Dispersa de tudo ao meu redor, deixei que Hope se preparasse para sua apresentação, que começará em breve. Saio, de volta para a rua e multidão, procurando Trevor em meio ao alvoroço.
Me pego pensando em todo tempo que passou, e em como me sinto perdida em meio à tantas pessoas. Não consigo achar nenhum conhecido, sequer sei onde Trevor foi parar.
- Srta. Wood. – Sinto uma mão no meu ombro. Apesar do apelido que Trevor me deu, não é ele. É uma voz envelhecida, como de... Sr. Lewis. – Venha comigo, por favor.
Eu me viro, e vejo Sr. Lewis andando em direção aos fundos, desviando dos alunos agitados. Sigo-o, apesar de achar a situação absurdamente esquisita. Conforme nos afastamos da agitação, passamos pelo jardim de tulipas, iluminado, em direção à estufa, ou melhor, sua sala.
Ele abre a porta cautelosamente, verificando o interior. Um arrepio percorre meu corpo com o vento gelado, e eu entro, agradecendo pelo local quente. Verde e mais verde cercam o local, suculentas e plantas presas no teto e paredes, é mágico.
Trevor e Ícaro! Parados ali, nas poltronas, apenas me esperando. Trevor me dá um sorriso, e eu continuo sem entender absolutamente nada. Sr. Lewis me olha estralando os dedos, os olhos escuros tensos.
- O que está acontecendo? – Digo um pouco oprimida pelo silêncio que paira o ar.
- Eu estou um pouco preocupado com o andamento das coisas. – Sr. Lewis respirando fundo, se senta. Ele fica me olhando tenso. – Temo que Sebastian ameace toda nossa existência. Feiticeiros, pessoas com dons especiais.
Tento não me surpreender com tudo que Sr. Lewis demonstra saber. Digo, eu sabia que ele tinha consciência de nós, de tudo. Mas vê-lo discutir isso na minha frente é muito estranho.
- Eu sinto algo emanando de dentro de você, Wood. – Ele diz. – Tantas voltas e idas desse mundo... É muito poder. Você nem imagina o quanto. E Sebastian vai querer isso para ele.
Engulo em seco.
- O que quer dizer? – Trevor indaga, Sr. Lewis puxa da gaveta uma espécie de livro. Ele o abre, as páginas em branco. Mas quando passa os dedos pelas páginas em aberto, uma magia começa a pairar no ar. Como figuras flutuando acima do livro.
Uma névoa preta e roxa, os tons desfigurados se misturando. Um homem encapuzado caminha por entre a névoa, se ajoelhando no chão, cortando sua própria mão. Do seu sangue, figuras sombrias começam a surgir. Desfiguradas, e ferozes. Juro ver um sorriso em seu rosto.
Sr. Lewis, com dificuldade, corta a magia. Eu sinto meu coração saltando do peito. Quando olho para Trevor, em busca de suporte, ele parece tão assustado quanto eu. Ícaro atrás de nós, fica com as mãos trêmulas e olhos estáticos.
- Sebastian está invocando um exército. Magia negra, medieval, desconhecida e forte. – Sr. Lewis explica. – Ele vai ultrapassar a barreira da floresta Witchery. Ele tem poder para caçar à todos, em qualquer lugar.
Eu sinto minhas pernas tremendo. Tão forte, e tão difícil me manter de pé, que eu dou dois passos para trás, me apoiando na parede da estufa. Uma vontade incontrolável de gritar assombra meus pensamentos.
- Você está escondendo alguma coisa. – Trevor falou, e Sr. Lewis fecha os olhos. Não tem como ficar pior, tem? Me diga que não. Eu tenho medo.
- Ele quer ela viva.
- Por que ele faria isso? – Ícaro grita, os punhos cerrados.
- Ela é muito forte. Vocês não conseguem ver. Mas eu, Peter, Sebastian... feiticeiros de longa vida, conseguimos sentir. Ela tem muito valor.
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Serenity
FantasySe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...