Capítulo 30

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-Walker... - sussurra com um misto de surpresa e malícia.

-Vocês se conhecem? - indaga Charles, surpreso com o tom do convidado.

         Sem responder a pergunta, ele retira a arma do coldre e aponta o cano em direção ao meu rosto, surprendendo o resto dos agentes da sala.

-Acho que ela deve responder.

       Retomo a minha postura, assumindo uma expressão séria com um leve deboche entre os lábios.

-Também é um prazer te ver, Alex. - digo ironica.

-Pensei que estivesse morta! - branda.

-Espera, alguém pode explicar o que está acontecendo? - intervém Oliver. - Natalia, de onde vocês se conhecem?

-Então o seu nome agora é Natalia?

-Walker. -completo.

-Essa é a vagabunda que atirou no meu pai. - esclarece Alex, vendo a confusão no olhar de Charles. - Não quer se apresentar, "Walker"?

   Reviro os olhos.

-Para de Show Alex. Isso já está ficando ridículo!

      Ele permanece em silêncio, a espera que realmente me apresentasse, o que me fez revirar os olhos pela segunda vez antes de começar a falar. Afinal não havia mais escapatória, porque estava embaixo da terra e cercada por milhares de agentes. Inclusive, o cano da arma de Alex muito próximo à minha cara, era outro fator contra mim.

-Meu nome é Natasha Morgan.

     Oliver franze a testa surpreso, e Charles fecha os punhos numa irritação crescente, visível na coloração do seu rosto.

-Oliver, leve-a até a sala de tortura.

(...)

    Suspiro cansada, não pela tortura, já que desde que me trouxeram até essa sala e prenderam minhas mãos numa corrente de ferro ligada ao teto, não vi mais ninguém. Fazia mais de duas horas que meu disfarce foi descoberto, e segundo meus calculos à essa altura do tempo Alfie e a minha equipe já devem saber tudo o que aconteceu, pelo menos é isso que espero.
    Me penduro nas correntes, torcendo para que a força do meu peso arrebentasse o suporte que a ligava no teto. Mas isso não foi suficiente, até porque depois de tantas tentativas, meus pulsos começavam a doer.
   O som das travas da porta de ferro abrindo me levaram a ficar quieta e prestar melhor atenção na figura que acabara de entrar. Charles adentra a enorme sala com olhar fulminate que me preocupariam se não soubesse que tinha preocupações ainda maiores para lidar.

-Morgan... acho que nós dois temos alguns assuntos para lidar.

-Vai me torturar? Porque o tédio está quase me matando.

-Não vou te torturar. Alex me disse que isso não adiantaria.

-Então vamos fazer o que? Tomar um chá da tarde? -provoco.

-Você tinha um namorado, não é?

      Meu sangue gela, pensando na hipótese de que Alfie tenha sido descoberto.

-Bom... depende da sua visão de "namorado".

-Ficar com uma pessoa durante três anos conta, não é?

     Como ele sabe disso?

-Por que a surpresa? Você mais do que ninguém deve saber que é fácil saber da vida de alguém, ainda mais quando se sabe o seu nome.

       Franzo a testa, constatando que nesse meio tempo de espera eles estiveram pesquisando o que aconteceu na minha vida durante os três anos. O que indicava, que provavelmente Alfie já tinha sido descoberto, só espero que esteja bem longe desse lugar.

-Vai ficar enrolando quanto tempo? - indago, fingindo impaciência.

-Não m...

      Sua frase é interrompida brutamente, pelo o que parecia ser uma... bomba? O som de mais uma explosão deixou claro que aquilo não era fruto da minha imaginação, e o estalar das paredes afetadas por conta da explosão chamaram atenção de Charles, que dirigiu o olhar para o tento, onde as correntes estavam presas.
    Lá no alto, uma rachadura pequena, mais muito perceptível começava a se formar ao redor do suporte. Olho para o seu rosto, entendendo exatamente o que ele estava pensando e tomando uma idéia de como escapar daquele lugar.
     Apoio meu peso nas correntes, forçando o ferro para baixo e suspendendo o meu corpo no ar para soltar os cabos do alto. Diferente das outras vezes, o plano finalmente deu certo, e depois de um ranger ainda mais alto do que a própria explosão, o teto ao redor do suporte das correntes  sedeu, e minhas mãos finalmente foram libertas. À essa altura do campeonato, Charles já gritava para que os guardas do lado de fora abrisse a porta de ferro.
    Seguro com forças os cabos que ainda estavam presos nas minhas mãos, e giro o ferro no ar, como dois chicotes que resoaram igual à duas lâminas cortantes. As correntes acertaram as costas de Charles em cheio, fazendo-o gritar pela dor do impacto e contorçer o corpo no chão, enquanto as portas se abriam.
     Os guardas apontaram as armas para mim, prontos para atirar, mas as "lâminas" foram rápidas o suficientes em acerta-los exatamente na barriga e empurra-los em direção a parede. Me aproximo dos dois, procurando entre as roupas alguma chave para libertar os meus punhos, afinal de contas não posso andar por aí com duas correntes pinduradas em cada braço.
    Abro as algemas, e massageio meus punhos ao senti-los totalmente livres daquele peso. Retiro algumas armas do coldre dos guardas, e corro pelos corredores sem direção alguma, pois durante todo esse tempo na base, ainda não conhecia totalmente os corredores.
     Os agentes que passavam por ali pareciam não entender o que estava acontecendo, alguns inclusive reclamavam da correria e dos encontrões do meu corpo que tentavam desvia-los. Continuo correndo a todo vapor, começando a reconhecer alguns trechos do caminho, mas o importante era que não poderia usar a saida usual, seria muito mais fácil de Charles e seus agentes me rastrearem, e a complicação estava no fato de que não conhecia nenhuma outra saida.
      Duas mãos seguram o meu braço, e me impediram de proceguir o caminho, me encurralando contra a parede. Demorei um pouco para perceber quem era, e assim que o fiz, me acalmei e deixei de tentar reagir contra Oliver. Ele se afastou do meu corpo, lançando um olhar de apoio e apontando para os tubos de ventilação em cima da nossa cabeça.
     Franzo a testa, confusa por receber ajuda da pessoa que menos esperava, e confiro a direção que ele apontava. Ainda estava indecisa sobre seguir o que ele dizia, mas quando os alarmes da base começaram a soar, soube que não teria mais tempo para pensar sobre a proposta. Subo nas costas de Oliver, tomando apoio e altura para conseguir empurrar a tampa cromada do tubo com as mãos e adentra-lo.

-Siga reto, e dobre à esquerda somente depois de cinco bifurcações! Você vai precisar escalar!

     Concordo com a cabeça, e sem mais delogas, fecho a tampa e continuo meu caminho, engatinhando pelos tubos. O pó e a teia estavam tão impregnados pelo caminho, que minha respiração começava a falhar conforme avançava pelos tubos.

    

    

Agente Morgan 4Onde histórias criam vida. Descubra agora