos largados em todos os cantos. - Lembre-me de nunca dar uma festa em casa - falei, brincando. Thomas não respondeu. Ele continuava me guiando para a saída e paramos apenas rapidamente para nos despedir dos donos da casa. - Melhoras, querida. Foi vergonhoso o que aquele jovem fez, mas Murray vai cuidar disso.- A mulher do treinador me deu tapinhas de consolo nas costas. - Leve a moça em segurança para casa, Thomas - o treinador falou e olhou diretamente para mim. - Eu falaria para você registrar uma queixa, mas, como não sabemos a procedência do murro que você levou, provavelmente acabaria trazendo problemas para o seu irmão. Mas quero que saiba que o conselho disciplinar vai ficar sabendo da história. O comportamento acintoso de Jason não pode passar despercebido. Assenti com a cabeça, já que não tinha o que falar. Tudo ainda era muito nebuloso.Thomas nos levou para casa, o caminho inteiro em um silêncio perturbador. Eu podia dizer que ele estava chateado com alguma coisa, mas não entendia precisamente com o quê. Quando desci do carro, me atentei para o fato de que eu deveria tê-lo deixado em casa primeiro. - Como voc... Nem sequer completei minha sequência frasal. Thomas me beijou placidamente, com o intuito de me manter calada. - Me deixe passar a noite aqui, Rain - ele pediu e seu tom de voz era triste e envergonhado.- O quê? - Me deixe ficar apenas cuidando de você... - Thomas, não acho que seja uma boa ideia... - Eu só quero cuidar de você. - Ele passou as mãos nervosamente pelos cabelos. - Porra, se eu não tivesse saído do seu lado e te largado na pista de dança, talvez isso nunca tivesse acontecido. Ele estava se sentindo culpado? - A culpa não foi sua, Thomas. Eu saí para o jardim. Esbarrei no idiota. - Mas eu larguei você na pista porque tive um momento de pânico - ele admitiu.- Pânico? De quê? - Vamos entrar, Rain. - Thomas me puxou para a porta, mudando o assunto. Como eu estava muito cansada e sobrecarregada da noite, além de estar com o corpo todo dolorido, o segui obedientemente. Storm estava na cozinha ajeitando alguma coisa para comer e não havia sinal de Sunny. - Opa, opa! Para onde você pensa que está indo? - Storm perguntou, segurando um prato enorme de macarrão. Eu não podia acreditar que meu irmão estava dando uma de "homem da casa" e ainda sentia fome ao mesmo tempo. Percebi que meus pensamentos estavam confusos e misturados e quase comecei a rir. O que uma coisa tinha a ver com a outra? - Thomas vai subir comigo - informei e comecei a subir as escadas. - Para o seu quarto? - Não. Para o banheiro... - ironizei. - É óbvio que para o meu quarto, Torm! - Mas ele não pode ficar no seu quarto, Rain. Ele é homem. E homens não ficam nos quartos das namoradas, a não ser que seja para fazer coisas ilícitas... - ele disse e largou o prato na pia, caminhando em nossa direção. - E isso eu não vou permitir.Eu estava chocada, cansada, esgotada, dolorida e puta. - Nós não vamos fazer coisas ilícitas, seu burro! Ou eu não estaria te informando e estaria entrando sorrateiramente com ele! - acho que gritei, porque os dois olharam chocados para mim. - Que merda de dia! Será que ele nunca vai acabar? Subi os degraus com pressa e entrei no meu quarto fazendo questão de bater a porta. Nem bem se passaram cinco segundos e Thomas entrou calmamente. Eu estava sentada na cama olhando para o nada. - Rain... - Thomas. - Levantei da cama e parei à sua frente. - Espera aqui. Vou trocar de roupa. Peguei meu pijama mais comportado, o que implicava uma boa dose de algodão da cabeça aos pés, e corri para o banheiro. Bom, correr era uma espécie de exagero, já que meio que saí mancando. Meu corpo estava tão judiado que eu mais parecia uma idosa de cem anos. Tomei uma ducha rápida e escovei os dentes. Tentei evitar o espelho, mas a curiosidade foi maior.Suspirei chocada com minha aparência. Um hematoma horrível se formava na minha mandíbula e parecia que eu tinha uma goma de mascar na lateral da bochecha. Fora os outros pontos doloridos em meu corpo, onde os pés e cotovelos dos brigões fizeram contato, deixando tudo um mapa de cores interessantes. Aparentemente, luta no chão realmente poderia ser brutal. Aquilo foi praticamente um ménage à trois no modelo UFC. Enfim, a cena em si não era nem um pouco sedutora, logo meu irmão podia ficar sossegado. Quando voltei para o quarto,Thomas já estava descalço e deitado confortavelmente na minha cama. Seus braços estavam atrás da cabeça e os olhos me seguiram por todo o caminho até que me sentei ao seu lado. - Você sabe que não vou deitar aí com você, né? - eu disse e ele apenas sorriu diante da minha tentativa de parecer calma. Eu estava nervosa. Afinal de contas, havia um "garoto" deitado na minha cama! Esse fato não era algo corriqueiro para mim. Muitas garotas da minha idade poderiam achar aquela cena uma das mais banais, mas não eu.Culpe meu lado pudico, sei lá. - Rain, não vou fazer nada. Eu juro. - Thomas beijou os dedos cruzados em uma promessa fraca. - Antes de mais nada, tome estes dois comprimidos de Tylenol aqui. Olhei desconfiada para a garrafa d'água que ele segurava e os comprimidos em sua mão estendida. - Onde você arranjou isso? - perguntei porque eu sabia que meus pais eram contra remédios alopáticos em casa. Tudo deveria vir da natureza. E viva a homeopatia. Yay! - Eu sempre ando com um frasco na bolsa,Rain. Muitas vezes, depois de um treino árduo, é o que alivia as dores no corpo. Uau. Ele não era muito novo para se automedicar? Bom, calei essa pergunta e aceitei os comprimidos, já que eu sabia que as dores que estava sentindo agora estariam triplicadas na manhã seguinte. Engoli tudo com um gole. O que o nervosismo não faz com as pessoas, não é?! Deitei ao seu lado e ele simplesmente me puxou para um abraço. Então eu estava deitada sobre seu tórax, apenas ouvindo as batidas aceleradas de seu coração. Tenho quase certeza de que ele poderia sentir as batidas do meu, através das costelas.Eu não podia negar meus sentimentos. Estar ali em seus braços era algo perturbador e extremamente gratificante. Ficamos em silêncio por alguns instantes. - Estou me sentindo culpado pra caralho pelo que aconteceu com você esta noite. - Ouvi seu suspiro cansado. - Por quê? - Ergui a cabeça para olhar em seus olhos. - Não foi culpa sua, Thomas. Ninguém tem culpa do Jason ser um babaca total. Thomas beijou minha testa e fez um carinho no meu rosto, passando os dedos delicadamente sobre o machucado que eu agora ostentava. - Eu meio que surtei na pista de dança e larguei você. Okay. Aí estava algo verdadeiro. E minha curiosidade era grande para saber o motivo do surto. - E por quê? Thomas olhou profundamente em meus olhos. - Você não tem ideia do que faz comigo, não é? - ele perguntou e acenei a cabeça devagar em negativa. Se fosse algo parecido ao que ele fazia comigo, eu podia entender seu conflito Thomas passou uma mão pelo seu rosto e em seguida agitou os cabelos já bagunçados. - Não posso negar que quero você, Rainbow. Da forma mais carnal possível - ele admitiu e eu engoli em seco. Opa. O papo era sério. - Dançar com você daquele jeito, quando você simplesmente confiou em mim para guiá-la... tê-la tão junto, tão... tão... porra... - Se eu disser que você também mexe com meus sentimentos de maneira profunda e intensa e de maneira um tanto quanto... carnal... você acreditaria? - perguntei e senti o rosto corar. Ele deu um sorriso lindo e passou a mão pelos meus cabelos. - Nunca na mesma intensidade que o meu corpo sente, Rain. - Okaaay... posso entender isso - falei constrangida. - Você é homem e tudo mais. Thomas me abraçou e começou a rir. - Isso mesmo. Homem e tudo mais. Continuei encapsulada em seus braços e senti um beijo suave na curva do meu pescoço. Aquele pequeno gesto arrepiou até minha alma.- Eu sinto muito, Thomas. - Deixei escapar uma leve impressão de insegurança. Ele me encarou seriamente. - Pelo quê? - Por não poder corresponder às suas expectativas... Nossa. Aquela conversa parecia até mesmo um déjà-vu. - Acho que já falamos sobre isso. - Tentei me levantar, mas fui impedida. - Eu sei. E vou respeitar sua decisão sempre, Rain. Nunca vou forçar você a nada, pode acreditar em mim. - Seu tom era firme e solene. - Prefiro viver no celibato a ficar sem você. Uau. Pense em estar apaixonada secretamente e de repente se apaixonar de novo. Isso era possível? Segurei minha língua. Ela tinha vida própria e queria revelar meu segredo. - Eu posso dormir aqui? Hein? Como assim? Eu estava pasma. - Calma. - Ele correu a me acalmar. Acho que percebeu os sintomas de um surto iminente. - Vou apenas ficar do seu lado. Só preciso ficar perto. E amenizar a culpa no meu coração. Okay. Aquela parecia uma desculpa muito fajuta de um cara querendo se infiltrar na cama de uma garota. - Thomas... - Eu juro, Rain. - Thomas colocou a mão no coração. Foi bem bonitinho ver sua tentativa de fazer os olhos pidões do Gato de Botas. - Você promete se comportar? - Pela alma do meu papagaio - ele zombou. - Prometo conservar minhas roupas. Vou dormir com elas. Dei um murro em seu braço. - Você é um idiota, sabia? -Sabia. Mas seria mais idiota se simplesmente não tentasse a sorte... - disse e beijou minha mão. - Eu nunca fiz isso. - O quê? - perguntou confuso. - Dar tanta liberdade para alguém... ter intimidade com alguém... sei lá. - Espero mesmo que não. - Thomas... eu nunca dormi acompanhada! - Espero mesmo que não, novamente. Comecei a rir da sua tentativa de amenizar a situação.- Garotas comumente fazem isso? - Depende... do que mais precisamente você está falando? - ele brincou. - De simplesmente dormir lado a lado, de maneira comportadinha ou fazendo estripulias? - Dormir clandestinamente com um cara no quarto, engraçadinho. Thomas me abraçou e puxou o edredom sobre nós dois. Ah, meu Deus. Estava acontecendo. Quero dizer... estávamos mesmo nos preparando para dormir! - Já ouvi relatos de muitas fugas pela madrugada, saídas furtivas e outras coisas mais - Thomas falou e bocejou. - Mas vou te confessar que nunca antes quis compartilhar esta mesma intimidade com uma garota. Nunca entrei sorrateiramente no quarto de uma para simplesmente passar a noite. Não passou despercebido o "simplesmente passar a noite". O que só poderia significar que ele já havia adentrado o quarto de alguma garota. Bem, Thomas tinha um passado e nunca havia negado isso. - Posso apagar a luz? - ele perguntou. Acenei afirmativamente e tudo ficou escuro. Meus olhos tentavam se acostumar com o breu, e podia ouvir o som de nossas respirações sintonizadas. - Por que ter tanto trabalho assim, Thomas? - perguntei e tentei entender realmente. - Trabalho de quê? - Em ficar comigo, mesmo sabendo que nosso relacionamento é limitado a pequenos momentos assim... Ouvi seu suspiro profundo. - Porque você vale a pena, Rain. Olhei para cima e somente podia perceber seu rosto na penumbra. - Eu não entendo você - falei sinceramente. - Poderia ter qualquer garota que quisesse... e eu sou tão... tão... imperfeita... - Ah, Rainbow... - Thomas suspirou entre irritado e desanimado. - Eu só gostaria que se enxergasse da maneira que eu te enxergo. Para mim, você é perfeita. - Thomas? - chamei baixinho, averiguando se ele já havia dormido. - Hummm? - Você tem um papagaio? Senti sua risada baixa retumbar em meus ouvidos. Com um beijo na minha testa, Thomas me puxou mais firmemente contra seu corpo quente e apenas deixei que meus olhos se fechassem e os pensamentos resvalassem para o reino dos sonhos. Uma coisa eu não poderia esquecer. Thomas Reynard conseguia fazer com que eu me sentisse confortável comigo mesma e ainda a melhor das garotas. Eu só precisava aprender a lidar com aquilo e passar a acreditar também.Thomas
Minha cabeça não conseguia desligar dos momentos tensos passados. Embora eu pudesse me comprazer com o suave ressonar de Rainbow,profundamente adormecida em meus braços, meus olhos não conseguiam se fechar, nem mesmo diante da penumbra do quarto acolhedor. Sentir o calor de seu corpo ao meu lado era ao mesmo tempo maravilhoso e torturante. Quando dançamos mais cedo, eu realmente achei que pudesse ter surtado em meu breve momento de pânico. Porque minha vontade absoluta era, definitivamente, carregar Rainbow dali e convencê-la, de qualquer jeito, a ser minha de todas as maneiras possíveis e inimagináveis. Passei a mão pelo meu rosto, tentando apagar a memória de nossa dança eroticamente protagonizada na pista de dança. Em minha mente, quando Rainbow fechou os olhos e permitiu que eu guiasse seus movimentos, praticamente a arrastei dentro da nuvem de luxúria que eu conduzia. Meu corpo estava ardendo de vontade de estabelecer uma posse absoluta sobre ela. De ter pele sobre pele. Mãos, dentes, boca, tudo o que eu tivesse direito a encostar e fazer. Quando seus olhos se abriram e pude ver o reflexo do meu desejo ardente naqueles olhos verdes lindos, que eu tanto amava, e aquele foi o verdadeiro momento catártico da percepção de que eu amava aquela garota, eu simplesmente entrei em pânico e precisei de espaço para apagar as chamas que o corpo dela produzia no meu. Pense em alguém sendo consumido gradualmente por um desejo sexual latente, com um constante quadro de bolas azuis monumentais e uma barra rígida sem esforço, bastando apenas um olhar daquela garota... Pense na doce tortura de estar lado a lado, vendo-a ganhar vida e abrindo-se cada dia mais, vendo seus olhos adquirindo um brilho único, os lábios dando sorrisos exclusivos para mim...Rainbow Walker estava me quebrando aos poucos. Eu achava que seria aquele que faria um arrombamento sutil na parede de tijolos de seus sentimentos bloqueados. Mas, na verdade, ela era a pessoa que simplesmente chegou com uma bola demolidora, e puta que pariu, só consigo pensar em Miley Cyrus agora, e destruiu toda e qualquer estrutura que eu pudesse ter antes de conhecê- la. Quando por fim acalmei meus sentidos perturbados, depois de jogar água gelada no rosto e ajeitar algo mais ao sul, organizando o infeliz e mentalizando que com aquela garota não era por aquele caminho que as coisas seguiriam, voltei para a pista de dança e a encontrei estranhamente vazia. Percebi que todos estavam do lado de fora, contemplando uma briga, e qual não foi o meu choque e terror ao perceber que Rainbow estava exatamente no meio de todo o conflito. Corri em sua direção, tentando apartar a briga, gritando por Mike, para que ele agisse do outro lado. Ou chamasse o treinador, sei lá. Os outros carniceiros, que estavam à volta, apenas esperavam o desfecho da merda toda. Nenhum deles foi inteligente o suficiente para imaginar que uma garota enfiada em uma briga, no chão, no meio de dois marmanjos, sairia machucada com 99% de certeza. Meu coração quase parou quando vi que seus olhos perdiam vida rapidamente e reviraram fazendo com que ela apagasse como uma vela ao vento, o que só significava que alguém havia atingido seu rosto. Porra! Só consegui arrancar Storm de cima e, sem nem ao menos hesitar, arremessei um soco na cara de Jason. Eu estava pouco me lixando se o treinador Murray me puniria ou não. Aquele merda envolveu minha garota em uma briga. Eu era inteligente o suficiente para sacar que no mínimo seu irmão estava no meio, porque deve ter corrido em seu socorro. Era só somar dois e dois. Simples assim. Sentei na grama e peguei o corpo inerte de Rainbow nos braços, tentando fazer com que ela acordasse e respondesse ao meu chamado. Vi quando abriu os olhos brevemente e suspirei de alívio na hora, disso me lembro bem. Daí, quando o treinador chegou e nos encaminhou para o seu escritório, eu simplesmente fui incapaz de me afastar de Rainbow. E estava aí a razão do meu apelo apaixonado para que ela me deixasse passar aquela noite ali, com ela segura em meus braços.Mesmo que o calor de seu corpo e o simples respirar enviassem vibrações espontâneas diretamente para outra área do meu corpo e eu estivesse em um doce martírio. Olhei para seu rosto adormecido e dei-lhe um beijo suave na ponta do nariz. Em seguida a abracei firmemente, esperando que o sono viesse, por fim, trazer a paz de que eu necessitava. Aquela noite, definitivamente, tinha sido do caralho.
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Rainbow
Teen FictionRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...