Entrelaços

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A claridade machuca meus olhos. Com dificuldade, olho ao redor, bocejando. O quarto de Trevor. As mesmas cortinas, as paredes rústicas e os lençóis aconchegantes. Eles tem o perfume de Trevor, feitos de seda. Me viro na cama de casal, aproveitando meus últimos segundos confortáveis. 

Desejo ficar aqui, sem mover um músculo pelo resto do dia.

Estou sob lençóis quentinhos e macios. Eles são brancos, acima de mim, outra camada me cobre, feito de seda e com o perfume de Trevor.

Sinto meu nariz escorrer, e meu corpo estranhamente doendo. Espero estar errada. 

Estou enrolada em um cobertor quentinho, e meus cabelos estão secos. Dou uma corada ao imaginar Trevor cuidando de mim com toda delicadeza possível. Tirou meu casaco, secou meus cabelos e arrumou a cama.

Eu me sento, e vejo ele pela porta entreaberta na cozinha, pegando alguma coisa no armário. Ele tem um sorriso doce, enquanto parece arrumar um sanduíche com toda gentileza possível. As mangas da camisa branca delicadamente puxadas para cima, os cabelos em pequenas ondas castanhas caindo sobre a testa, os movimentos precisos. Fico hipnotizada.

Sinto meu rosto quente, e meu corpo transpirando. Que droga. Essa dor de cabeça leviana não me ajuda também.

- Ei... – Escuto a voz de Trevor, e ele surge na porta, trazendo algo para eu comer. Me esforço para sorrir, ignorando meu evidente mal estar. – Droga, eu já imaginava. 

Ele coloca as coisas ao lado da cama, acima da cômoda e pousa sua mão delicadamente no meu rosto. Sinto cheiro de chá de laranja, e minha boca saliva instantaneamente. 

- Queimando. – Ele diz. Suspira, franzindo as sobrancelhas. – Era bem previsível que iria pegar um resfriado, Sereny. – Eu sinto meu corpo inteiro doer, juntamente ao calor excessivo.

- Me sinto podre. – Respondo exausta. Ele dá uma risadinha. – Quero um banho, e um chá da tia Leona.

- O meu não serve? – Ele diz com os olhinhos brilhando, e eu não posso deixar de achar engraçado.

- Serve. – Digo e Trevor me pega no colo, eu me seguro no seu pescoço sentindo as cobertas caírem. – Ei, o que está fazendo?

- Vamos cuidar disso. – Ele me leva até a porta do banheiro, me colocando sentada sob a pia, onde eu me escoro na parede suspirando. Minha cabeça inteira dói, pulsando. Entrar naquela porcaria congelada nesse maldito frio realmente não ajudaria. Fico observando Trevor, praguejando a maldita sereia mentalmente. 

A pia de mármore é fria, o que me dá um alivio por todo calor que estou sentindo. Há uma banheira, ao lado de algumas prateleiras com produtos de limpeza e umas plantas que deixam o lugar agradável. Um tapetinho vermelho, e uma pequena janela do outro lado. Trevor começa a encher a banheira, a água quente saindo o ar quentinho. Ele fecha a porta, e eu sinto minhas bochechas corando.

- Bom. – Ele diz, se aproximando de mim. A banheira cheia, com algumas ervas na água. Coisas de bruxo, eu presumo. – Toda sua. Me deixe te ajudar. – Ele desce as mãos até minha camisa, e meu coração se acelera.

- Eu consigo sozinha! – Respondo nervosa, e Trevor dá uma risada. Devo estar parecendo ridícula.

- Eu já vi tudo isso antes. – Ele fala, se virando, dando uma risada debochada. Eu não consigo conter meu rosto esquentando muito mais do que a febre já estava fazendo.

Fico resmungando, observando Trevor atrapalhado rindo de mim. Tudo bem, Serenity. Tudo bem. Posso lidar com isso. 

- Tudo bem. – Eu digo, e ele sorri, beijando meus lábios levemente. Eu me afasto depressa. – Que nojo, vai ficar doente também!

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora