Esperança

231 45 23
                                    

Me pego pensando em uma mentira para fazer com que ninguém se preocupe com meu sumiço. Principalmente minha família.

Digamos que eu não posso simplesmente dizer que vim parar em uma floresta diabólica, que eu estou sozinha com feiticeiros e que eu sou amaldiçoada. Nunca fui de mentir sobre coisas importantes, mas uma verdade dessas pode tirar o sono de todo mundo. E fazer me internarem em um hospício.

Eu pego meu celular sem muitas cerimônias. Em quem minha mãe e minha tia dariam mais confiança?

Oliver.

- Certo. – Respiro fundo. Ele não pode notar meu nervosismo. Tanto quanto já deve ter notado que não apareci na escola e nem dei sinal de vida. Olho para o canto, Trevor está distraído com os livros, de acordo com ele, não tem tempo para parar de pensar na maldição. Na salvação. – Vou falar com o Oliver. Inventar alguma coisa.

Ele me olha pensativo, franzindo as sobrancelhas.

- Sua vó. – Ele diz. – Fale da sua vó que mora perto das montanhas, acho que pode funcionar. Diga que pegou um trem.

- Como você sabe disso? – Eu digo já impressionada. Até me lembrar que ele conhece mais de mim do que eu imagino. De outras Serenitys. – Ah, nem precisa responder. Já entendi. – Ele dá um sorrisinho, voltando a ler, e eu respiro fundo.

- Oi. – Escuto a voz do outro lado da linha, ele atendeu na primeira chamada. – Calma, Hope já cuidou de tudo, ninguém está atrás de você. Pode aproveitar o namoradinho. – Escuto o riso abafado e reviro os olhos. Idiota.

- Oli. – Digo. – Eu peguei um trem hoje. Fui para casa da vovó. – Ele tosse, aquela tosse de desconfiança. – Ei?

- Sereny, você enlouqueceu?

- Não, eu só queria sair. – Tento parecer firme. – Talvez eu não demore. Só preciso que acalme minha mãe e minha tia. Elas não iriam acreditar em mim.

- Me prometa que não está fazendo nenhuma merda. – Ele diz e eu sinto a barriga doer. Odeio mentir, odeio mentir...

- Prometo. Estou bem, confia em mim. – Confiança, Serenity. – Cuida do pessoal por mim.

- Vou te ajudar. Mas estou de olho. Você vai deixar a Hope maluca. – Ele suspira. – Se cuida, certo? Manda um beijo para vovó.

- Certo. Obrigada, Oli. Até mais.

Quando desligo o telefone, meu coração já estava acelerado o bastante. Trevor faz um certinho com a mão para mim, que só consigo suspirar aliviada.

Eu sinto vontade de chorar. O "até mais" pode durar muito mais do que eu imagino. Eu não posso voltar agora. E eu não quero morrer, nunca mais. Eu sinto medo.

Sinto dor ao imaginar a reação que cada pessoa que eu amo teve quando eu parti antes.

Eu... preciso pegar um ar. – Digo guardando o celular no bolso da calça, e dando meia volta, parando no batente da porta. – Mas quando eu voltar, você vai me contar até os mínimos detalhes, Sr. Sullivan. – Eu digo. – Até a coisa mais idiota possível.

- Prometo. – Ele sorri.

Caminho pela cabana devagar. Sentindo as borboletas remexendo no estômago, as pernas bambas. Eu vou até a porta da frente, e quando abro a mesma, o sol invade minha visão, machucando.

É uma visão completamente diferente de antes. A luz me faz perceber os detalhes, as cores que rodeiam esse lugar. É como se houvesse uma barreira, que protegesse do frio, da neve, das criaturas. Magico.

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora