Com o término das aulas naquele dia exaustivo, eu meio que me preparava para o tormento que seria a festa logo mais à noite, na casa de Thomas. Praticamente toda a escola estaria lá, com exceção dos alunos calouros das séries anteriores, então todos já deviam estar inteirados da fofoca do momento. Thomas Reynard estava "traçando" a novata Rainbow Walker. Os termos verbais variavam de acordo com os grupinhos que proliferavam o assunto.Entrei no meu carro procurando me esconder o mais rápido possível. Sunny veio correndo e abriu a porta do carona, se jogando sem nenhuma classe no banco. - Uau! Minha irmã é um ícone máster nesta escola careta! - ela disse exultante. Bati a testa no volante. - Rain? - O quê? - perguntei, sem erguer o rosto. - Isso é ótimo, irmã. Maravilhoso! Olhei com raiva para ela. - Como pode ser maravilhoso,Sunny? Pelo amor de Deus, você só pensa nesse lance de popularidade. É um saco, odeio isso. - Me encolhi no banco. - Eu só queria passar incólume e despercebida. Merda! É pedir muito? - Aparentemente, quando você está sob o radar de Thomas Reynard, é pedir muito. - Ela passou a mão pelas minhas costas. - Rain... deixe as coisas rolarem. - Rolar, Sunny? - Eu estava abismada pela forma como ela banalizava tudo. - Eu sou o centro da fofoca e você quer que simplesmente curta a onda? Ela olhou com raiva para mim. - Exatamente! Você vê tudo pelo lado negativo, tudo esmiuçado na seriedade que é a tua característica, Rain. Mas a vida está aí para ser vivida sem tantas preocupações enquanto estamos no segundo grau, caramba. Depois que crescermos, não poderemos mais nos distrair com bobeiras como essa! Eu nunca tinha visto minha irmã tão enfática. Resolvi ligar o carro e ir para casa. Fechei a boca e simplesmente deixei que meus pensamentos turbulentos sobrecarregassem minha mente. Era isso. Eu realmente era muito séria. Enxergava o mundo sob uma ótica muito angular. Nunca permiti cores e a beleza dos caleidoscópios, que poderiam colorir meus pensamentos.
Talvez por conta da criação à qual fomos acostumados. Mas isso não explicava, exatamente, porque meus irmãos foram criados da mesma maneira e cada um era de um jeito. O que tornava tudo muito mais complicado ainda na minha cabeça. Por que somente eu fui sair tão certinha e complicada? Com pensamentos tão retrógrados que destoavam completamente da família inteira? Tinha vezes em que me sentia um alienígena. Sentia-me um peixe fora d'água. Um ser anômalo em meio a espécimes tão distintos e belos. Sunshine era uma força da natureza. Sua exuberância sobrepujava todos ao nosso redor. Storm fazia jus ao nome que carregava. Sua energia era como uma tempestade de emoções. Ele transparecia como uma placa de vidro. Nossos pais nos criaram para sermos espíritos livres. Eu já disse isso? Para amarmos o mundo e a natureza, as fontes da vida e toda a energia impactante que delas procede. Para olharmos o universo e nos conectarmos com o cosmos. E quando você olha para si mesma no espelho e pensa: quem é você, afinal? Qual é a razão de estar aqui? Ou uma pergunta mais áspera e ácida: o que você faz aqui, no meio de pessoas tão distintas? Infelizmente minha mente se debatia com aqueles sentimentos. Por quê? Era tão fácil para algumas pessoas... Por que para outras era tão complicado? Na verdade, eu nem pensava em complicação. Estava até satisfeita em viver minha vida miserável de resignação. Não tinha interesses despertados ou desejos de mudar absolutamente nada. Apenas ia levando a vida, deixando-a passar por mim. Ouvia todos os dias da minha mãe que eu deveria ser um pouco mais expansiva e fazer mais amizades, ou acabaria solitária. Na verdade, a solidão é um estado de espírito, certo? Uma pessoa poderia estar rodeada de pessoas, em uma sala abarrotada de colegas, e ainda assim se sentir completamente só.Aquele era um sentimento muito comum e corriqueiro na minha vida. Mas, desde que Thomas Reynard chegou com aqueles olhos verdes perscrutadores, me desafiando a sair da concha na qual me enfiei, passei a questionar minha decisão de ter me enclausurado dentro de mim mesma. Seria eu um caso estranho necessitando de terapia? Eu acreditava que todas as pessoas precisavam de terapia para aprender a lidar com as turbulências da vida. Mas não imaginava que, aos dezessete, eu já teria essa crise despertada. Pensava em algo como uma crise de meia-idade.Agora eu sentia um desejo intenso de me compreender, para poder abrir o coração e a mente e aprender a socializar, deixando qualquer conflito interno, que me tornava aquela adolescente reclusa, para trás. Resolvi que aquela poderia ser a oportunidade em que eu daria o pontapé inicial no projeto "Mudança Interior". Iria me empenhar para virar o jogo da fofoca infame que estava rolando com meu nome. E começaria naquela noite. *** Muito mais tarde, Sunny olhava para sua obra-prima, no caso, eu.- Você está espetacular. - Não estou com cara de vadia, não, né, Sunny? - Fiz questão de confirmar antes de me virar para o espelho. Sunny ainda ajeitou alguma coisa no meu cabelo e me virou de frente para o grande espelho oval do quarto da mamãe. Oh. Uau. Aquela era realmente eu? Tão diferente da habitual Rainbow. Sunny havia me obrigado a colocar um vestido vinho, e meus cabelos estavam ligeiramente ondulados, criando um efeito super boho chic. Meus lábios estavam com um pouco mais de cor, com algo que ela classificou como um batom mate, resistente até mesmo a beijos, de acordo com suas palavras. Minhas orelhas ostentavam argolas prateadas, singelas, porém que fizeram um diferencial no geral. Nos pés, eu calçava um par de botas Dr. Martens pretas. Claro que eram dela. E deram um visual totalmente radical para a minha humilde pessoa. Olhei de perto e vi que meus olhos estavam com um delineador suave e um esfumado que deixava meu olhar bem misterioso. Até mesmo a cor dos meus olhos ganhou uma intensidade diferente no castanho-esverdeado.- Uau, Sunny! - Aproximei-me do espelho e olhei mais de perto. Realmente meu olhar poderia ser classificado como sexy. - Não está exagerado, não é? Sunny veio para o meu lado. Seu visual era algo a ser detalhado. Calças apertadas e um top que revelava a barriga sarada. O cabelo jogado sobre um ombro. - Estamos lindas e forasteiras, mana - ela disse e comecei a rir. - Okay. Vamos fazer isso - falei mais para mim do que para ela. Afinal, Sunny não sabia da prova de fogo que eu enfrentaria naquele dia ao conhecer a infame Cybella.Olhei mais uma vez para o espelho e, esperando Sunny sair do quarto, apenas permiti que a sensação boa de me sentir bem comigo mesma sobreviesse. Deixei qualquer sentimento de insegurança por baixo do tapete. Naquela noite, eu havia colocado um propósito em curso. De costas, ainda fiz questão de conferir se meu traseiro não estava descomunal ou se minhas pernas pareceriam estranhas. Sacudi os ombros em resignação, porque era tarde para mudar de ideia em todas as resoluções que eu havia tomado. Fomos no meu carro. Recusei terminantemente a carona de Thomas. Eu fazia questão de chegar e sair de lá na hora que quisesse. Estacionei na calçada da rua movimentada de Thomas. Era um bairro bacana. Cerca de dez minutos de distância da minha casa, como eu imaginava, já que Thomas chegava lá muito rápido. Quando eu estava andando pelo caminho principal em direção à porta da frente de sua casa, senti os joelhos tremerem. De repente, o pânico assolou meu coração de maneira violenta. Senti náuseas e quase desisti. Sunny deve ter percebido meu intento de fazer uma fuga alucinada, já que segurou meu braço.Antes de bater a aldrava da grande porta branca, e meu cérebro ainda teve tempo para analisar o fato de que a casa de Thomas tinha uma aldrava antiga e antiquada, ao invés de um botão de campainha muito mais moderno, esta mesma abriu-se bruscamente. Thomas olhava para mim com cara de estupefação. - Rain? Para evitar a sensação de mal-estar que tomou conta de mim, resolvi apelar para meu senso de humor ridiculamente sarcástico. - Você está perguntando se está chovendo ou confirmando minha identidade? - indaguei.Sunny deu uma risadinha matreira e passou por Thomas. Não sem antes cumprimentá-lo rapidamente e virar-se às suas costas acenando a palavra "gostoooooso". Revirei os olhos diante do ato, esquecendo que Thomas estava na minha frente. - Rain. - Oi. - Porra... uau... você está... está... - Diferente? - perguntei sem graça. - Eu ia dizer linda. - Oh! - Meu rosto resolveu participar da decoração vermelha que eu podia avistar dentro da casa. - Vem aqui. - Thomas me puxou para o calor de seus braços. Simplesmente me deixei ir e aspirei seu perfume delicioso. Ele abaixou a boca e beijou meus lábios, quase com reverência. - Não vou deixar você sair da minha vista hoje - ele disse de forma possessiva. - Okay. - Eu tinha de confessar que também não queria que ele saísse do meu lado, já que estava apavorada. Tipo, muito apavorada. Minha confiança tinha se evaporado. Entramos na casa, enquanto ele me puxava pela mão. Eu podia observar o rosto dos outros convidados, apenas cochichando e olhando abismados para a demonstração pública de afeto entre nós dois. Thomas me levou diretamente à imensa área de trás da casa, onde um belo jardim decorado mostrava que a festa realmente estava agitada. Chegamos a um barril e Thomas questionou se eu queria beber alguma coisa. - Uma soda. - Foi o máximo que respondi enquanto tentava engolir meu pavor. Quando colocou o copo na minha mão, Thomas imediatamente passou o outro braço por cima dos meus ombros, mostrando ali todo um lance de posse. Eu odiava meninos desse tipo. Mas confesso que, com Thomas, estava me sentindo muito mais protegida do que outra coisa. Quando percebi que ele havia retesado o corpo, procurei a fonte de seu desconforto, olhando para o mesmo lugar que ele estava encarando. Oh. Uau. Puta que pariu. Pense em uma merda de prima tipo fantasticamente bonita. Era a tal Cybella, a prima louca. Seus cabelos eram cacheados, num tom avermelhado que fazia parecer que pequenas chamas iridescentes saíam dali. Claro que tudo poderia ser efeito de uma boa caixa de Koleston, mas quem se liga nesse fato? Ela ergueu o olhar e o direcionou exatamente para onde a mão de Thomas estava. Ou seja, sobre a minha pessoa. Senti meu corpo ficar rígido e Thomas sussurrou em meu ouvido: - Não se preocupe, amor. Ela não morde. Apenas ladra como uma cadela. - Mesmo com aquela afirmativa, meu estômago deu cambalhotas esquisitas.Senti as fagulhas em meu ventre quando captei do que ele havia me chamado. - Thomas... - a dita cadela chamou. - Cy... oi... te falei sobre minha garota, certo? - Ele tentava parecer descontraído, mas eu sabia que estava sendo custoso. - Ouvi algo. Tia Alyce me disse, mas não achei que fosse verdade. - Ela me olhou como se olhasse para um inseto insignificante. - E nem sequer pensei que fosse uma... uma... - Cybella... - O tom de Thomas foi de advertência.- Coisinha tão miudinha como esta - ela completou e virou as costas. Soltei o ar que nem sabia que estava retendo, embora eu tivesse que concordar que fosse uma coisa miudinha, ao menos em comparação com sua altura de girafa. Não era à toa que a criatura era modelo de passarela, claro. - Esqueça o que ela disse, Rain. - Ele olhou para mim preocupado. - Você é a garota mais linda desta festa. A garota mais linda em que já pus os olhos. Sacudi a cabeça em concordância. Mas sem nem ao menos me concentrar em seus elogios. Eu sabia que era uma garota insignificante perto de tantas outras exuberantes que estavam por ali. Sempre fiz muita questão de passar despercebida em qualquer lugar em que pusesse os pés, então eu estava bem com aquilo. Se ele queria me fazer sentir bem, então eu fingiria aceitar, mesmo que minha mente rejeitasse completamente toda aquela veemência. Quando dei por mim, Thomas estava me puxando para a pista de dança. Segui como um autômato. Quando seus braços fortes me enlaçaram, consegui finalmente relaxar. - Você está linda, Rain - Thomas repetiu mais uma vez, dando um beijo suave no topo da minha cabeça. Eu agora estava com meu rosto recostado em seu peito, na tentativa de acalmar meu coração e de não demonstrar o tanto que ele me afetava. Ou o tanto que toda aquela situação nova em que eu me encontrava afetava meus nervos. Eu nunca havia namorado antes. Nunca havia colocado meu ouvido diretamente sobre o coração de um cara, ouvindo atentamente os batimentos cardíacos, ou sentido o calor de um corpo tão quente próximo ao meu. Não daquela maneira intensa. Nunca tinha dançado tão intimamente conectada a alguém. Sorri brandamente. - Obrigada. - É sério. - Ele se afastou e me olhou profundamente. - Você já é linda do seu jeito simples, mas hoje... porra... você está... - Diferente - repeti nossa brincadeira de mais cedo. - Deslumbrante. Eu ia dizer deslumbrante - ele disse e me deu um beijo casto nos lábios. Escutamos murmúrios e percebemos que todo mundo da festa tinha parado para acompanhar nossa interação na pista de dança. Escondi o rosto no peito de Thomas, envergonhada por completo. Seu peito retumbou com o som de sua risada. - Venha, vamos nos misturar. Thomas me apresentou para mais pessoas do que eu imaginava ser possível em uma noite só, inclusive para vários membros da sua equipe de futebol americano.Em um determinado momento da noite, Jason acabou dando as caras e parou bem na nossa frente. - O casal vinte do pedaço. - Pelo tom de voz, parecia que ele estava um pouco bêbado. - Jason, cai fora antes que eu te encha de porrada - Thomas disse irritado. - Nem sei por que permiti que você entrasse na festa. Jason colocou a mão dramaticamente sobre o peito e fez um beicinho. - Poxa, achei que era porque fôssemos amigos, Tommy? - ele disse com ódio não disfarçado. Thomas ergueu o corpo e ficou diante de Jason, que temeu um pouco por sua vida e afastou-se. - Nunca fomos ou seremos amigos, seu idiota. - O tom de ameaça na voz de Thomas não passou despercebido. - Eu escolho a dedo as pessoas as quais chamo de amigos. - E escolhe a dedo também as garotas que você fode? - ele cuspiu. Thomas agarrou o colarinho de Jason e o ergueu, prensando o cara na parede.A festa parou, a música silenciou e eu apenas coloquei a mão sobre a boca. Estava chocada com o que Jason falara e com a confusão. - Retire as porras que você disse, ou vou fazer com que seja expulso do time, seu merda do caralho! - Thomas gritou. Jason pelo menos pareceu assustado. Mike chegou e o segurou para evitar uma briga, então Thomas largou o idiota no chão, não sem antes o encarar com puro ódio no olhar e dizer: - Saia daqui. E nem pense em se aproximar da Rainbow de novo, ou vou te mandar para o hospital, seu babaca! Jason levantou tropegamente e ainda, sem medo de morrer naquela noite, continuou falando: - Você sempre tem que pegar tudo o que deveria ser meu! Eu deveria ser o quarterback! Não você! Você nem sequer parece com um... Temos que ter um porte adequado. Okay, o cara estava chapado. - E sobre a garota novata, eu cheguei nela primeiro! - Cala a boca, seu imbecil! Ela não é um pedaço de carne ou um brinquedo para ser disputado! - Thomas estava puto. Eu apenas acompanhava a interação. Sunny estava do outro lado da sala e olhava a cena, chocada. Storm estava com alguns amigos e apenas acompanhava. Mas eu podia ver que estava puto. Esse era o medo do meu irmão em nos ver envolvidas nas festas do time de futebol americano da escola. Normalmente terminavam em brigas por conta de garotas. E, infelizmente, eu estava estrelando a confusão no centro do palco. Meu rosto estava queimando de embaraço. - Mas é uma carne bem gostosa que você está passando a ma... Antes que ele terminasse de proferir a sentença, Thomas arremessou um murro na boca de Jason, que caiu como um tronco para trás. O silêncio foi total. Mike falou para que os amigos de Jason o pegassem e o levassem embora. Thomas apenas passou as mãos pelos cabelos nervosamente, antes de se virar para mim. - Rain, me desculpa - ele disse e me puxou entre seus braços. Enquanto me refugiava ali, meus olhos captaram os cabelos vermelhos de Cybella ao longe. Ela nos encarava com ódio no olhar. Ótimo. Eu tinha feito mais uma inimiga. Eu realmente poderia dizer que minha popularidade para ganhar inimigos estava em ótimo patamar. "Como se tornar o centro de ódio em pouco tempo", nota A+ para Rainbow Walker. Quase duas horas depois, eu realmente estava precisando de uma pausa. A tensão era grande e eu podia sentir que meus músculos do pescoço estavam rígidos, tamanha minha necessidade em não buscar a infame Cybella onde estivéssemos. Ela parecia uma assombração estranhamente bela. Para onde eu olhava, lá estavam aqueles olhos azuis me enviando ondas e ondas de puro terror. - Thomas - eu o chamei tirando sua atenção de um bate-papo animado com os amigos. Ele virou imediatamente e beijou meus dedos, que estavam entrelaçados aos dele. - Yeap? - Posso ir? - perguntei baixinho para que ninguém nos ouvisse. Seus olhos ficaram pasmos diante do meu pedido. - Por quê? Suspirei. - Estou cansada. Só isso. - Eu te levo, então - ele disse. - Não! Eu vim de carro, lembra?- falei rapidamente. Ele me puxou para fora da sala. Acabamos indo parar no quarto dele no segundo andar. - hh... acho que a saída não é por aqui. - Tentei brincar para evitar meu constrangimento óbvio. Sem dizer nada, Thomas me puxou para o quarto e trancou a porta. - Thomas? - Vem aqui, Rain. - Sentou-se na cama e me chamou. Quando me aproximei para me sentar ao seu lado, ele rapidamente me colocou em seu colo.Senti que meu rosto pegava fogo. Thomas começou a rir suavemente. - Calma, não vou fazer nada que não queira, Rain. Ótimo saber disso. Difícil era saber o que eu queria ou não. Ele ergueu meu cabelo e o segurou em um punho. Seus lábios depositavam beijos suaves pelos meus ombros, pescoço, bochecha, testa, até que chegaram à minha boca. Quando a calidez daqueles lábios moveu-se contra os meus, senti que meu corpo ficou lânguido e entregue em seus braços.Rapidamente, Thomas nos girou e me deitou, com seu corpo forte sobre o meu. Um alerta máximo de intimidade iminente acionou em meu cérebro. Provavelmente meus olhos expressaram esse temor, porque Thomas parou o que estava fazendo e disse: - Não vou fazer nada, Rain. Relaxa. - Fácil para você dizer isso. - Tentei brincar. - Só estou passando um tempo com minha garota - ele disse. Ah, tá. Como se fosse simples assim. - Mas se estamos aqui no quarto, não há ninguém para provar que estamos juntos, ou melhor, fingir - eu disse. - Exatamente. - Thomas beijou meu pescoço. - Estamos aqui porque eu quero e você também. - Quero? - Eu sabia que estava brincando. Realmente queria. Estava sendo libertador soltar as amarras da Rainbow superséria. - Quer. - Ele bateu o dedo suavemente contra minha têmpora. - Aqui você pensa que não. - Sua mão pousou suavemente sobre meu coração. Que acelerou a pleno galope naquele momento. - Mas aqui diz que você quer. Ignore o fato de que a mão dele continuou pousada naquela área, muito próxima do meu seio esquerdo. - Você é muito seguro de si, Sr. Reynard - falei com um sorriso. - O que posso fazer, baby? Eu nasci assim. Começamos a rir. Thomas repentinamente ficou sério e seus olhos verdes apenas me fulminavam com paixão. - Você sabe o que faz comigo, certo? Tentei ignorar o que ele queria dizer. - Você... você... - Eu estava sem graça. Ele começou a rir. - Não estou falando anatomicamente, Pequena Mente Suja - ele disse, rindo. - Estou falando aqui. Com isso, ele pegou minha mão e colocou sobre o seu coração. Engoli em seco. Eu não estava preparada para Thomas admitir qualquer espécie de sentimentos por mim, até mesmo porque eu era uma garota extremamente cética em relação a paixões à primeira vista. - A regra de bom convívio entre namorados é clara quando diz: "O lado oposto que recebe uma declaração espontânea, deve se pronunciar adequadamente em favor do declarante" - ele disse em tom sério. Comecei a rir. Thomas Reynard era o típico garoto que conseguia extrair das pessoas ao seu redor esse tipo de reação. - Quem inventou este manual? - perguntei, zombando. - Eu, obviamente. - Sua resposta veio acompanhada de um sorriso lindo nos lábios. - E ainda sou cheio de regras favoráveis à minha pessoa. - Claro. Como não... - falei e afastei uma mecha de cabelo de sua testa. - Você é o quarterback do time da escola, o garoto popular mais controverso que já vi, um nerd disfarçado de punk, um garoto com habilidades excepcionais em conseguir que todos façam as coisas que você quer - listei calmamente. Percebi que seu semblante ficou um pouco mais fechado. - Eu não me disfarço ou finjo algo que não sou, Rain - ele se defendeu, e sua voz transparecia mágoa. - Simplesmente sou assim. - Estamos fingindo algo aqui,Thomas - falei baixinho. Thomas passou os polegares suavemente pelo meu rosto. - Eu posso não querer estar fingindo mais. E você? Perdi minha habilidade em falar. - Eu poderia estar querendo a coisa verdadeira. O namoro real, sabe? - ele disse e continuava distribuindo carinhos suaves pelo meu rosto, pescoço. - Eu quero que você me queira. Da mesma forma que quero você. - Eu... eu... eu... - Cacete. Alguém roubou minha habilidade de fala. Meu lado direito do cérebro estava totalmente prejudicado. - Você não sente a mesma emoção? - ele questionou. Seus olhos pareciam pegar fogo. - Desde o primeiro instante que te vi. Tão fechada em si mesma. Tão quieta e revoltada com todos ao seu redor. À medida que Thomas ia falando, seus dedos traçavam os contornos do meu rosto. Aquilo amenizava um pouco a irritação de receber a verdade tão crua e seca. - Eu não sou revoltada. - Okay. Consegui que meu cérebro funcionasse no tranco. Não sei por quê, mas eu sentia uma mágoa profunda que Thomas me enxergasse daquela maneira. Mesmo que às vezes tivesse de admitir que eu realmente era revoltada com o mundo. Ficava muito aborrecida que uma pessoa como Thomas percebesse isso claramente. Ou ele era um cara tão perceptivo que sacou somente no olhar? Fui muito dura em meu julgamento inicial de - Thomas. Classifiquei-o em uma estirpe de pessoas com as quais sempre jurei nunca querer me relacionar, mas ali estava eu, sendo abalroada por ele, me dizendo uma verdade que era difícil de encarar. Sim. Eu era revoltada. Comigo mesma, com todos, com o mundo ao meu redor. Com minha dificuldade de me enxergar no mundo em que eu estava inserida, na família na qual nasci. Revoltada com o sistema que exigia que as pessoas só poderiam ser felizes se, e tão somente se, socializassem adequadamente umas com as outras. Revoltada com minha própria revolta agora, por estar sendo apontada por um garoto que eu, ridiculamente, estava tentando impressionar, quando na verdade nunca pensei que desejaria fazer aquilo. Eu precisava urgente ir para o meu quarto na companhia de uma caixa de chocolates e um CD de Demi Lovato, novamente ela e suas músicas de revolta emocional. Eu tinha medo de acabar tendo uma overdose de Demi. Um silêncio tranquilo preencheu o quarto. Eu ouvia apenas a nossa respiração. Se me concentrasse um pouco mais, talvez até pudesse ouvir o som de nossos batimentos cardíacos. Deixei que o que ele havia falado assentasse em mim. Nossos olhares apenas se mantinham conectados. - O que você viu em mim, Thomas? - perguntei com suspeita. Eu nunca antes havia sido objeto de desejo de um garoto, quanto mais um ultrassupermega popular como Thomas Reynard. Será que eu representava uma espécie de desafio? - Eu vejo uma garota linda e desejável... e muito cheirosa... - Thomas enfiou o rosto no vão do meu pescoço. Parecia que ele queria falar algo mais, mas se segurou. - Por acaso já disse o tanto que você cheira bem? Ri um pouco sem graça com sua declaração. Thomas era um garoto. Era óbvio que ele era ligado no quesito de pele e toque. Até mesmo eu, em minha inocência e ingenuidade, sabia disso através dos meus romances literários. - Eu recebi um presente do destino quando Cybella resolveu aparecer. O nome da cadela fez com que meu cenho ficasse franzido em desagrado. - Foi a oportunidade que caiu do céu para que eu pudesse encontrar uma desculpa para estar mais perto de você - ele admitiu. - Você tem que admitir que meu plano foi fantástico. - E se eu não tivesse aceitado te ajudar neste plano infalível? - perguntei desconfiada. Meu medo era que ele respondesse que provavelmente procuraria outra garota.- Eu teria insistido, batido o pé, chantageado, ameaçado, qualquer coisa que a fizesse aceitar meu plano. - Por que não simplesmente chegar e pedir que eu fosse sua namorada? Por que precisou de uma desculpa? - questionei. Thomas começou a rir. - Rain, se eu tivesse feito esta abordagem direta, você teria arremessado o livro mais grosso que encontrasse diretamente na minha cabeça - Thomas respondeu e beijou a ponta do meu nariz. - Não sei explicar. Apenas tive a ideia brilhante e aproveitei o momento. E fico feliz que você tenha concordado, porque isso nos trouxe exatamente ao local onde estamos agora. Seu tom de voz era extremamente sedutor. - E... e... se eu disser que nunca fiz isso antes? - perguntei temerosa. Eu esperava que sua percepção fosse genial em entender sobre o que eu estava falando. Precisava admitir que nunca havia namorado. Embora tivesse quase certeza de que, naquela altura do campeonato, Thomas já deveria ter sacado aquilo, com toda aquela sagacidade ninja dele.Nunca havia sequer cogitado a hipótese de estar debaixo de um garoto como naquele momento e, terminantemente, nunca havia dado um passo tão importante quanto entregar meu corpo ao bel-prazer dos meus desejos e os de outra pessoa. Thomas me olhou longamente. - Bom, eu ficaria envaidecido por ter a honra de ser o primeiro a conquistar seu coração - ele disse em tom sério. - E respeitaria seus limites em relação a qualquer tópico que você me expusesse. Como por exemplo, com esta afirmação, que me faz chegar à conclusão de que você é virgem.Nós apenas nos encaramos. Acredito que eu não precisava confirmar o óbvio. Apenas sacudi a cabeça e senti uma vontade imensa de esconder o rosto, que deveria estar vermelho intenso, embaixo do travesseiro. Thomas riu. - Não precisa sentir vergonha, Rain. - Você fala isso porque não é o motivo das piadas de outras garotas, quando se dão conta dessa realidade - admiti claramente. - Minhas perspectivas não são liberais,Thomas. Eu tenho pais extremamente liberais e incentivadores de toda e qualquer forma de expressão de amor, mas simplesmente não sou assim. Eu posso ser travada em relação ao meu comportamento, mas ele apenas reflete exatamente quem sou ou o que penso. E aquilo era verdade. Meus pais incentivavam que levássemos nossos possíveis namorados para casa e nos entregássemos ao amor puro e jovial. Eu achava isso um absurdo. Que pais fazem isso com seus filhos adolescentes, pelo amor de Deus? Creio que muitas garotas desejariam estar no meu lugar, mas... honestamente? Ninguém nunca está satisfeito com aquilo que tem. Eu preferia que meus pais fossem um tanto quanto mais conservadores em relação a certos fatores, como este, por exemplo. Thomas abaixou seus lábios contra os meus e simplesmente depositou um suave beijo. - Este papo está ficando muito cabeça para o meu gosto - falou, tentando aliviar o clima. - Acredito que podemos viver o momento e o que ele nos oferece e deixar as coisas correrem com o tempo, o que você acha? Sorri mesmo sem querer. Tantas garotas nem sequer hesitariam em chegar aos finalmentes, ao tão aclamado home run com este garoto, e eu... Com meu pensamento do momento, apenas senti vontade de rir verdadeiramente. Caramba, por que eu havia pensado em uma jogada finalizada de beisebol, quando o esporte de Thomas era o futebol americano? Eu deveria ter me referido a um touchdown. - Por que está rindo? - ele perguntou. - Você é linda quando sorri, sabia? Segurei o riso e espontaneamente passei as mãos pelos seus cabelos bagunçados. - Por uma besteira que talvez algum dia eu compartilhe com você.Thomas ergueu o corpo e levantou da cama, me ajudando no processo. Quando fiquei de pé, ele me tomou num abraço apertado e beijou o topo da minha cabeça. - Estamos em acordo agora? - Que acordo? - Minha cabeça estava nas nuvens. - Estamos namorando de verdade. Nada de fingimentos ou o que seja. Senti o rosto ficar vermelho novamente e abaixei a cabeça com vergonha. Thomas ergueu meu rosto com um dedo.- Não se esconda de mim, Rain. - Eu vou precisar me acostumar a ser essa garota mais extrovertida que você vê por baixo dessa minha capa de introspecção, Thomas. Ele beijou meus lábios com intensidade. Simples assim. Em um momento estávamos conversando, em outro nos agarrando. Não que eu reclamasse. - Vou levá-la em casa. - De novo esse assunto? Vim de carro, esqueceu? - falei, fingindo irritação.Thomas apenas riu e me puxou pela mão. Saímos de seu quarto e exatamente naquele instante, no corredor, tal qual uma perseguidora do caralho, Cybella surgia em toda a sua glória. - O que vocês dois estavam fazendo aí? - Sua voz era aguda e carregada de irritação. - Não é da sua conta, Cy - Thomas respondeu e continuou seguindo em direção à escada. Cybella parou na nossa frente, impedindo que prosseguíssemos em nossa fuga. Eu disse "nossa", mas na verdade a fuga era minha. Aquela garota me aterrorizava e eu nem sabia a razão.
- Sim. É da minha conta, sim. Aposto que a tia Alyce não vai ficar nem um pouco satisfeita que você esteja trazendo suas vagabundas para o quarto. Uou! A garota pegava pesado nas palavras. Vagabundas? Tipo... no plural? Que eu saiba, eu era apenas uma ali. Não que soubesse muito da frequência com que Thomas recebia visitas no quarto. Aquilo me fez refletir que eu não deveria estar chateada, mas estava. O monstro do ciúme bateu à minha porta. - Olha a forma que fala da minha namorada, Cy. Maneire sua boca e nunca mais se refira à Rainbow desse jeito, porra - ele cuspiu, com ódio no olhar. A criatura repugnante começou a rir com deboche. E lááááá vinha a zoação por causa do meu nome. - Rainbow? Que porra de nome ridículo é esse? - Ela riu descaradamente e Thomas quase partiu pra cima dela. Eu o segurei. - Seus pais devem ser completamente fodidos para terem optado por isso. Antes que eu pudesse me segurar, meu cérebro acionou o turbo e minha língua disparou. - Estranho. Ao menos o significado do meu nome tem tudo a ver com a história que eles viveram no momento em que eu nasci ou fui concebida - falei, e meu tom era sarcástico. - Ao contrário dos seus pais, que erraram feio na escolha do seu nome. Não vejo um pingo de afetuosidade ou beleza em você. A moça fez o favor de manter-se imóvel e em choque com o que falei. E claro que continuei, para mostrar meu verdadeiro potencial de nerd. - Se não sabe o que significa, querida, vá procurar no google. Quem sabe caia na real e perceba que a única que não é digna de carregar o nome que ostenta é você.Ao dizer aquela sentença lindamente elaborada, meu peito se encheu de orgulho e larguei a mão de Thomas, acelerando os passos em direção à escada. Nem sequer escutei o que ele falou em seguida para a louca. Eu queria dar o fora. Meu momento de coragem súbita havia passado. Percebi que posso ter sido até mesmo cruel, já que a garota não tinha pais. Quando cheguei ao terraço, em busca de Sunny ou Storm, Thomas agarrou meu braço e, quando me virou, pude ver um sorriso maravilhoso em seus lábios.- Caralho! Você soube colocar a garota completamente no devido lugar, Rain. Você a deixou sem chão, parecendo uma mosca morta no corredor - ele disse e riu, me abraçando. - Você me enche de orgulho por não aceitar engolir sapo. Eu tive que rir junto, já que sua empolgação era intensa. Mas meu coração parecia que galopava em um ritmo louco. Eu estava apavorada. Sempre fui acostumada a ouvir toda espécie de zombaria com meu nome e nunca revidar. Quem era aquela nova Rainbow que assumia meu corpo e minhas vontades? Sorri para mim mesma quando percebi que aquela era a nova garota que eu queria ser. E estava curtindo muito a mudança.
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Rainbow
Teen FictionRainbow" Walker sempre se sentiu diferente das garotas da sua idade. Com um nome peculiar e uma família estranha, ela nunca conseguiu estabelecer vínculos ou manter muitas amizades. Agora, em uma nova cidade, ela terá de se adaptar a uma nova escola...