Capítulo 9

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Thomas olhou intensamente para mim. - E então? O que você me diz? Percebi que ele amenizou meu desconforto, voltando ao assunto anterior, o da ajuda requerida quanto ao problema com o furacão Cybella. Mordi o lábio, pensando. - Seria uma espécie de fingir que estamos namorando? - perguntei porque queria conhecer os termos exatos do esquema. Não queria deixar margens para dúvidas. Tinha medo do que poderia se originar dali, mas pretendia ajudá-lo. Quem eu estava enganando? Estava completamente fascinada pela ideia de ser a namorada de Thomas Reynard. Mesmo que de mentira. Eu estava preocupada que algum alienígena houvesse se apossado do meu corpo e mudado minha personalidade. Aquela não era eu! Definitivamente. - Bem... ah... sim... Minha decepção foi enorme.- Mas temos que realmente deixar claro que estamos namorando. Qualquer percepção de que estamos fingindo pode fazer com que Cybella surte - ele disse, avaliando minha reação. - E o que impedirá que ela surte quando souber que você não está disponível, Thomas? Que está com outra pessoa? - Era uma dúvida plausível. - Até então, minha mãe acredita que Cybella não vai querer entrar em nenhuma espécie de escândalo e vai segurar a onda. O lance do namoro é muito para que minha mãe ajude no processo e não me force a estar com Cybella. Ela respeita meus sentimentos -Thomas disse convicto. Pensei que talvez não respeitasse tanto, já que colocara aquele peso nos ombros do filho, mesmo que implicitamente, mas tudo bem. - Você concorda? Eu já até falei para minha mãe que estava com você. - O quê? - Eu precisava dar nome aos bois. Fingi estar irritada. - Okay, este é aquele momento em que me sinto uma vaca - falei com cara feia. - No sentido literal.Ele riu. - Rainbow. - Certo, Thomas. Eu vou te ajudar - disse e ele suspirou. - E Deus me ajude - sussurrei para que ele não escutasse. Thomas acertou a conta e fomos embora para casa. Minha mãe já tinha mandado uma mensagem questionando que horas eu estaria de volta. Estávamos em um silêncio embaraçoso, mas uma pergunta que martelava minha mente aflorou e, quando menos esperava, ela saiu em disparada da minha boca.- Você não era uma espécie de prometido da irmã do Jason Carson? - Cobri a boca em choque. Ele olhou com espanto para mim e apenas abriu a boca. - Onde você ouviu esse absurdo? - ele perguntou com a voz meio esganiçada. Olhei para ele e percebi que seu tom era realmente chocado. - h, Jason falou algo assim na outra noite. No dia daquela festa... quando dançamos... Que vontade de me socar! Mais uma vez, perdi a oportunidade de ficar calada! Ele começou a rir. - Não estou entendendo o seu acesso de riso. - Cruzei os braços, já começando a sentir a irritação surgir. Quando por fim ele conseguiu parar, secou as lágrimas, que ardiam em seus olhos. - A irmã de Jason tem dez anos, Rainbow. - Thomas olhou para mim, que havia ficado petrificada no assento. - Ela diz que é minha prometida desde que a salvei de uma queda no jardim de infância quando tinha apenas quatro anos de idade. Nem sei bem o porquê, mas soltei o ar que estava prendendo. Aquilo foi um alívio, embora o tom de alerta de Jason tivesse sido definitivamente muito real. - Ele não tem outra irmã? - perguntei desconfiada. - Não que eu saiba - respondeu ainda rindo. Depois daquilo, resolvi me abster em minha vergonha e ficar calada até chegarmos em casa. Quando chegamos, eu ia descer rapidamente do carro, evitando o momento fatídico do constrangimento entre nós dois, porém Thomas foi mais rápido e segurou meu cotovelo.- Ei. Virei o rosto para o dele, e o encontrei a centímetros de distância. Sua boca pairava sobre a minha. Acredito que meus olhos tenham ficado vesgos nessa investigação minuciosa daqueles lábios. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Thomas segurou minha nuca e me puxou de encontro à sua boca. Senti aquele formigamento único descer por toda a minha coluna e acredito que gemi. Era uma sensação angustiante e fascinante.A boca de Thomas possuía e deslizava. Ora com voracidade, ora com suavidade extrema. Quando por fim ele afastou os lábios dos meus, nossos olhos se conectaram em uma mensagem muda. - Até mais - Thomas se despediu. - Até. Acenei e corri para casa. Abri a porta meio atordoada e, antes que eu pudesse subir as escadas rumo ao meu quarto, minha mãe falou da sala. - Namorado? O quê? Minha mãe estava espionando? - Ah, oi, mãe. - Vamos lá, conte-nos - meu pai falou do canto do sofá. Puta merda! Os dois estavam na calada da noite, sentados, imóveis na sala. E ambos com um sorriso nos lábios. - Pai, mãe. - Eu não sabia o que dizer. - hhh... - Adoro quando ela fica completamente constrangida, Herb - minha mãe disse, rindo. - Eu também. Nossa mocinha está crescendo! - meu pai complementou a zoação e eu revirei os olhos. Tentei subir os degraus de novo, porém eles me chamaram. Não tive alternativa a não ser ir me encontrar com os dois espiões. - Você está de namorado novo? - a mãe perguntou. - Mãe, quando eu tive um namorado antes, pelo amor de Deus? - falei, meio constrangida. Ela levantou do sofá e me abraçou. - É verdade. Já não era sem tempo, não é mesmo, Herb? - ela disse e beijou meu rosto. - Você está já prestes a fazer dezoito anos. Eu com dezessete já... - Mãe!!! - Cobri meus ouvidos porque não queria ficar com aquilo impresso na minha mente. - Sua mãe ia dizer que, com dezessete, ela já me paquerava e escrevia meu nome nos cadernos, com muitos corações e flores. Fora que brincava daquele jogo onde escrevia o nome do futuro marido e quantos filhos teria. Os dois riram e meu pai me abraçou pelo outro lado. - O garoto é bonito? - minha mãe perguntou.- O garoto é bacana? - meu pai emendou. - Sim e sim. Mas estou apenas ajudando um amigo. Ele não é bem meu... namorado. - Adoro tramas assim, cheias de mistérios e nenhuma admissão da verdade - minha mãe disse e apertou meu nariz. - Você precisa de um momento de divertimento nessa sua vida muito regrada, Rain. Acho que esse rapaz chegou em uma ótima hora, como uma chuva de verão. - Minha mãe fez trocadilho com meu nome e me fez revirar os olhos novamente. - Queremos que você seja feliz,bonequinha - meu pai falou e me beijou. - Vamos, amor. Vamos nos lembrar daqueles corações e flores que você desenhava e depois tentou tatuar no meu corpo sexy. Os dois subiram a escada e eu fiquei em choque. - Aaaargh... muita informação, pai! Muita informação! - gritei enquanto subia as escadas e ouvia as gargalhadas dos dois. Eu teria de fazer uma força descomunal para sonhar com ovelhas pulando cerquinhas, em vez de corações e flores desenhados e o nome de Thomas no meio. Quando cheguei no quarto, acabei me recordando que, na verdade, o plano não fora completamente traçado. Meu celular vibrou com uma mensagem: Ah, eu me esqueci de avisar que amanhã haverá uma festa na minha casa. Será sua prova de choque. Devemos provar à sociedade que estamos muito envolvidos e cheios de corações flutuantes sobre nossa cabeça. Sorri como uma boba com suas palavras, deitei na cama e a imagem de corações, da qual queria tanto fugir, ressurgiu com força máxima. Fechei os olhos e os olhos verdes de Thomas e aquele sorriso enviesado tomaram forma para compor meus sonhos juvenis. Thomas Cheguei em casa silenciosamente, e subi nas pontas dos pés, tentando evitar que Cybella percebesse minha presença. Ela era a última pessoa na face da Terra que eu gostaria de encontrar naquele instante para estragar meu momento de epifania. Depois de dois dias na casa de Mike, onde consegui me impedir de passar raiva com meus pais me obrigando a bajular minha prima, voltei para casa, já que teria jogo no dia seguinte e o plano ideal havia se formado em minha mente. A desculpa perfeita para me aproximar de Rainbow havia caído de bandeja em meu colo. Bastou que Mike jogasse a ideia sem nem ao menos perceber. Quando ele ventilou que o dia em que eu tivesse verdadeiramente uma garota provavelmente Cybella ficaria puta, pensei imediatamente em Rainbow como a chave para minha liberdade. Mas, mais do que isso, pensei na desculpa ideal para conseguir me aproximar da armadura que ela havia desenvolvido em volta de seu corpo e mente. Entrei em meu quarto, arranquei a camiseta e chutei os tênis fora, sem me importar com a direção que eles tomavam. Tirei o jeans e me enfiei embaixo das cobertas, não sem antes apanhar o celular no bolso da calça e enviar uma mensagem para Rainbow, avisando-a da festa na minha casa no dia seguinte. Aquele seria o momento em que teríamos que provar para todo mundo que éramos um novo casal apaixonado. De minha parte eu sabia que não seria fingimento algum e não haveria dificuldade em me entregar aos beijos com aquela garota. Restava saber quanto tempo eu teria para quebrar o gelo em volta dela e fazê-la admitir que o sentimento era recíproco.

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