Capítulo 29

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Corri pelo estacionamento, tentando segurar as lágrimas que teimavam em brotar em meus olhos. Eu odiava chorar na frente de qualquer pessoa. Para mim era um supersinal de fraqueza. Meu braço foi agarrado e fui puxada repentinamente para trás. Um Thomas muito bravo lançava faíscas em minha direção. - Que merda há com você, garota? Eu não conseguia entender a razão de tanta irritação, quando na verdade era eu a pessoa que deveria estar exaltada. - Não há nada comigo, Thomas. Deixe-me ir. - Meu tom de voz era duro, mas cansado. Eu estava extremamente exausta de tentar lutar contra forças invisíveis todos os dias naquela escola. - Não! Você precisa se acalmar e me explicar que diabos está acontecendo. Você tem me evitado por três dias, Rainbow! Senti meu corpo se retrair diante da mágoa em seus olhos. - Sabe o que está acontecendo, Thomas? - senti a explosão se aproximando. - O que acontece é que esta escola consegue ser uma concha mais fechada do que o meu próprio jeito retraído. Por mais que eu tenha tentado fazer amizade e deixar de ser a garota revoltada que você me acusou... - Ele tentou me abraçar, mas eu não permiti. - Não! Eu preciso falar agora! Ele ergueu as mãos e ficou calado. - Tentei ser uma pessoa diferente da que você me acusou. Tentei abrir mais meu leque de oportunidades para ser amiga de outras pessoas, além de mim mesma. E sabe o que aconteceu? Nada! Porque é essa escola elitizada que faz questão de manter os forasteiros completamente de fora de qualquer coisa! E isso é muito pra mim! - Lágrimas caíam dos meus olhos e eu estava me sentindo uma idiota total. - Vou pedir aos meus pais para nos mudar de escola, para nos levar para essa porra de comunidade em Richmond, sei lá... Não há nada que me prenda aqui. Ele estava chocado. Em seus olhos eu podia ver a dor que estava causando. Quando me virei para ir embora, achei que ele pegaria minha deixa e se afastaria de mim completamente. Minha vontade de chorar só aumentou. Eu queria o conforto da solidão do meu carro, ou simplesmente o colo da minha mãe. Thomas me abraçou por trás e simplesmente me impediu de continuar minha caminhada embaraçada. - Você não pode estar falando sério, Rain! - Seu tom era desesperado. - Não pode fugir assim. Eu apenas solucei. - Você não pode simplesmente me jogar para escanteio e dizer que eu não represento nada pra você. - Eu... eu... não disse isso...- Em outras palavras, você disse. Não há nada que te prenda aqui? Nada que valha a pena pra você ficar? - Ele me virou de frente para ele e continuou em seu abraço de urso. Seus olhos brilhavam loucamente agora. - O que eu sou pra você? O que nós somos um para o outro? Nesse tempo todo? Não sabia o que dizer ou o que ele gostaria que eu dissesse. Mentira. Claro que eu sabia o que ele queria. Mas era muito para mim, naquele momento. Expor tudo assim, de maneira tão crua. - Se você não quer falar, então deixe que falo eu - ele disse e foi andando, levando meu corpo, de costas, em direção ao meu carro.Senti quando ele me apoiou totalmente na lateral do veículo. - Eu te amo, sua boba. Eu te amo tanto que chega a doer, porra. Eu estava sem fala. Apenas abri a boca. Não esperava que ele simplesmente abrisse o verbo assim tão eloquentemente. - O... o quê? Ele pegou meu rosto entre suas mãos e encostou a testa à minha. - Eu te amo, Rainbow. Não acredito que você nunca tenha realmente percebido a intensidade dos meus sentimentos por você... Seus olhos intensos apenas mostravam que suas palavras eram verdadeiras. - Eu... achei que... você gostasse de mim... que... - Você acha que todas as vezes em que estive com você, durante todo esse tempo, eu estava fingindo, Rainbow? - Seu tom de voz parecia ferido. - Vai me dizer que não sentiu absolutamente nada enquanto estivemos juntos? Por todo esse tempo? Que nunca desconfiou que meus sentimentos por você são tão ou mais profundos que o oceano? Uau. Como ele estava poético. Espera... aquela não era uma letra de uma música? - Não... eu... senti... é que...- Eu usei a desculpa mais esfarrapada de todas para me aproximar de você. Praticamente me humilhei, correndo o sério risco de ter você rindo na minha cara, quando implorei que me ajudasse quanto à minha prima. - Thomas segurou meu rosto como se fosse algo precioso. - Aquilo foi tão perfeito, porque me deu a desculpa ideal para estar ao seu lado. - Thomas... - Passei as mãos pelo seu rosto lindo que me olhava em desespero. - Eu... não quis dizer daquela forma... que não há nada que me prenda aqui. Eu... eu... Thomas não esperou nada mais.Ele me puxou para seus braços e me beijou de maneira intensa, ignorando o fato de que estávamos no estacionamento da escola. Poderíamos ser pegos e suspensos. - Eu te amo, Rain. Sem esperar minha resposta ou réplica, Thomas me puxou para o seu carro e abriu a porta, me colocando ali dentro como se eu fosse um ser inanimado. Tudo bem que eu estava um pouco estupefata e em choque, mas não precisava exagerar, certo? Entrando no carro, Thomas simplesmente deu partida no carro e saiu dali.- Para onde estamos indo? - perguntei, incerta. - Para um esconderijo secreto, onde escondo o corpo de garotas impertinentes. Senti o riso em meu rosto, mas em seguida as palavras das meninas maldosas irromperam em minha mente. - Thomas... - Não pense em nada, baby. - Eu preciso pensar - eu disse e virei para olhar diretamente para ele. - Preciso dizer. Thomas não desacelerou o carro.- Nós não pertencemos um ao outro, Thomas. Vi quando o maxilar rangeu e seu semblante ficou petrificado. - Quem disse isso, Rainbow? - ele perguntou e sua voz denotava irritação. - Eu... eu... - Essa é uma das razões por que você tem me evitado estes três dias? Olhei para o para-brisa, envergonhada da minha atitude infantil. - Eu não sei o que fazer. Não sei como agir... ou como lidar... - falei simplesmente. - Nem sequer tenho a figura da minha mãe aqui para tirar dúvidas sobre como agir em um relacionamento. Minha fonte de pesquisa é a Sunshine e ela é mais nova do que eu, então veja o quanto sou patética. - Você não é patética. Quando Thomas parou o carro, percebi que estávamos na porta da minha casa. - O que estamos fazendo na minha casa, se meu carro ficou na escola? - perguntei com um sorriso. - Aqui é seu lugar seguro. O lugar onde você se sente mais confortável, é sua zona confiável. E aqui podemos dar uns amassos sem risco de sermos pegos. Dei um tapa no seu braço e apenas escutei quando ele riu e saiu do carro. Quando Thomas abriu a porta para mim, tal qual um cavalheiro, apenas dei um sorriso contemplativo. Oh, meu Deus! Aquele garoto me conduzia pelo dedo mindinho. Thomas já entrava em minha casa como se fosse a dele. Subiu as escadas me puxando pela mão e, ao chegar em meu quarto, trancou a porta e colocou a chave no bolso.- Okay. Daqui você só sai depois que abrir todo esse seu coração para mim - Thomas disse, andando em minha direção e me encurralando em direção à cama. - Por que tudo para você tem que terminar com uma conversa de travesseiros? - Porra... não me fale em conversas de travesseiros, Rainbow - ele disse e apertou a ponta do nariz, como se estivesse sentindo uma dor insuportável. - Por quê? Thomas retirou de seu bolso um pequeno pen-drive e estendeu para mim. Seu rosto estava no mais belo tom de vermelho que eu já tinha visto. Ele parecia um garotinho completamente envergonhado. - O que é isso? - Bom, se eu for seguir seu exemplo e responder sarcasticamente, eu direi que é um pen-drive, sabe? - Dei-lhe um puxão no cabelo. - Coloquei algumas músicas pra você aí... Comecei a rir sozinha quando meu cérebro fez as sinapses certas e associei a piada anterior. Eu era rápida assim. - Você colocou Pillowtalk, do Zayn, aqui, Thomas? - perguntei e senti que meus olhos brilhavam de pura emoção. - Para mim? Thomas coçou o rosto e aquele barulhinho gostoso de barba querendo crescer atraiu minha atenção. - Foi muito torturante fazer isso por você, mas... sabe? - Ele me deu um beijo doce. - Você vale totalmente a pena. Enlacei seu pescoço e o puxei em direção à cama, aguentando quando seu peso caiu todo em cima de mim. - Eu te amo, Thomas. Do mais profundo do meu coração. Vi quando ele fechou os olhos e suspirou com alívio. - Fico muito feliz, porque se não teria sido um mico muito mais assustador ter feito o download de todas essas merdas musicais que você ama e não saber o que fazer com elas... Eu o beijei. A iniciativa daquela vez tinha sido minha. Totalmente minha. Agarrei os cabelos lindos que aquele garoto tinha e simplesmente resolvi possuir sua boca. Não é preciso dizer que Thomas rapidamente pegou o gatilho e correspondeu prontamente, assumindo o comando. Raios de garoto dominador. Suas mãos moviam-se no mesmo ritmo frenético de seus lábios, percorrendo meu corpo, fazendo arder algumas chamas indeléveis e muito particulares... Eu podia não estar pronta para o grande salto no abismo, mas também não significava que não poderia deixar meu corpo "sentir" um pouco mais aquelas emoções arrebatadoras que somente ele conseguia despertar. - Eu te amo, Rain. - E eu te amo. Éramos uma dupla melosa de declarações poéticas e cheias de profundidade. Quando Thomas percebeu que seu controle já estaria por um fio, resolveu frear nosso arroubo apaixonado e recostou sua testa à minha. - Porra, eu te amo. Eu ri sozinha, porque acho que ele tinha falado aquela frase pelo menos umas vinte vezes. Mas quem estava contando? Eu. Olhando para mim com aqueles olhos de gato, um verde magnético e cheio de energia sedutora, Thomas passou as mãos pelo meu rosto delicadamente. - Agora me diga o que vem te atormentando. Por favor. Como ele permitiu que nos ajeitássemos na cama, sem que nossos corpos estivessem tão em contato e naquela fricção louca e maldosa, eu me preparei para compartilhar minhas dúvidas. - Tiffany meio que me fez ver que nós não somos compatíveis, Thomas. Senti seu corpo ficar retesado e ondas de ódio vibrando em seu peito. - Porra... e quem é ela para te dizer isso? E por que você tem que dar ouvidos a ela? - Eu sei que agi de maneira imatura ao dar ouvidos e... de acordo com o que elas esperavam... - Elas? - Pelo jeito não passou de um plano de sua prima para me fazer cair na real para o fato de você pertencer a ela e pronto. - Puta que pariu! Thomas agora estava puto. Ele levantou-se da minha cama, como se seu corpo tivesse sido ejetado por uma mola. - Essa mulher está completamente louca! Eu juro, já estou perdendo totalmente a paciência! Segurei minha língua para dizer que ele já devia ter perdido há muito tempo, mas fiquei quieta. Se era assunto familiar, eles que se resolvessem.- Thomas... eu só peço desculpas, porque acabou que, com todo o negócio do Jason essa semana e Tiffany me jogando suco no corred... - Jogando suco no corredor? Como assim? Opa. Esqueci que ele não sabia. - No mesmo dia do Jason. Assim que saí da sala do diretor. Foi daí que ela começou a me acossar e me falar das fotos com sua prima e em como vocês eram felizes e faziam um casal lindo e tal. Thomas andava de um lado para outro. - Sua prima vem este fim de semana, você sabia? Ele olhou para mim rapidamente. - Como assim? Como você sabe? - Tiffany comentou com as amigas no banheiro hoje. Parece, inclusive, que Tiffany vai a Manhattan com Cybella, por ter conseguido nos afastar. - Ou assim elas pensam - Thomas disse puto. - Ou assim elas pensam. Thomas voltou para a cama e, quando me abraçou, escutamos as batidas na porta do quarto. - Muito bem, vocês dois! Podem acabar a putaria aí, agora! Eu cheguei e aqui nesta casa não haverá fornicação!!! - Storm gritou a plenos pulmões. Começamos a rir, os dois, do próprio desatino de Storm, bem como da situação. Depois de um tempo em silêncio, simplesmente olhei diretamente em seus olhos e perguntei: - Por que você me ama, Thomas? O que viu em mim? - Não só o que vi, mas o que vejo, Rain. - E o que é? O que me faz tão diferente e atrativa pra você, quando tudo e todos tentam me fazer crer o contrário? - Você é linda, Rainbow - ele falou finalmente. - Apenas você não se enxerga assim. Eu consigo quase ler sua alma através dos seus olhos. Eles são reveladores. Você se sente diferente dos outros, muito porque carrega um nome atípico, mas se sente um peixe fora d'água em qualquer lugar que vá. Não consegue se relacionar com as pessoas porque você mesma se isola em sua bolha pessoal. - Acho que você já me disse isso uma vez - respondi amuada. - Sim. E falo outra vez. Sendo assim, não consegue enxergar a beleza que existe em você. - Ele passou as mãos pelos meus cabelos enquanto me olhava por todo o rosto. - E não digo apenas fisicamente. Mas por dentro. Senti quando a primeira lágrima tentou descer furtivamente. Ali. À espreita. Sorrateira. A próxima já quis liberar o comboio e, quando vi, eu me debulhava em lágrimas espessas, em cima do peito de Thomas, fazendo uma lambança em sua camiseta, mas pouco me importando com a coisa toda. - Eu não acho que mereça você, sabe? - eu disse entre os soluços. - Porque... porque... eu nem... sou uma pessoa tão legal... assim... - Ei! Quem disse isso? - ele perguntou e olhou diretamente para mim. - Esqueça essa pergunta. Eu sei quem te disse isso, mas te pergunto: por que se importa com a opinião dessas pessoas e simplesmente ignora a opinião daqueles que realmente se importam com você? Sacudi a cabeça sem saber o que responder. - Rainbow... você é a pessoa mais doce que já conheci. Olhei para ele com uma sobrancelha erguida, em pura descrença. - É sério. Sua doçura vem de dentro. E não estou falando dessas porras de troca de insulina, caralho. Estou falando daqui. - Sua mão cobriu meu coração novamente. - Você é leal, você é forte... - Não sou... eu sou fraca... - Não! Não é! - Thomas, eu simplesmente me enfiei neste quarto e fiquei aqui três dias seguidos porque não estava com coragem de enfrentar o mundo. Ou você. Ninguém. Em muitos momentos simplesmente me vejo em um túnel completamente escuro onde não consigo ver a luz no fim. - Rainbow... quando se sentir em um túnel escuro e não conseguir ver a luz lááá no final... - ele disse e me beijou ternamente. - Lembre-se de que eu vou estar lá,tentando iluminar o local, nem que seja com um palito de fósforo. Comecei a rir. - Um palito de fósforo queima muito rápido, seu bobo. Quando eu pensar que vi a luz, puft! Apagou. - Eu queimo um atrás do outro. E seguro o palito, até que queime meus dedos, mas estarei lá, simplesmente para te mostrar que basta você seguir reto. Eu vou estar te esperando. Meu Deus. Poderia haver declaração mais linda do que essa? Em um dia medonho e quando minhas emoções estavam esfarrapadas? - Então é melhor que eu não entre nesse túnel escuro, não é? - Concordo plenamente, meu amor. Bam! Bam! Bam! - Eu vou dar três segundos inteiros para vocês dois vestirem as roupas, que espero que não tenham sido retiradas em hipótese alguma, para descerem aqui e prepararem alguma coisa para comer. Estou com fome pra caralho. Ah... e Rainbow? Demorei a responder, já que tentava controlar meu riso e Thomas ria com a cabeça enfiada no vão do meu pescoço. - Sim? - Estou muito farto de macarrão. Vamos inovar, okay? Meu irmão era absolutamente sem noção. Mas eu o amava. E minha irmã desmiolada também. E o cara lindo que estava ali ao meu lado e servindo de farol para me guiar em meus momentos mais sombrios.

Thomas

Admitir que eu poderia estar um pouco amedrontado porque Rainbow esteve fugindo de mim por três longos dias podia acabar me enquadrando no time dos maricas, mas o sentimento era mais forte do que eu. Durante aqueles últimos dias, Rainbow não respondera a nenhuma tentativa minha de contato. Me dispensou com poucas palavras, alegando estar muito cansada, ou qualquer merda de meninas. Eu sabia que havia algo estranho ali. Aquela não era minha garota. Quando, por fim, consegui acuá-la na escola, e ouvi suas palavras saltando de sua boca, alegando que não havia nada que a prendesse ali, senti como se mil punhais penetrassem meu peito. Simultaneamente. E girando, para fazer um efeito mais devastador nos meus órgãos internos. Era minha sorte que Rainbow fosse tão transparente quanto um copo de cristal. Seus olhos reveladores não conseguiam esconder nada. E estava nítido que havia alguma coisa que a tinha deixado preocupada ou com algum grilo na cabeça. Graças a Deus consegui que minha garota não fechasse a porta de seus sentimentos na minha cara. E que confessasse seu amor por mim, da mesma forma que eu dedicava totalmente o meu amor a ela. Era incrível que eu estivesse completamente apaixonado aos dezessete anos. Se alguém me dissesse essa merda há algum tempo, eu riria na cara da pessoa e seria capaz de dar um soco para completar o quadro. Mas ali estava eu, Thomas Reynard, sem saber ao certo o que fazer da vida, se uma certa garota não fizesse parte do cenário. Eu sabia, inclusive, que Rainbow não aplicara nenhum formulário de faculdade. Com a indecisão do que ela faria, nem eu conseguia decidir ao certo o meu próprio caminho. Quão imbecil poderia ser isso? Mas isso era o que o amor fazia com a pessoa. Eu não conseguia atinar com a possibilidade de me jogar em uma universidade longe da minha garota. Em hipótese alguma. E se eu tivesse que esperar um pouco para ver aonde os nossos caminhos nos levariam, eu faria. Porém, sabia que a decisão chegaria rapidamente. Cinco universidades já estavam na minha cola. Meu pai já estava perturbando para saber qual seria a minha escolha. Mas não deixaria ninguém forçar a barra nas decisões que eu precisaria tomar. Especialmente quando meu coração estava totalmente envolvido no assunto. E foda-se o resto. Simples assim.

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