Perdida

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Fico em silêncio olhando Ícaro. Ele me segura com força, seus olhos azuis estão... urgentes.

Eu estou com muito medo. Não sei o que pensar, muito menos o que dizer. Me sinto vulnerável apenas de estar no meio de Forest Witchery.

Devagar ele me solta, respirando calmo. Tirá-lo do sério é realmente difícil... Foi necessário fugir de... "guardiãs" e entrar no assunto bruxaria. Nunca imaginei que minha noite acabaria assim, fugindo de árvores vivas querendo me matar.

- Acredito. - Digo olhando para ele. - Depois disso... acredito sim.

Ele aperta os lábios, respirando fundo. Sua mão pálida segura a minha, me guiando, como um professor faria.

- Segura essa coisa direito. - Ele coloca o punhal na minha mão, aperta meus dedos com força acima do cabo de madeira escuro. - Você vai mirar aqui. - Ele aponta para a direção do seu coração, o peito magro que por mais que aparente, não possui nada de frágil. - Aqui. - Ele coloca o punhal em sua cabeça. - E aqui. - Ele aponta para o estômago. - Seja o que for que te atacar, sendo do tamanho de um humano, creio eu que você consiga lutar assim. Você consegue?

- Acho que sim. – Minha voz acaba saindo mais trêmula do que eu imaginaria. Estou com os olhos marejados e o coração aflito.

- Serenity. – Ele respira fundo, parece calcular tudo que me diz. – Preciso que se esforce. Certo?

- ... Certo. - Ele sorri vitorioso, começando a andar novamente. O bosque escuro está se prolongando cada vez mais, parece até infinito. Conforme ele empurra os galhos no caminho, e me alerta um milhão de vezes sobre o gelo no chão, eu tento ser o mais cuidadosa possível.

Ele me olha de canto, parece despreocupado segurando a lanterna suja de terra.

- Sebastian Sullivan era um bruxo. - Ele começa a dizer, e eu encaro ele surpresa, enquanto ele caminha. Sebastian... Sullivan. Ligações com Trevor, que poxa vida, é um pedaço desse lugar assustador. - Um bruxo dos mais poderosos, eu diria. Ele era também o maior inimigo do meu pai.

Ícaro parece nostálgico, apesar de falar sobre isso com certa dificuldade.

- Não importa para você, mas eu fui adotado. Tudo que eu sei, eu tive que aprender, não nasci com o "dom" como eles. – Ele puxa a manga do casaco, me mostrando seu braço, iluminado pela lanterna.

Um símbolo como uma meia lua, cravejado em sua pele. Como se tivesse sido feito com uma queimadura, é um relevo em sua pele, uma cicatriz. Tapo a boca, um pouco surpresa, ele parece achar divertido.

- Queimaram você. - Digo pisando com dificuldade no solo, tentando acompanhar seus movimentos. Ele franze a testa, sua expressão de deboche vacila, mas logo se vira, ignorando.

- São as consequências do ofício.

Escuto uma coruja, e quando olho para árvore onde ela está, sua cabeça se vira completamente. Não seria incomum, exceto pelo fato dessa coruja parecer ser feita de folhas verdes das árvores. É fantástica. Vejo seus olhos negros brilharem no tronco da árvore. Assustada, paro de olhar imediatamente. Minha curiosidade não me leva muito longe.

- A família Sullivan é uma linhagem de bruxos da mais alta classe. Sangue puro, cruéis, destemidos. – Ícaro explica, eu sigo ele cegamente, atenta em suas palavras. Não consigo imaginar Trevor em algum tipo de realeza. Ainda mais depois dele me contar o histórico de sua vó e em como a mãe dele era "livre". – Os Sullivan existem desde o início desse lugar. Dizem que são a alma daqui.

Quisera eu que ele tivesse me contado isso por si só. Mas, como sempre, estou sendo persistente... e inconsequente.

- Porém, Sebastian se apaixonou por uma humana. Humanos não podem ter um filho de um bruxo sangue puro. - Ele faz um sinal para eu me sentar em um tronco com um pouco de neve. Eu limpo com a manga do casaco antes de me sentar. Ícaro joga alguns galhos na nossa frente, amontoados, como se fosse fazer uma fogueira. Ele...

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