Capítulo 16

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Eu estava relutante em encerrar aquele dia escolar e ir para casa. Sabia que estava deprimida e não havia falado nada para o Thomas. A despedida meio brusca dos meus pais na cozinha, naquela manhã, fez com que eu mergulhasse em meu próprio conflito. Na verdade, eu já estava era cansada de viver em eterno conflito. Quando estava indo para o meu carro, senti um puxão no cotovelo. Thomas me segurava com um pedido no olhar.- O quê? - perguntei sem entender. - Fica comigo hoje. - Seu pedido era tão doce quanto carente. Meu coração deu um pulo incomum e apenas deixei que ele me abraçasse. - Não posso, Thomas - falei e enfiei o nariz em seu peito, sentindo o cheiro da colônia que ele sempre usava. - Tenho que ir para casa e cuidar dos meus irmãos, ver as coisas. Ele puxou meu rosto para cima e olhou diretamente em meus olhos.- Seus pais já foram? Apenas acenei a cabeça, tentando afastar a imensa vontade de chorar. Caralho. Eu já estava quase me desidratando. - Posso ir com você então? - perguntou sem jeito. Acenei afirmativamente, porque eu realmente precisava de um carinho naquele momento. E ele era a pessoa ideal para cobrir o buraco que estava no meu peito. Como ambos estávamos em nossos respectivos carros, cada um seguiu para o seu, lado a lado no estacionamento. Sorri para ele e nossa troca de olhares foi mais doce do que eu poderia imaginar.Peguei meu celular e chequei as mensagens. Storm já havia ido para o treino e de lá pegaria carona com um amigo. Sunny realmente não fora para a aula. Seguimos calmamente pela via que levava à minha casa, e eu tentava não pensar em como seria chegar lá e dar com a total ausência dos meus pais. Acho que eu ainda acalentava o sonho de que eles desistiriam daquilo tudo, ou diriam que era apenas uma brincadeira. Parei o carro e Thomas estacionou o dele logo atrás. Ele segurou minha mão enquanto seguíamos para a porta de entrada. - Sunny? - chamei minha irmã enquanto largava a chave na mesa ao lado da porta e deixava a mochila no sofá mais próximo. Sunny estava deitada enrodilhada no sofá do canto e seus olhos estavam completamente vermelhos de tanto chorar. Sentei ao seu lado e a abracei. - Eles... eles... nem... mudaram de ideia, Rain - ela falou entre as lágrimas. - Eu sei - disse e afaguei sua cabeça. - Mas vamos passar por essa numa boa, Sunny.Eu também dizia isso a mim mesma. Thomas chegava naquele instante com um copo com água. Garoto perceptivo. Estava conquistando mais ainda meu coração somente em demonstrar aquele cuidado com minha irmã. Sunshine sentou-se no sofá e aceitou o copo oferecido por Thomas, erguendo os olhos inchados para ele, em um agradecimento mudo. - Você está bem? - ele perguntou delicadamente. - Não. Mas vou ficar. - Foi a resposta corajosa de minha irmã.Dei um beijo em seu rosto e me levantei. Eu tinha de fazer alguma coisa para me ocupar. - Quer comer alguma coisa? - perguntei ao Thomas. - Ah... não, obrigado - disse e me seguiu para a cozinha. Abri a geladeira em busca de algo e, ao ver os mantimentos ali, meu coração caiu. Fechei a porta e encostei a testa nela. Comecei a chorar imediatamente. Thomas me abraçou por trás e apenas me sustentou ali. - O que posso fazer por você, Rain? - Seu tom era agoniado.Eu sabia que a maioria dos garotos fugia quando as meninas choravam em seus braços. Thomas estava firme na posição de ser meu ombro consolador. Girei entre seus braços e ergui os meus para enlaçar seu pescoço, afundando o rosto naquele vão que eu tanto amava. É. Estava mais fácil assimilar a ideia do pensamento romântico agora. - Nada. Só me abrace. - Foi minha resposta. Nem sei quanto tempo ficamos abraçados na cozinha. Quando dei por mim, eu estava sentada no colo dele, que estava sentado na cadeira.Quando, por fim, senti que meu reservatório de lágrimas havia secado, ergui o rosto tentando não pensar em quão trágico devia estar meu visual. Thomas beijou a pálpebra dos meus olhos, minhas bochechas, um ponto abaixo da minha orelha, o que me deu calafrios gostosos, meu pescoço, até chegar à boca, onde depositou suaves pinceladas com seus lábios macios. Abri os olhos e ficamos nos encarando por um momento. - Obrigada. - Sempre ao seu dispor para ser seu lenço, Rain. - Ele deu uma piscadela. Com um abraço forte, ele olhou profundamente em meus olhos e disse: - Você é a garota mais corajosa que já conheci. E vai passar por isso com maestria. - Mesmo que eu esteja agindo como um bebê chorão? - Mesmo assim. Não pode trancar seus sentimentos, Rainbow - ele disse sério. - Você, mais do que ninguém, tem todo o direito de estar magoada, ferida, sentindo-se abandonada. Dê vazão a estes sentimentos. Perdoe minha opinião, mas seus pais foram egoístas em pensar somente neles.Retesei o corpo e o olhei. - De que adiantaria se fizéssemos de tudo para que eles não fossem? - perguntei com sinceridade. - Eles ficariam, mas estariam tristes porque estaríamos tirando essa oportunidade deles. Às vezes penso que não deveríamos ter nascido, sabe? Penso que acabamos atrapalhando. - Sssshhhhh. - Ele colocou a mão na minha boca. - Nem pense nisso, Rain. Sacudi a cabeça em concordância para manter esta opinião pessoal para mim. Eu também não precisava que Sunny ouvisse tudo isso. Naquele momento, como se tivesse invocado sua presença, ela entrou na cozinha, completamente vestida para sair. - Tayllie veio me buscar. Vou sair um pouco, mas volto antes das dez, okay? - ela falou. Teríamos de conversar sobre ajustes em nossos horários, porque, por mais que nossos pais não estivessem ali para controlar, eu tinha a responsabilidade de olhar por eles. Eu só não poderia exigir nada daquilo naquele momento.- Okay. Leve o celular. Ela acenou e timidamente se despediu de Thomas. Quando ouvimos a porta bater, Thomas se levantou e me puxou com ele, para que nos acomodássemos no sofá da sala. - O que você acha - ele começou dizendo e seu sorriso era genuinamente safado - de darmos uns amassos nesse seu sofá? Comecei a rir porque só ele mesmo para conseguir que eu esquecesse de todo o meu drama pessoal. Quando caí ao seu lado no sofá, o sorriso morreu em meus lábios ao me deparar com o fogo que ardia naqueles olhos felinos. - Vem cá, Rain. - Foi sua demanda. Eu apenas obedeci. Aconcheguei meu corpo ao dele e senti seus lábios buscando os meus. Todos aqueles sentimentos eram muito novos para mim, mas eu podia identificar as fagulhas que pinicavam meu corpo. Seu beijo foi ficando cada vez mais intenso e, quando percebi, estava deitada sob seu corpo forte, completamente afundada nas almofadas do sofá. Thomas segurava meus punhos acima da cabeça e sua boca devastava a minha, acendendo mais ainda o fogo que antes ardia placidamente. Uma de suas mãos percorreu a lateral das minhas costelas e, quando estava para abarcar meu seio, eu me retesei, fazendo com que Thomas parasse imediatamente suas investidas. - Desculpa, desculpa... - ele disse ofegante e afundou o rosto no vão do meu pescoço. - Rain, desculpa. - Okay. Thomas, desculpa. Ele ergueu a cabeça bruscamente e seus olhos travaram nos meus.- Eu sei por que estou pedindo desculpas, mas você está se desculpando pelo quê? - ele perguntou abruptamente. - Porque... porque... não consigo corresponder ao que... o que... você precisa... ou quer - eu disse e senti vontade de me enfiar embaixo das almofadas. - Ssshhh... - Thomas calou minha boca com um beijo. - Você não tem que pedir desculpas, Rain. Eu que me excedi. Mil perdões. Ele beijou meu pescoço e puxou uma respiração profunda. - Você me excita mais do que qualquer garota com quem já estive - admitiu. - E eu sei que você é inexperiente e... porra. - Ele depositou um beijo gostoso em meu pescoço. Senti um formigamento correr por todas as minhas fibras. - Eu nunca vou apressar você, nunca - ele disse, olhando novamente em meus olhos. - Vou respeitar o tempo que você quiser porque eu apenas quero estar ao seu lado, okay? Assenti e passei os braços pelo seu pescoço. - Não sou nem um pouco contra alguns beijos ardentes e uns amassos - falei com timidez. - Só não acho que esteja preparada para um passo tão importante quanto... Eu não conseguia falar. - Eu sei, amor - Thomas finalizou por mim. Senti um alívio imenso. Meu namorado, além de lindo, era mais do que compreensivo e gostoso. Muito gostoso. Eu já disse gostoso? Quantas vezes? Não custava nada reafirmar essa verdade absoluta. Thomas Reynard era o epítome da gostosura. E eu estava me transformando em uma devassa total. A porta de casa se abriu e Thomas saiu de cima de mim rapidamente, fazendo com que eu me erguesse e tentasse me ajeitar. Storm entrou na sala fazendo jus ao seu nome e nos olhou com cara de poucos amigos. - Olha só - ele começou. - Não é porque a mãe e o pai não estão aqui que a coisa vai ser liberada, okay? - ele falou, olhando diretamente para Thomas. - E eu não estou nem aí para o fato de você ser o quarterback do time e poder barrar qualquer tentativa minha de fazer parte da equipe. Ou derrubar minha bunda no campo. Ou fora dele... Thomas olhou com respeito renovado para meu irmão. - Não aconteceu nada, Torm - falei sem graça. - Porque eu cheguei! - Não. Porque eu decidi que não ia acontecer nada. Estávamos apenas nos... - Pegando - ele completou. Senti meu rosto esquentar e, quando olhei para Thomas, o descarado estava rindo. Rindo da minha desgraça. - Okay. Apenas deixei meu recado. Nada de amassos quentes e pegajosos aqui no sofá. Eu deito aqui para assistir TV, porra! A indignação do meu irmão era por causa do sofá? Comecei a rir e Thomas me acompanhou. Depois de mais alguns minutos, nos despedimos na porta de casa e senti uma leveza no peito que há muito tempo não sentia. Sunny chegou na hora combinada e, depois de averiguar que todos haviam feito seus deveres de casa, mesmo Sunshine, que não havia ido à aula, nos organizamos para dormir. A porta do quarto dos meus pais foi deixada fechada, para que tivéssemos a breve sensação de que eles estavam ali. Era um sentimento fugaz, mas ao menos nos daria a sensação de segurança de que eles estavam presentes. Mesmo que não estivessem.

Thomas

Digam o que quiserem, pensem o que quiserem. Eu estou irremediavelmente apaixonado por Rainbow. E embora cada vez que esteja ao seu lado fique mais difícil conter meus impulsos apaixonados e que me fazem um macho da espécie, também não consigo visualizar, em hipótese alguma, ferir os sentimentos dela em prol dos meus, ou da satisfação do meu prazer próprio, forçando-a a dar um passo, para o qual talvez não esteja preparada, para seguir em frente em nosso namoro.Enquanto dirigia meu carro de volta para casa, meus pensamentos vagavam para a garota que deixei solitária naquela casa imensa, ao lado apenas de seus irmãos. Por mais que meu pai viajasse muito a trabalho e durante muitas noites ele estivesse ausente, ainda assim, a sensação de unidade familiar sempre foi presente na minha casa. E o que eu sentia naquele instante, na residência dos Walker, era que uma rachadura havia se instalado e trazia uma brisa gélida, cheia de desconforto e angústia para a garota que era dona dos meus pensamentos. Minha vontade era dar meia-volta e acampar ali mesmo. Firmarmeus pés e falar que eu ficaria com eles até que os pais deles voltassem. Que eu seria o guardião, o cuidador, ou o caralho a quatro. Mesmo que eu soubesse que havia a figura masculina de Storm, ainda assim, eu sentia arder em mim a intensa e insana vontade de simplesmente querer cuidar da minha garota.

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