Eu não sei até que ponto vão minhas habilidades. Qual é o gatilho para que elas se manifestem, o que me deixa mais forte? Eu sinto como se vivesse em uma bolha até meus dezessete anos. Eu não me conheço, mal sei do que sou capaz.
Deixei Arcano's com olhares pesados me acompanhando. Não causei uma boa impressão quase matando a amiga deles assim que os conheço. Olho para trás, ainda exausta do esforço que fiz, enquanto Trevor caminha ao meu lado. Queria nem ter pisado nesse lugar, sinceramente.
- Nada de portais. – Digo. – Quero caminhar como um ser humano normal e cansado.
- Você quem manda, srta. Wood.
Ele coloca as mãos nos bolsos. Brancas e geladas pelo vento que me faz arrepiar. O casaco preto comprido e quente, os coturnos apropriados para chuva e dias gelados. Sinto minha boca rachando pelo frio, e minha capa amarela de chuva é nada atraente.
Eu desvio das poças com um silêncio estranho pairando no ar. Trevor e Estella cuidaram de meus ferimentos, mas ainda assim, sinto um estranho desconforto no estômago e no meu corpo.
Ele encara o céu. Tons de vermelho e laranja após a chuva, intensos.
- Está quieto. – Digo bocejando, a rua longa e as pessoas aos poucos saindo de suas casas com os guarda-chuvas fechados.
- Eu não sei o que dizer. – Ele responde com um sorriso gentil.
- Então diga qualquer coisa.
- Hum... – Dobramos a rua pela direita, em direção à minha casa. Vejo algumas pessoas aglomeradas logo à frente, rindo em direção à um restaurante. Faz tempo que não vejo Hope, Oliver, Isaac... parece algo que eles estariam fazendo agora.
- Me pego pensando se está com raiva de mim. – Trevor diz. – Por isso o silêncio desconfortável.
- Se eu estivesse com raiva, silêncio só iria piorar. – Dou um sorriso debochado e ele revira os olhos rindo levemente. – Porque acha isso?
- É... – Ele mexe as mãos de uma maneira engraçada enquanto caminhamos, tentando achar alguma maneira de explicar. – Não ria de mim, Serenity Wood. – Isso só me faz achar mais engraçado ver alguém como Trevor nervoso perto de mim.
Nós passamos pelo centro, onde há algumas lojas e mercados. Eu puxo o braço dele, enlaçando no meu, e diminuindo o passo. Caminhamos devagar lado a lado, e isso parece fazê-lo se tranquilizar.
- Tudo que aconteceu hoje não estava nos meus planos. – Ele suspira. – Aqueles idiotas, a atitude imbecil do Ícaro... – Ele franze a sobrancelha. – Ás vezes sinto vontade de explodir. Mas eu não posso, sou o Sullivan, eu tenho que ser um cara maduro... – Ele faz uma voz de deboche, resmungando enquanto caminhamos, o que me faz rir e querer gravar isso. Nunca pensei vê-lo desse jeito, esse lado imaturo e impaciente de Trevor.
- E quando foi que eu disse que você não pode resmungar também? – Digo e ele me dá um sorriso. – Eu faço isso o tempo todo, e você me aguenta. O lado chato de amar alguém.
- Aguentar você reclamando de tão preguiçosa? É verdade. – Ele diz. – À cada encarnação você fica mais preguiçosa. – Nós rimos, e eu sinto vontade de congelar nesse exato instante. Nessa paz, de poder conversar com ele sozinha, sem me preocupar com mais nada.
- Vou ser uma velha preguiçosa e você um velho reclamão. – Ele passa o braço por cima de meus ombros, enquanto andamos pacificamente.
- Tem razão. É o que eu quero, mesmo. – Ele beija minha testa, fazendo meu rosto esquentar, apesar de todo frio aqui fora.

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Serenity
FantasySe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...