Segredos

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Fecho os olhos com força, encostada nos armários do corredor.

É como se meu espaço tivesse sido invadido quando aquele garoto me encarou. Me sinto sufocada por ter tantos alunos pelos corredores, se esbarrando e gritando. Vou me esconder o máximo que posso pelo resto do dia.

- Garota, pode sair do caminho? - Escuto uma voz rouca, e me viro olhando para o lado com a maior cara de desprezo que eu poderia fazer. (Para não usar palavras, digamos, sujas).

Vejo um garoto loiro, mais alto do que eu. Magro, ele tem uma expressão rude e impaciente, que não combina com os traços angelicais do seu rosto. Segura livros em baixo do blusão verde, me pergunto se ele realmente os lê ou se é um babaca o tempo inteiro.

- Meu armário. Não consigo chegar nele com você esparramada aí. - Ele tem um tom rude, mas quando eu encaro ele, sua expressão parece vacilar.

- Achei que os alunos da noite tivessem armários separados dos nossos – Respondo curiosa.

Recebo seu silêncio e provável desprezo como resposta.

Ele fica me encarando impaciente, até eu me sentir pressionada o suficiente para sair do caminho. Abre o armário, largando os cadernos e começando a falar, com uma expressão nada acolhedora. Eu nem sei porque ainda estou aqui.

- Temos os armários que queremos, onde queremos. Digamos que é um "bônus" do Sr. Lewis. – Ele bate duas vezes no armário tentando abrir. Impaciente, além de estabanado. – Já não bastava mudar nossa rotina pelos caprichos dele...

- Por que vocês merecem um bônus? Vocês não têm nada de especial. - Ele dá um sorriso torto, e me olha maliciosamente.

- Nós temos coisas que você não pode nem imaginar. - Fico olhando ele pegar um livro... física? E bater o armário logo em seguida. - Ficaria impressionada, docinho. A gente se vê. - Ele sai, andando em direção à sua sala.

- Docinho? – Resmungo sozinha, mas fui deixada falando sozinha.

Eu deveria estar na minha primeira aula, eu sei. Digamos que eu não me sinto à vontade naquele tipo de situação, e provavelmente nunca me sentirei. Matar uma aula não faria tão mal, faria?

Serenity, você é tão estúpida a ponto de atrapalhar sua rotina por causa de um garoto estranho?

.... Sou.

Caminho em meio à multidão que se dirige aos corredores, e saio do prédio. Na rua, vejo apenas algumas garotas do segundo ano, rindo e cochichando sobre os alunos do outro turno. Algo dentro de mim próximo ao desprezo tenta transparecer, mas eu ignoro. Calminha, Serenidade. Somos todos um pouco estúpidos, não é?

- Bom dia, Sereny! – Escuto a voz familiar. Abaixo a cabeça e dou um sorriso fraco sem parar de andar, na esperança de ser ignorada. Falhei. – Espera!

Levanto meus olhos. Diana Renkins. A minha antiga amiga que mencionei antes, cachos escuros e pele no tom de cappuccino escuro. Belíssimo contraste com seus olhos cor de mel. Ela usa uma jaqueta jeans clara, vestido e botas. Sempre bem arrumada, parece brilhar por onde passa. Talvez seja essa a fonte de sua futilidade.

Me chamar de Sereny é tão ridículo quanto tentar se aproximar de mim agora. Isso me incomoda.

- Oi, diga. – Respondo olhando para os lados rezando que ela desista. Vejo suas amigas esperando, os sorrisos coloridos maquiados. Miranda sorri admirando sua ídolo. É patético.

- Você viu a Hope? Eu queria falar com ela, mas não acho ela em lugar nenhum. – Ela dá uma risadinha. Isso é tortura. – Ei?! Está me ouvindo? – Me pego divagando no quanto isso é cansativo.

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora