Capítulo 39

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Desde a breve visita de Philip logo após acordar nesse lugar estranho, mais nenhum membro do FBI descidiu dar as caras por aqui. Os únicos rostos que via durante as seguintes cinco horas que se passaram, era o dos médicos.
Suspiro, me preparando para questionar o próximo médico que adentrava a sala, esse era diferente dos outros, mais jovem e sem marcas de seriedade pelo rosto.

-Como vim parar aqui? - indago.

Ele ri baixinho, numa risada nasalada.

-Você não desiste mesmo, não é?

-É fácil criticar, não é você que esta preso.

-Eu não cometi nenhum crime, senhorita Morgan.

Ótimo, então essa é uma espécie de hospital para criminosos...

-Vai responder a minha pergunta, ou não?

Ele se aproxima de mim, sem responder a minha pergunta, e fingindo analisar as prescrições da minha fixa na parede.

-Alguns guardas então comentando que te encontraram na porta da Seed do FBI.

Permaneço com a expressão amena, procurando não demonstrar o ponto de interrogação na minha mente pelo próprio bem daquele médico, já que duas câmeras nos vigiavam.

-E onde estou?

-Isso não posso dizer. Perderia o meu emprego.

-E já não perderia por conversar comigo?

-Que conversa? - questiona se virando. - Nós nunca conversamos, senhorita Morgan - diz dissimulado.

Ele sorri de lado, e sem ao menos me dizer o seu nome, sai porta à fora carregando a prancheta que entrara nas mãos.
Levanto da cama, segurando o suporte das bolsas de remédios conectado ao meu braço, para andar até a grande janela de vidro na parede esquerda. Tenho minhas dúvidas se estou realmente num hospital secreto, afinal eles nem se importaram em me colocar num quarto fechado. Ao contrário, esse quarto me permitia a vista de um estacionamento do lado de fora do hospital, e apesar de ser pouco, ainda podia tentar descobrir alguma coisa. Como por exemplo, os horários que Philip estava no prédio, e o número de agentes que provavelmente faziam a minha guarda. Todos eles chegavam e saiam por ali, os turnos eram trocados de duas em duas horas, e Philip voltava a cada meia hora.
Porém, tudo isso não adiantaria nada se não estivesse boa o suficiente para enfretar os agentes e sair ilesa, sem contar que sair na rua coberta por aquelas famosas camisolas de hospital e peças íntimas não era um bom disfarce, também precisaria de roupas. Mas nada disso era possível, querendo ou não, estava presa naquele lugar. Pelo menos até Philip me levar ao tal tribunal.

-O que está fazendo em pé?

Olho para atrás, revirando os olhos ao ver o principa médico responsável por mim cruzar os braços irritado.

-Será que vou ter que te prender na cama? Essa é a segunda vez que está de pé sem o nosso consentimento, senhorita Morgan!

-Já estou bem!

-Você ainda está em recuperação.

-Não sinto mais dor.

-Claro! Tomando morfina! - diz irônico.

Sério? Um estranho sendo irônico comigo?

-A última dose foi quando acordei, os efeitos já passaram a muito tempo.

-Sou o seu médico, e como você mesma pode observar. - murmura, apontando para o suporte de remédios que segurava. - Ainda está tomando morfina.

Olho para a bolsa de morfina, e em seguida para o médico, com um certo deboche no olhar enquanto apontava para os vasos de planta ao lado da minha cama.

-Doutor, acha que plantas gostam de morfina? - debocho inocente.

-Mas... o que você...? -

Ele caminha até mim, pegando o meu braço direito, e retirando a fita que prendia as agulhas nele, só então percebendo que a muito tempo elas não estavam conectadas à mim.

-Mas como? Não está sentindo nada? -questiona surpreso. - Por favor, sente-se ali!

Obedeço o comando, rindo da euforia do médico em descobrir o que estava acontecendo. Ele ergue minha camisola sem ao menos pedir linceça, rancando com cuidado o curativo sobre a minha cintura.

-Você tem uma boa cicatrização... não há mais infecção. - murmura, colando o curativo de novo. - Vou mandar alguém trocar isso aqui. Mais vai ter que voltar a tomar os seus remédios e...

-Nem pensar!

-Precisa tomar, terá uma tribunal amanhã e...- ele pausa, percebendo que falou demais. - Você está aqui para ser tratada! Isso é um hospital!

-Estou aqui contra a minha vontade!

-Podemos fazer isso do jeito fácil, ou difícil.

-Prefiro o difícil...já disse que estou bem, aqueles remédios não me deixam pensar. E caso ainda queira discutir, mande aqueles brutamontes entrar aqui, vai ser divertido.

Ele franze a testa, sorrindo debochado.

-É, sei que não estou nas melhores condições para uma luta. Mas o melhor de tudo será a reação da população quando eu disser que fui espancada dentro de um hospital do governo...

Ele desmancha o sorriso, ficando sério.

-Ah... - faço biquinho, sarcástica. -Não está mais engraçado?

-Deixa ela comigo, Dr. Repton.

Desvio o meu olhar para a porta, sorrindo irônica para Philip, que adentrava a sala com uma das mãos no bolso, e a outra segurando uma sacola.
O Doutor acenou com a cabeça, concordando em nos deixar as sós.

-Se não quer tomar nada, problema seu. Estavamos te ajudando, afinal você vai precisar estar muito bem amanhã de manhã. -murmura, jogando a sacola sobre a cama hospitalar. - Essa é a sua roupa, usara elas no tribunal amanhã.

Abro uma fresta da sacola, retirando uma saia, um blazer preto, e uma camisa regata branca com saltos da mesma cor.

-O que é isso? Vou à alguma festa? Onde está o macacão laranja?

-Você não está presa.

-É mesmo? Não é o que parece. - digo sarcástica.

Reviro os olhos, comprendendo tudo.

-O julgamento vai ser televisionado!- murmuro.

Ele enruga o nariz, incomodado por ter descoberto.

-Isso mesmo.

-E o governo quer pagar de bonzinho...?- falo olhando para as roupas. - E o que acontece quando o mundo todo souber sobre a Maré? Garanto que alguns países não vão ficar satisfeitos em saber que os Estados Unidos tem espiões nos seus países, e que inclusive, criou essa merda toda.

-Você não pode dizer isso!

-O que? Sobre a Maré? - finjo inocência.

-Natasha, esse assunto é sério! Se o mundo souber o que nós fizemos... vamos colocar um alvo na nossa testa!

-E eu com isso?

-Quê?! Está falando sério?! Estando nesse país, até você será prejudicada!

-Não sei se saber, diretor, mas sou britânica.

-A vida de...

-Ta. -intervenho. - Você não tem senso de humor? É brincadeira. Não falarei nada sobre o envolvimento dos Estados Unidos... palavra de escoteiro.

-Isso espero. - ele suspira. -Você encontrara com seu advogado amanhã, na porta do tribunal.

-Não preciso de advogado.

Ele ri.

-Você só pode ser louca!

-Estou falando sério. Eu mesma vou me representar.

-O funeral é seu...


Agente Morgan 4Onde histórias criam vida. Descubra agora