Capítulo 13

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Quando a segunda-feira chegou irradiante, o clima não estava compatível com o humor que vibrava dentro do meu peito. Para completar todo o meu martírio, Thomas nem sequer havia telefonado ou mandado uma mensagem no fim de semana, o que me fez um bem enorme, para não dizer o contrário, claro, já que eu estava tremendamente abalada com a notícia bombástica dos meus pais, além de ter causado um estrago imenso em minha tão fragilizada recém-adquirida autoestima.Sunny havia ido para a escola com uma amiga, Storm saíra com sua bicicleta em seu trajeto solitário e eu apenas me sentei atrás do volante do carro, criando coragem para seguir rumo à escola. Meus nervos estavam em frangalhos. Minha vida estava desabando como um castelo de cartas e meu futuro era incerto. Pode ser que eu estivesse muito concentrada apenas nos aspectos negativos de toda aquela merda familiar, mas eu não conseguia ver uma luz no fim do túnel. No final, era nítido o sentimento de abandono que eu e meus irmãos estávamos sentindo. E o pior é que eu estava sentindo o abandono vindo de outro lado também. O que me fez pensar que realmente Thomas havia apenas agido por impulso quando afirmou que "estávamos" namorando de verdade. Porra... eu sabia que, quando os jovens partiam para a universidade, muitos pais apenas viam os filhos uma ou duas vezes ao ano, em feriados importantes, o que caracterizava o clássico estilo de vida americano. A ida para a universidade era um marco no crescimento pessoal do indivíduo jovem em muitas famílias. Era o dito: "Agora é contigo, filhão", o que não me fazia sentir melhor. E meus irmãos? Se eu realmente mandasse meus formulários para alguma universidade, o que seria de meus irmãos que ainda estariam no Ensino Médio? Será que meus pais não viam aquilo? Por quanto tempo seria essa viagem de autoconhecimento que eles planejavam fazer? Meu Deus! Eu praticamente seria responsável pelos meus irmãos mais novos! Nem sequer tomei notas ou peguei detalhes de quanto tempo eles pretendiam fixar residência em Richwood, na tal comunidade hippie. Quando estacionei o carro na minha vaga favorita, percebi que o carro de Thomas já estava ali. Ele não estava por perto, o que me deu um frio no coração agora acelerado. Desci do carro sem coragem alguma e me dirigi à sala de aula. Becca me esperava na porta, impaciente como sempre e, definitivamente, refletindo meu estado de espírito interior. Vestida toda de preto, dos pés à cabeça, incluindo o batom. - Rain! Conte-me tudo! - Ela agarrou meu braço. - Eu estava pronta para ir à festa na sexta-feira quando Pierce vomitou na minha roupa e tivemos que ir embora. Foi nojento e totalmente degradante. Pierce era o namorado de Becca e estudava em outra escola. Eles só se viam nos finais de semana, o que explicava o fato de eu e Becca quase nunca termos saídas de garotas nesses dias. Era extremamente interessante o fato de uma garota tão diferente de mim ter conseguido burlar minha desconfiança e ter ganhado meu coração. - Nossa, que nojento, Becca - falei, fazendo careta. Entramos na sala e, para meu total espanto, Thomas estava sentado exatamente ao lado de Tiffany, a rainha das bruxas más, e nem sequer olhou na minha direção. Acho que fiquei parada em choque por alguns segundos, porque senti o empurrão de Becca para que eu continuasse. Eu não conseguia entender nada, mas meu coração estava realmente doendo. Acho que uma batida falhou e pensei que um caso de arritmia poderia estar rolando no meu peito. E aquilo era uma merda. Era exatamente por isso que não permitia me abrir para ninguém. Porque a dor da separação, quando tínhamos de nos mudar, poderia ser capaz de me destroçar. E agora eu entendia que nem bem precisava me mudar fisicamente de uma cidade a outra para que sentisse aquilo na pele. Passei pela sua cadeira e, já que ele estava fazendo o jogo do "vamos ignorar Rainbow", acabei aceitando participar ativamente dessa ideia. Meu orgulho era muito grande naquele instante para que eu fosse a pessoa a dar o primeiro passo e dizer um oi. - Eu preciso saber de tudo da festa - Becca sussurrou. - Não há nada para contar. O mesmo de sempre, sabe? Música, cerveja camuflada e contrabandeada naqueles copos plásticos vermelhos, pegação. - Hummm... - Ela me deu uma cotovelada. - Soube que houve pegação do seu lado.Tentei disfarçar meu constrangimento escondendo o rosto por trás dos meus cabelos. - Você conheceu Cybella? - ela perguntou e me olhou por baixo da minha cabeleira. - Hum-hum. - Tentei ser vaga. - E aí? - E aí o quê? - Tentei ser mais vaga ainda. - Rain! Deixe de merda e me conte logo, caralho! - ela falou e um grande número de alunos olhou em nossa direção. - Você poderia ser mais discreta, Becca? - pedi irritada. - Pelo amor de Deus! Becca me deu mais uma cotovelada. - Não faz meu estilo ser discreta, Rain, e conta logo tudo. Vomita! Nojenta a imagem que Becca trouxe à minha memória, já que pensei logo no vômito que o infame Pierce jorrara nela. - Eu a conheci e achei que ela é muito... muito... - Gata? - Também. Não restam dúvidas de que a mulher é bonita e faz jus ao fato de ser modelo, mas eu a achei uma completa... - Tentei encontrar uma palavra bacana. - Vaca. Becca começou a rir e mais uma vez fomos o centro das atenções.
O professor entrou na sala e imediatamente entrei no modo nerd, resolvendo ignorar os olhares que Thomas agora me dava. Quando a aula acabou, consegui escapulir rapidamente e fugir pelo corredor, indo me esconder no banheiro feminino. Eu podia sentir que meus olhos estavam marejados e eu morreria antes de demonstrar meus sentimentos ali em público. Eu me tranquei numa cabine e apenas inspirei e expirei vários ciclos fétidos de oxigênio poluído, já que estava no banheiro, e só depois criei coragem para sair. Eu estava quase entrando na sala de aula quando escutei a risadinha de Tiffany atrás de mim. - Você sabe que Thomas me convidou para sair no fim de semana? - ela falava para alguma amiga. Mas me recusei a virar e conferir. Senti que meus olhos tomavam a proporção de um desenho de mangá. - Foi ótimo. Claro que Cybella estava junto, já que saiu com o Mike, mas enfim... foi maravilhoso. Acelerei os passos e entrei de cabeça baixa na sala de aula. Tardiamente, percebi que era a aula de Biologia e que minha dupla normalmente era o próprio Thomas Idiota Reynard.Alegando um mal-estar súbito, saí correndo da sala e me refugiei no banheiro. De novo. Ali, dei vazão às lágrimas. Eu era oficialmente uma torneira aberta. Então, tudo o que ele havia falado para mim na sexta-feira era mentira? Era tudo falso e completamente dispensável? Será que realmente o que Thomas somente queria era marcar mais um xis em sua cabeceira e fui totalmente burra para quase pensar em ceder? Meu coração estava em frangalhos. Minha alma parecia ter sido arrancada e somente havia sobrado a casca de quem eu era ou deveria ser. Naquele instante, senti a imensa vontade de topar a mudança com meus pais e partir para um destino incerto. Dane-se a merda de escola. Eu sentia a vontade insana de me afundar no estilo hippie louco dos meus pais, no qual apenas as ondas psicodélicas faziam sentido. Poderia pedir alguma substância ilícita que facilitasse meu acesso ao mundo louco em que viviam. Podia deixar de cortar o cabelo, usar uma saia arrastando no chão, tomar banho só quando a natureza quisesse... esse tipo de coisa. Quando percebi que o sinal havia batido e eu tinha perdido uma aula, consegui me recompor e me dirigir para a próxima aula martirizante. Graças aos céus, eu não dividia matéria nem com Thomas ou Becca, mas, infelizmente, para completar meu dia, Jason estava lá. Sentei-me o mais distante possível e tentei ignorar qualquer tentativa de contato visual com outros alunos. Agora, eu havia assumido mesmo minha posição de concha. Queria ser uma ostra, protegida por uma carapaça enigmática que impedisse qualquer um de entrar. Jason colocou um bilhete na minha carteira e eu simplesmente ignorei.Quando saí daquela sala, fui direto para a biblioteca, pulando completamente o almoço e as pessoas que encontraria no refeitório. Estava sendo uma covarde total, mas quem me obrigaria? Ninguém. Eu estava imersa em uma leitura nem um pouco interessante quando uma sombra se projetou sobre meu livro e eu contemplei os tênis que apareciam na minha linha de visão. - Rain. Podia detectar o tom ressentido na voz dele. Não ergui o rosto e tentei manter meu modo silencioso. - Rain, por favor. - Ele sentou-se à minha frente e arrancou o livro da minha mão. Bufei irritada e me recusei a olhar para ele. Depois de alguns segundos, Thomas abaixou a cabeça entre seus braços e apenas suspirou. Aproveitei o momento em que ele estava absorto com o rosto mergulhado em seus braços e recolhi minhas coisas, na tentativa de uma fuga bem-sucedida. A aula começaria dali a alguns minutos e eu queria me recompor. Quando estava me levantando da cadeira, Thomas segurou meu braço para me manter no lugar. Seus olhos estavam soltando fagulhas. - Eu preciso falar com você - ele pediu em tom baixo. - Não. Nós não temos nada para conversar. - Tentei sair. Thomas me puxou um pouco mais bruscamente e acabei sentada com força na cadeira. Eu podia sentir minha irritação subindo à vida.- Eu. Preciso. Falar. Com. Você - ele falou entre os dentes. - Agora! Por favor. Soltei o braço de seu agarre e devolvi o olhar irritado a ele. - Tenho aula em quinze minutos, Thomas - falei de maneira robótica. - Eu... eu preciso... preciso... - Explicar por que nem sequer me ligou ou entrou em contato comigo no fim de semana inteiro e escolheu sair com Tiffany? - cuspi a informação que estava me matando desde cedo. - É isso? Ele me olhou, completamente chocado.- Como assim, saí com a Tiffany? - Sabe, Thomas, existe uma razão para que eu seja uma pessoa fechada. Mas nem por isso sou burra ou desconectada com o que acontece ao meu redor, portanto, corte a enrolação e diga logo o que você quer, okay? Ele continuava chocado, apenas me encarando sem entender. - Eu não saí porra nenhuma com a Tiffany! - ele falou quase se sentindo insultado. - Okay. Informação errônea, então? Ah! Espera... foi a própria Tiffany que fez questão de alardear este acontecimento único e especial! - Meu sarcasmo estava funcionando como um tornado de categoria F5. Thomas segurou meus braços quase me sacudindo. - Você vai acreditar em mim ou o quê? - Ele estava revoltado. - Se eu te digo que não saí com a Tiffany é porque não saí, porra! - Bom, achei vocês bem à vontade na aula mais cedo. Então as informações batem, o que me leva a duvidar da veracidade das suas palavras - falei, mas podia sentir o cansaço se abater sobre o meu corpo de maneira brusca. - Rain, eu não saí com a Tiffany. Ela estava no mesmo lugar onde eu estava! Saí com Mike e minutos depois a louca da Cybella apareceu! - ele falava desesperado. - Tiffany estava lá e, querendo puxar o saco da Cy, sentou com a gente! - Okay - falei sem vida. - Rainbow! - ele quase gritou. - Porra! Por que não acredita em mim? Eu me levantei quando escutei o sinal bater e ajeitei a mochila no ombro. - Porque precisei muito de você no fim de semana, mas parece que a recíproca não era verdadeira. Dizendo isso, saí em disparada da biblioteca, mas, em vez de me dirigir para a aula, resolvi adotar o estilo irresponsável de um aluno que mata aula, e fugi para o meu carro. Uma merda. Era como aquele dia estava. Uma merda total. Acrescentar um pouco mais não faria diferença. Além do mais, meus pais não poderiam sequer erguer a voz para uma bronca bem dada. Eu estava simplesmente deixando que meu espírito vagasse livre. Thomas Depois que Rainbow saiu da biblioteca, tentei organizar meus pensamentos, esfriar minhas decisões, mas era difícil em virtude do que estava sentindo. Eu podia ver que havia magoado seu coração. A dor estava em seus olhos no exato momento em que ela entrou na sala de aula mais cedo. Passei pelo corredor e fui direto para a aula que eu sabia que seria a próxima dela. Acusem-me de perseguidor, mas eu conhecia toda a sua grade horária. Quando vi que não havia nenhum sinal de Rainbow por ali, corri para fora do estacionamento e percebi que seu carro não estava mais lá. Porra! Eu havia feito com que ela fugisse da aula, da escola, de mim. Provavelmente até de si mesma. E a culpa era toda minha. Porque fui um idiota, filho da puta e insensível de merda. Olhei para o céu e percebi que
cairia uma chuva torrencial em breve. Minha decisão já estava tomada antes mesmo de eu executar meu próximo piscar de olhos.

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