Capítulo 11

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Diminuio a velocidade da minha corrida matinal gradativamente, parando ao lado de uma árvore no meio do patio. Nessa hora, as únicas pessoas que transitavam por ali eram os guardas do Despertar. Por que estou fazendo isso? Simples, Por mais que estivesse amortecido pela dor, Simon tinha razão quando disse que não estava me esforçando o suficiente nessa competição. Acordar cedo era um saco, e acordar para correr era bem pior. Mas precisava fazer isso se quissesse voltar a minha antiga forma.
Suspiro cansada, e depois de breves segundos, volto a correr em direção a casa da equipe, com planos de ocupar o banheiro antes que John acordasse.
Essa manhã estava mais fria do que as outras, e esse fato me fez pensar que as coisas seriam dificeis no treino. Mais frio, mais dor. Talvez seja esse o motivo da minha treinadora sádica ter escolhido justamente essa data para iniciar os treinos.
Assim cheguei a casa, a primeira coisa que vi ao entrar no meu quarto, foi outros uniformes de frio estendidos sobre uma pequena cômoda de madeira no canto do local. Junto das roupas, também havia uma folha impressa com letras em caixa alta.
Era uma lista, e nela, os nomes de cada membro da equipe estava marcado numa espécie de tabela, demonstrando a posição de cada um naquela semana. O nome de Alfie estava marcado em segundo lugar, logo após do meu nome, com a diferença de um ponto. Em seguida, estava Daisy, empatada com John. E por último, Tom e Harry.
Imaginei a cara de Alfie ao verificar sua posição, e um pequeno sorriso vencedor sondou os meus lábios. Seria ótimo ver sua reação.

(...)

Assopro entre as mãos, tentando mante-las o mais quente possível, mas até o sopro estava frio. Por mais que estivessemos numa academia fechada, e livre dos ventos cortantes, o frio ainda era intenso e eu não era a única a senti-lo.
No centro do tatame, Cho ensinava algumas tecnicas de luta. Nada além do que Alfie eu já não sabiamos.

-Acima de tudo isso, a única regra é: jogue sujo!

Franzo a testa.

-Sei que a maioria de vocês sabe lutar. Mas em momentos de crise, é isso que definirá a sua morte, ou não! - murmura -Lutar limpo é coisa de fracotes, que nunca estiveram realmente entre a vida e a morte! Nesse tatame, vale tudo!

Observo outras turmas treinando nos tatames ao nosso redor, pensando no que Cho acabara de dizer. Teria de jogar sujo. Essa ideia nem me incomodava tanto, mas o fato era quê, naquele lugar não aprenderia nada além do que fazer o mal. Na OSCU, eles ensinavam como proteger as pessoas e fazer o que era certo. Aqui, as coisas são totalmente diferentes.
Cho começou formar grupinho de luta, atribuindo a cada um um parceiro para treinar. E obviamente meu par foi Alfie, afinal, nós dois somos os únicos com experiência maior no assunto. Pelo menos dessa vez, ele não estava com grandes vantagens na minha frente, já que tive alguns treinos mensais durante esses três anos.
Desta vez quem sorri primeiro foi ele, provavelmente para me provocar, enquanto se posicionava no tatame, erguendo as mãos na altura do rosto.
Correspondo ao jesto, e me preparo para a luta. Era hora de jogar sujo. Assim que Alfie tentou o primeiro soco, segurei seu braço e o torci na direção contrária. Um estalo foi ouvido, e ele soltou um grunhido de dor, passando o pé direito por debaixo dos meus, mas fui rapida o suficiente para pular e girar meu corpo no ar, ainda com o seu braço e torcendo-o ainda mais.
O soltei somente quando ouvi o estalo do ombro se deslocando. Alfie suspira ofegante pela dor, e sem qualquer cerimônia, recoloca o ombro no lugar de antes com as próprias mãos, me encarando com os olhos em furia. Agora sim começaria a briga.
Ele salta no ar, desferindo um chute calculado no meu rosto que me fez cambalear um pouco antes de segurar o seu próximo chute no ar, e torcer a perna. Aproveito sua dor momentânea e desfiro mais dois socos no seu queixo, subindo no seu pescoço e entrelaçando as minhas pernas para impulsionar o meu corpo, e leva-lo ao chão.
O impacto foi grande, no entanto, antes que pudesse levantar, Alfie rapidamente me prensou contra o chão. Sua mão apertava os meus braços no tatame, tratando de me prender antes de atingir um soco no meu rosto.
Forço meu corpo para sair do bloqueio, mas até as minhas pernas estavam presas. Alfie com certeza aprendeu a se atentar a todos os detalhes. Quando ele estava prestes a realizar o próximo golpe, fiz a primeira coisa que me veio a mente.
Prensei seus lábios contra os meus, sabendo que aquilo o desconcertaria por alguns segundos. E antes que se desse conta, meu corpo já estava sobre o dele, revidando os golpes que recebera.

-Parem! -grita Cho, mas como eu fingia não ouvir, ela repetiu a ordem. - Walker! Pare agora!

Separo meu corpo do dele, levantando ofegante, sentindo o ar faltando aos meus pulmões. Aquilo com certeza foi um acerto de contas.
Alfie ainda estava jogado no chão, quando estendi a mão oferecendo ajuda. Confesso que aquilo foi um ato de deboche, mas ele aceitou a oferta de bom grando e parecia não se importar com a surra que ambos acabamos de dar um no outro. Tanto, que com a boca cheia de sangue, me lançou um sorrizinho satisfeito. Ok, isso foi esquisito e assustador.

-Vocês dois, venham aqui!- ordena.

Nos afastamos um pouco do grupo, seguindo Cho para fora do tatame.

-Ok. Vocês foram bem, mas nada me tira da cabeça que isso era pessoal. Já vi muitas lutas, e vocês dois pareciam querer matar um ao outro naquele tatame!

Franzo a testa, fingindo confusão.

-Não estou entendendo, o que quer dizer...? -questiona Alfie.

-Você já se conheciam de algum lugar? -indaga direta.

-Não! - Afirmo. -Olha, nós só fizemos o que você pediu! Jogo sujo, não é?

-Sim mas...

-Admito que temos uma rivalidade, afinal estamos numa competição e ambos somos especialistas na mesma categoria. É óbvio alguém não vai ser escolhido!-diz Alfie.

-Como tem certeza disso?- indaga ela.

-Não tenho, mas acho que esse é o mais sensato a se fazer.

Como não pensei nisso antes? Era óbvio que não entrariamos juntos na Maré vermelha. Temos as mesmas habilidades! Bom... tecnicamente tenho uma a mais, mas ninguém sabe disso!
Essa disputa tende a ser mais dificil do que esperava. Não temos mais duas vagas. Só existe uma vaga, e somente um de nós sairia vencedor.




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