Capítulo 22

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A festa estava animada ao extremo. Quando entramos na casa barulhenta, fomos recebidos pelo treinador, que já nos estendia um copo de alguma coisa. - É energético. Para que o Thomas recupere as forças. Esse cara foi um espetáculo hoje! - o técnico disse empolgado. Eu achava que ele já devia ter ingerido alguma coisa com teor alcoólico, mas tinha de dar o crédito de que, se a festa era na casa dele, ele seria responsável o suficiente para monitorar e não permitir bebidas, já que 90% dos frequentadores eram menores de idade. - Obrigado, treinador. - Thomas pegou o copo e agradeceu. Sem delicadeza alguma, ele saiu me puxando e seguindo rumo à pista de dança. Uma música insinuante tocava e algumas luzes negras piscavam no jardim. Uau. O técnico já devia estar seguro da vitória do time, porque aquilo ali devia ter sido preparado com antecedência. Thomas me puxou contra seu corpo e, imediatamente, fiquei dura como uma pedra. Eu odiava dançar. Com todas as minhas forças. Na frente das pessoas então... era o cúmulo do absurdo para meus padrões. Ele obrigava meu corpo a acompanhar seu ritmo, que eu devia admitir, era muito sexy. - Dance comigo, Rain - ele pediu em um sussurro. - Eu não sei dançar, Thomas - respondi no mesmo tom e com um desespero aterrador. - Feche seus olhos e deixe que eu te guio.Eu ainda estava receosa e sem saber o que fazer. Thomas me levava ao limite da minha sanidade. - Vamos, Rain - ele implorou. - Faça isso por mim... - Thomas... - Eu podia sentir as mãos suando. Seus braços me enlaçaram mais apertado. - Feche os olhos. Resolvi pular do "despenhadeiro" em que minha vida se enfiou desde que conheci aquele garoto. Fechei os olhos e senti seus lábios contra os meus. Nada de beijos quentes nem nada. Apenas um contato para me assegurar de que ele estava ali na minha frente. À medida que a música batia em meus ouvidos, Thomas comandava nossos corpos juntos, em um ritmo sinuoso e sexy. Ou ao menos eu comecei a me sentir assim em seus braços. Quem diria que dançar poderia ser libertador? De olhos fechados ainda... aprimorava os sentidos de maneira que nunca imaginei ser possível. Eu podia sentir até mesmo a fibra da camiseta que Thomas usava, ou mesmo as partículas de suor que escorriam e se mesclavam. O suspirar dele em meu ouvido. A sensação de seus cabelos contra o meu rosto. A dimensão de suas mãos em contato com meu corpo. O leve tremor de seus dedos, ou o agarrar suave que ele dava em minha roupa, como se estivesse se controlando. Eu sabia que havia gente ao redor, mas, naquele momento, imaginei que somente Thomas e eu estivéssemos ali. Meus dedos ganharam vida própria e seguraram seus braços fortes. Eu podia sentir seus músculos suaves. Meu corpo começou a tremer e ansiar por algo que eu nem sequer poderia imaginar. Na verdade,podia, sim. Não era tão ingênua para não saber. Dois corpos juntos, em uma constante fricção, ao som de uma música indutora de movimentos sinuosos e sedutores, uma batida empolgante... Thomas beijou meu pescoço e senti o arrepio percorrer meu corpo. A sensação parecia algo extracorpóreo. Era como se eu pudesse observar a cena de cima. E desconhecia eu mesma. Mas dizer que permitir com que aqueles sentidos invadissem minha alma fizesse bem, seria um eufemismo.Quando a música mudou para outra batida, abri os olhos lentamente e senti meu corpo letárgico. Cara... e eu não havia bebido absolutamente nada para que pudesse culpar um efeito entorpecente. Meus olhos encontraram os de Thomas, que me olhava com uma seriedade impressionante. - Juro que você seria capaz de me matar - ele disse simplesmente. Não entendi a brusquidão de seu tom, mas percebi a energia nervosa que ele liberava.- Preciso pegar algo para beber. O que você quer? - Uma soda está bom. Ele me largou no meio da pista de dança. Do nada. Thomas se afastou como se estivesse com o corpo em chamas. O meu ao menos parecia estar. Resolvi que deveria pegar um ar fresco e esperar que uma calma desconhecida sobreviesse. Aquela noite estava realmente cheia de fortes emoções. Era como uma overdose de sensações conflitantes dentro de mim. Eu podia sentir alguns muros ruindo ao meu redor. A redoma que coloquei sobre meus sentimentos estava sendo retirada gradualmente. Podia entender agora porque as pessoas eram capazes de fazer loucuras quando estavam apaixonadas. Porra! Eu estava apaixonada! Espera. Eu. Estou. Apaixonada. Categoricamente confirmado. Meu Deus. Eu amo Thomas Reynard. Realmente amo esse garoto. Como isso aconteceu? Como permiti acontecer? O que eu faria? Será que existia um protocolo para agir em casos assim? É claro que sabia que não era a única garota do planeta a se apaixonar. Mas, para mim, era a primeira vez. E era um sentimento aterrador. E eu não tinha minha mãe perto para me ajudar a entender ou ao menos me orientar. Poderia conversar com Sunny. Mas caralhoooo! Era minha irmã mais nova! Senti que uma lágrima sorrateira queria se suicidar do meu olho esquerdo e pisquei com força para evitar o desastre. Além de arruinar minha maquiagem sutil, ainda me faria pagar um mico tremendo. Enquanto eu caminhava para algum lugar tranquilo, onde pudesse respirar ar puro e não empesteado de suores, senti a torrente de emoções querendo saltar de dentro de mim. Oh, meu Deus. Nem reparei para onde seguia e esbarrei em alguém. - Uou, uou, uou... olha só quem temos aqui! Se não é a empertigada Rainbow Walker! - O bafo de Jason me atingiu sem dó. Acho que fiz uma careta de nojo, porque logo em seguida as feições dele mudaram. - O que foi? Você se acha importante demais para os reles mortais? Acha que é superior só porque é mais inteligente? - Sai da minha frente, por favor. - Nem sei por que me dei ao trabalho de ser educada com aquele pentelho. Senti suas mãos pegajosas nos meus braços nus e tentei me afastar, sem sucesso. Eu sabia que devia ter feito as aulas de defesa pessoal na penúltima escola que frequentei, mas a preguiça me impediu. A preguiça e a ardente necessidade de desviar de todo e qualquer contato físico com um instrutor ou uma dupla para praticar os golpes. - Nãããooo... Rainbow Walker dançou de uma maneira sexy pra caralho ali atrás... pode muito bem repetir a performance aqui comigo, que tal? - ele falou e tentou chegar mais perto.Coloquei os braços estendidos à minha frente, tentando manter o máximo de distância. - Eu vi você com o idiota do Thomas. Eu vi! - ele falava alto. Algumas pessoas já estavam atraídas pelo espetáculo. - Ele te pegou assim de jeito... foi sexy... mas por que tem que ser só com ele? Hein? Vamos lá, Rainbow! Seja um espírito livre, igual aos seus pais! A menção aos meus pais acabou me congelando no lugar. Senti todo meu sangue drenar do rosto e meus braços caíram inertes à frente. Com isso ele acabou conseguindo me abraçar de maneira vulgar e suja. Eu podia sentir meus membros entorpecidos.- Cala... a boca... seu... seu... - eu tentava falar, mas parecia que minha língua estava travada. - Você... não tem o direito... Uma movimentação atraiu a atenção de Jason, o suficiente para que eu recuperasse meus sentidos e tentasse me livrar de seu aperto. - Larga minha irmã, seu imbecil! - Storm gritou e praticamente arrancou Jason de cima de mim. O que ele não contava era que Jason estava me segurando tão forte que acabou me levando junto.Quando percebi, estava engalfinhada no chão, entre meu irmão e Jason. Ambos tentavam acertar um ao outro, e eu podia sentir que viria merda dali. Ouvi um grito de longe, a torcida pedindo briga, como um circo de horrores, e tentei proteger meu rosto dos braços e pernas que chutavam e agrediam. Eu estava com medo de Jason acertar meu irmão, mas ao mesmo tempo tentava sair do meio. Era óbvio que sobraria para mim. Um soco voou em direção incerta e qual não foi minha surpresa ao sentir a intensidade do mesmo,exatamente na minha mandíbula. Acho que mordi a língua, pois senti o gosto de sangue imediatamente. A dor foi tão forte que perdi o foco e acho que apaguei por um momento. Quando recobrei os sentidos, estava sentada na grama, no colo de alguém, que eu só poderia supor ser o Thomas, já que consegui distinguir o som de sua voz. - Ssshhhh... - ele falava em meu ouvido. - Tragam a porra do gelo, merda! Aquilo não foi um sussurro e doeu em meus ouvidos, mas, como eu ainda estava com um zumbido na tuba auditiva, deixei passar.Oh, sim. O zumbido devia ser por conta do soco que recebi. Maravilha. Pense em exacerbar sensações em apenas uma noite. Yeap. Era eu. A rainha do drama da noite.

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