Capítulo 10

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Eu estava prendendo os cabelos em um rabo de cavalo alto quando Sunny entrou no meu quarto, atropeladamente, na manhã seguinte. - Diga que isso não é apenas fofoca! - ela gritava eufórica. Eu não fazia ideia do que ela estava falando, mas podia supor que era algo muito empolgante. - O quê? Ela sentou na minha cama e agarrou uma almofada, sorrindo e com uma cara de esperteza.- Você e Thomas Reynard estão se pegando. - Ela foi singela e sutil como um hipopótamo. - Sunny! - ralhei. - Isso é jeito de falar! - Ué, mas é a notícia mais top de todas. Vocês dois estão se pegando! Joguei minha escova em sua direção e ela conseguiu desviar. - Não estamos nos pegando. - Tentei disfarçar. - E onde você ouviu isso? - perguntei desconfiada. - A prima de Justine trabalha no TGI e viu vocês dois. Meu cérebro estava congestionado porque eu ainda não conseguia entender a lógica. - Justine estava lá na lanchonete esperando a prima pra pegar uma encomenda para a mãe - Sunny falou pacientemente. - Oh! - Isso mesmo. Oh! Foi exatamente o que ela disse - Sunny riu - quando viu você e Thomas aconchegadinhos um no outro. Meu rosto esquentou. - Não estávamos aconchegadinhos, Sunny. - Tentei disfarçar. - Claro que não. - Ela se levantou e sacudiu os cabelos. -Então temos festa hoje à noite? Fiquei sem entender por alguns segundos. - Ah, acho que sim. - Maravilhoso. Vou ajeitar meu vestido e o seu. - O quê? - Não vou deixar que você vá esculhambada para a festa do "seu" homem. - Sunny! - gritei indignada. - Relaxa, Rain! Estou brincando. Mas diga a verdade. - Ela mordeu a unha do indicador. - Vocês estão ou não juntos? Pensei em revelar a verdade a ela. Seria uma forma de tentar me proteger e não ficar delirando, achando que aquilo poderia ser algo mais do que o que estava proposto. Depois fiquei com medo de Sunny abrir a boca grande e acabar contando para alguma amiga que poderia acabar espalhando a fofoca pela escola. - Sim. Tipo isso. Ela me abraçou com força e deu um grito de júbilo. - Aaaah!! Que orgulho da minha irmã! Pegando o gato mais quente da escola! - Ela girou, dançando no meu quarto. - Mooooorram, invejosas! Dizendo isso, ela saiu pulando para o seu quarto e eu fiquei apenas ali. Estática. Sem reação diante de tamanha efusividade. Sorri e me olhei no espelho, tentando conter a onda de ansiedade que bateu no meu peito. Eu o veria dali a pouco. Quando estacionei o carro na escola, Sunny se despediu e saiu em disparada para o seu prédio. Eu apenas tentei respirar um pouco e puxei uma inspiração mais profunda. Fechei os olhos e encostei a cabeça no volante. Estava criando coragem para descer do carro, quando uma batida suave na janela me assustou.Thomas estava parado do lado de fora. Seu carro estava estacionado ao lado do meu. Abri a porta e saí do carro, tentando saber o que fazer a seguir. Thomas facilitou isso para mim quando puxou meu corpo junto ao seu e me deu um beijo suave nos lábios. - Sei que dentro da escola existe a maldita política de pouco toque e contato, então vamos aproveitar esse breve momento, aqui no estacionamento - disse e aprofundou o beijo. Uau. Eu ainda estava despreparada para a avalanche de emoções e sensações que ele me despertava. Era novata naquilo tudo. E nunca tinha namorado. Quando ele, por fim, separou sua boca da minha, seus olhos buscaram os meus e um sorriso lindo marcava seu rosto. - Como passou a noite? Ele pegou minha mochila e agarrou minha mão, me puxando em direção ao prédio onde estudávamos. Eu estava embaraçada ao extremo porque podia jurar que ouvia os grilos cantando, tamanho o silêncio que se fez entre os alunos. Meu Deus, eu tinha medo do meu rosto estar com mais de cinquenta tons de vermelho. Daria um bom enredo de livro. Ou filme. Não seria original, mas seria bem interessante. - Então? Eu estava sem entender a pergunta. - Então o quê? - Como foi sua noite? - Ele olhava para mim com um sorriso conhecedor. - Despertei seus sonhos mais eróticos? Eu acho que desmaiaria naquele momento. Senti que hiperventilei. - Rain? - ele perguntou preocupado. - O que houve? - Você não pode perguntar essas coisas assim, Thomas! - Quase tive uma síncope, antes de sussurrar para que só ele ouvisse.Ele começou a rir loucamente. Passou o braço pelos meus ombros me puxando para mais perto de seu corpo forte e quente. - Adoro ver como você fica envergonhada por qualquer coisa, Rainbow. Seu rosto realmente atinge os tons de um arco-íris - disse e beijou a ponta do meu nariz. - Ha-ha. - Tentei me desvencilhar, mas seu agarre era forte. - Você é tão engraçado - debochei, ainda sem graça. - Também acho. Quando chegamos à porta da minha sala, ele apenas beijou minha bochecha e saiu em direção à sua aula. Entrei na sala e as garotas olhavam completamente embasbacadas ou fascinadas. Rebecca estava delirante em sua cadeira, acenando como uma louca para que eu me sentasse imediatamente. - O que foi aquilo? - ela quase gritou. - Eu sabia! Eu sabia que havia algo ali! Thomas sempre ficava estranho perto de você! Olhei ressabiada para ela. - Como assim? - Como um cara que não conseguia tirar os olhos de algo muito lindo e tal - ela disse, e chegou perto como se estivesse contando um segredo. - Na verdade, ele olha para você como um lobo faminto diante de um banquete supersuculento. - Becca! - Bati em seu braço e ri sem graça diante da comparação absurda. Virando-se totalmente para mim, sem qualquer discrição, Becca juntou as mãos, fazendo uma mímica como se estivessem se beijando. Fiquei embaraçada ao extremo enquanto a garota simplesmente rolava de rir. - Cara! Isso é simplesmente fe-no-me-nal! - ela disse, vibrando. - Melhor notícia de todos os tempos! - Becca, será que podemos deixar esse assunto para lá? - perguntei totalmente constrangida. - Claro que não. - Ela se abanou com o caderno. - Ainda mais pela festança que vai rolar esta noite e toda a excitação que isto está causando nos estudantes. Com mais essa notícia, teremos repercussão para uma década! Vocês estarão fazendo história! Eu estava concentrada em simplesmente não ficar vermelha quando um soco na minha mesa fez com que eu acabasse derrubando todos os cadernos que segurava. Canetas e lápis voaram. - Que porra é essa, Jason? - Becca gritou, se levantando nervosa. Olhei para um par de olhos amedrontadores, tal a intensidade de ódio que emanavam. Ódio associado a uma espécie mórbida de desprezo. - Você está namorando aquele merda? - ele cuspiu. Eu ainda estava em choque diante de tal brutalidade. - O.... O quê? - Eu não conseguia sair do meu torpor.- Eu perguntei se você e o Thomas estão fodendo! Com a expressão chula, eu me ergui da cadeira e quase voei no pescoço do imbecil. - Que falta de respeito é essa, Jason? - Becca perguntou irritada. Eu apenas me concentrava em encarar o idiota. - Estou fazendo uma pergunta muito simples. - E você não tem que saber da resposta porque não é da sua conta, idiota! - ela falou. Suspirei profundamente.- Que merda é essa que acontece com vocês que acham que têm o direito de se meterem na vida das pessoas? - perguntei, buscando uma calma que eu não sentia. - Eu só quero saber se é verdade! - ele falou. - Porque isso estragaria as fofocas que você anda contando sobre o fato de termos ficado juntos, Jason? - perguntei corajosamente e ele apenas pareceu embaraçado. - Sim, eu sei das coisas que você andou espalhando. - Olhei com cara de nojo para ele. - Qual é o seu problema, cara? Ficar inventando essas merdas? Ele ergueu o corpo e me encarou.- Estou cansado do Thomas interferir em todos os meus assuntos. Eu estava com cara de descrente. Porque realmente não conseguia acreditar que ele pensasse aquilo mesmo. Era muito surreal para ser verdade. - Cara, eu nunca fui um assunto seu - falei com a minha melhor cara de desprezo. - Você realmente se acha mesmo para ter assumido isso, não é? Não seria muita presunção, não? A professora entrou na sala naquele instante e o silêncio se fez evidente. Jason recolheu sua insignificância e voltou para o lugar.Eu apenas me concentrei em recolher meus objetos do chão e tentar não chorar de puro ódio. Era isso. Quando eu sentia um ódio latente ardendo em mim, a vontade de chorar era intensa. Muitas pessoas choram por tristeza, alegria, dor. Eu chorava por raiva. Sempre. Todas as malditas vezes. Pisquei os olhos com força para conter as lágrimas pirracentas que queriam dar um show naquele instante. - Não esquente com esse merdinha, Rain - Becca disse, me passando um caderno que tinha caído. - Caralho, deixa Eu apenas me concentrei em recolher meus objetos do chão e tentar não chorar de puro ódio. Era isso. Quando eu sentia um ódio latente ardendo em mim, a vontade de chorar era intensa. Muitas pessoas choram por tristeza, alegria, dor. Eu chorava por raiva. Sempre. Todas as malditas vezes. Pisquei os olhos com força para conter as lágrimas pirracentas que queriam dar um show naquele instante. - Não esquente com esse merdinha, Rain - Becca disse, me passando um caderno que tinha caído. - Caralho, deixa só o Thomas ficar sabendo...- Saber do quê? - perguntei espantada. - Dessa birra ridícula do Jason. - Não, Becca. Ele não precisa saber disso. Rebecca olhou para mim com toda a compaixão do mundo, toda a compaixão que poderia expressar naqueles olhos pintados. - Querida, se acha que isso ainda não chegou aos ouvidos de Thomas, então você é uma completa tapada - ela disse e bateu a mão suavemente na minha bochecha. - No bom sentido.Uma tapada muito querida. Eu tentei não rir, mas foi impossível. Becca tinha esse efeito nas pessoas. Quando o intervalo chegou, antes que eu pudesse dar um passo para fora da sala, Thomas já estava à espera, completamente revoltado. Ele segurou meu braço delicadamente e me puxou para um canto. - Me diga que aquele merda não fez o que estão falando - perguntou, tentando controlar o tom de voz irritado. Engoli em seco. Como eu poderia mentir? Seria a minha palavra mentirosa contra todos os alunos que presenciaram a troca de farpas. Resolvi adotar o estilo argumentador. - O que você ouviu? Ele ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços, me encarando acintosamente. - Rain. - Okay, estou perguntando porque muitas informações podem ter sido passadas sem que necessariamente expressem a verdade total e completa. - Tentei amansar.- Rain. - Certo - suspirei audivelmente. - Jason chegou na sala perguntando se eu e você estávamos namorando. - Não foi só isso. - Bom, depois ele usou uma abordagem um pouco mais chula e ofensiva, mas demos conta do recado, eu e Becca, a título de informação. Thomas continuou me olhando com uma expressão indecifrável. Sem nem ao menos eu estar preparada, ele me puxou para o calor de seus braços e senti sua respiração quente no meu pescoço. - Rain, eu sinto muito - ele disse com um suspiro audível e transtornado. - Pelo quê, Thomas? - Repentinamente, meu lado inseguro ficou meio aflorado. Será que ele sentia muito ter pedido minha ajuda? - Pelo comportamento do idiota - disse e esquadrinhou meu rosto com as mãos quentes e ásperas. - Eu vou fazê-lo te pedir desculpas. - O quê? Não! Não, Thomas... Por favor, esqueça esse assunto - pedi desesperada, não queria uma briga em que eu estivesse envolvida ou na qual fosse uma peça chave no desenvolvimento do conflito. Meu Deus! Era pedir muito, passar incógnita e sem ser notada? No meio de tantos alunos? Outra coisa... eu não queria ser a donzela que precisava ser resgatada pelo cavaleiro andante. Embora fosse muito encantador, eu não queria ser esse tipo de garota. Ele abaixou a boca na direção da minha e depositou um beijo suave. - Vamos almoçar? Claro. Por que não? Eu já era o assunto do momento na escola. O que era uma entrada singela, no meio do refeitório lotado, com Thomas Reynard simplesmente impondo sua marca sobre os meus ombros? Thomas Alegar que eu estava puto era algo um pouco simples ou efêmero. Eu estava extremamente revoltado com a atitude infantil de Jason. O fato de nossos pais se conhecerem desde quando éramos crianças pesou na decisão de eu não encher aquela cara presunçosa de porrada e quebrar alguns dentes. Ou talvez estilizar um pouco aquele nariz perfeitinho demais. Jason sempre disputou comigo qualquer coisa, desde que me
conheço por gente. No jardim de infância, ele disputava a atenção das professoras, e se percebesse que alguma gostava mais de mim ou demonstrava um pouco mais de afeto, Jason era capaz de birras épicas que ficaram conhecidas em toda a escola. À medida que crescíamos, nossas disputas iam mudando de figura. Ou eram jogos de videogame, ou jogos de futebol, ou pequenos campeonatos. Notas em algumas matérias, comportamento e até mesmo a atenção de garotas. E eu falo disputávamos, mas na verdade, a atitude vinha sempre do lado de Jason e sua insegurança. Eu sempre o ignorava e, na maioria das vezes,apenas ria das infantilidades dele. Porém, agora eu estava começando a achar que as coisas estavam mudando de figura. Quando Jason "roubou" Melissa Thompson, no baile de primavera, assim que entramos no Ensino Médio, como uma forma de afronta, eu senti uma pontada de decepção, mas esqueci o assunto e deixei pra lá. Na verdade, voltei minha indignação para as garotas, acreditando que não podiam ser confiáveis. Ou seja, eu nem sequer sofri as dores de um coração partido e essas merdas todas. O sentimento era novo agora, embora nem pudesse ser comparado com situações iguais. Mas eu podia ver aonde Jason queria chegar. Sua meta era clara. Chegar em Rainbow e roubá-la de mim. E agora, sim, eu estava puto com a mais remota possibilidade. Mas meu estado de irritação era mais evidente ainda porque Rainbow Walker não era qualquer garota. Ela não poderia ser considerada uma garota que simplesmente havia atraído minha atenção. Ou apenas uma paquera. Eu não sabia explicar, mas estava completamente caído por ela. E saber que Jason a havia ofendido e humilhado mais cedo, por conta da decisão dela de estar comigo, mesmo que ninguém soubesse que era um acordo entre nós dois, estava me comendo vivo. Eu não poderia dar uma surra em Jason naquele momento, porque teria jogo logo mais. Eu o observava do vestiário, sabendo que ele também enviava olhares rancorosos na minha direção. Mike já havia me apontado que o idiota estava falando alguma besteira para uns colegas. Quando o treinador chamou todos no centro do vestiário, para dar as instruções para o início do jogo, eu, como capitão, pude ter a palavra e falar para o time: - Podemos jogar com garra, determinação ou podemos simplesmente ser um bando de maricas e ficar fofocando no vestiário. Vocês decidem agora o que querem. - Ao dizer aquilo, olhei diretamente para Jason e os dois patetas que o acompanhavam sempre em suas idiotices. - Vou deixar claro que cada um é responsável pelas decisões que tomarem. Deixei o enigma acender a chama do reconhecimento da minha ameaça na cabeça dos idiotas, embora eu achasse que eles eram tão burros que somente uma pancada de uma cabeça contra a outra poderia fazê-las funcionar no tranco e trazer o entendimento e a razão.Dado o grito de guerra, saímos do vestiário e, antes de sairmos para o campo, meu ombro resvalou de forma tão brusca contra o de Jason que acabei jogando o corpo dele contra a mureta de proteção. Assim... meio que sem querer. - Cuidado com as merdas que anda falando, Jason. - Foi a única sentença que proferi antes de correr para o campo. Eu não podia descer a porrada nele aleatoriamente, mas e no campo de futebol? Uma bola ou um ombro sempre poderiam esbarrar de maneira súbita e espontânea, causando alguma injúria que deixasse claro que ninguém mexia com o que era de Thomas Reynard.

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