Medo

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Estou ficando maluca. Não há outra explicação.

Livros não possuem vida própria, poxa. Isso é ridículo. Eu devo estar alucinando.

Depois de comer a impecável comida da Sra. Wood (ah, como eu senti falta disso!) eu corri o mais rápido que podia em direção ao meu quarto. Fiquei durante o jantar inteiro encarando minhas batatas assadas com molho, a carne de panela muito bem temperada e o arroz quentinho. Eu só penso no livro criando vida na minha frente.

Seguro meu celular, sem respostas. Estou começando a ficar preocupada com Trevor (e ansiosa demais para contar isso para alguém!). Hope, Oliver, Isaac? Algum deles acreditaria em mim? Será que Leslie me responderia, também?

Não seja ansiosa, Serenity. Não. Seja. Ansiosa.

Eu deito na cama, apago as luzes, e puxo a coberta de maneira que me tape inteira. Fico com ideias fervendo dentro da minha cabeça, e a lua parece brilhar forte o suficiente para alimentar minha insônia.

Me viro um milhão de vezes. Fico batendo a perna impacientemente, estralando os dedos, mas não consigo dormir. Acabo me virando na cama de maneira que posso ver pela janela. O cobertor quentinho e azul com cheiro de amaciante me envolve.

Tente pensar em outra coisa. Tente pensar em flores, em paz, em qualquer coisa. Em algo que me deixe bem. Em Trevor. Nos seus olhos violeta, nas suas mãos firmes, sua pele macia. Sua boca doce e seu jeito peculiarmente intrigante.

Ah...

As árvores são distantes. Negras, cada vez mais e mais escuras.

Trevor surgiu dessa floresta. E meus medos também.

...

Escuto alguém me chamar. Ecoa "Serenity" ao longe, repetidamente, cada vez mais alto. Uma voz desesperada, na qual o tom vai aumentando conforme eu me movimento.

Não está me chamando, está suplicando. É um desespero horrível, sinto meu corpo todo estremecer.

É a voz de Trevor.

Eu nunca estive aqui. É a floresta.

Olhando em volta, caminho de pés no chão, já feridos e com um pouco de sangue. De novo. Essa sensação é familiar. Estranhamente, não sinto nada diante disso.

Eu não sinto dor. Eu sinto... medo. E isso incomoda muito mais.

Coração acelerado, mãos suando frio, uma dor intensa no estômago, como borboletas desesperadas dentro dele.

Quanto mais eu me aprofundo entre as árvores sombrias, mais sangue vou deixando pelo caminho. A voz se aproxima cada vez mais e meu coração está acelerando. Eu preciso achá-lo! Ele está tão assustado quanto eu. Precisa de mim.

Me seguro em um tronco velho e apodrecido, como se precisasse de suporte.

O que diabos é isso na minha frente?

Meu coração está pulsando tão forte que estou ficando zonza. Sinto que vou vomitar.

Vejo garotas no chão, jogadas e mortas em fileiras. Não conseguem falar, mas de alguma forma, consigo ouvir sua dor.

Eram várias versões de mim. Suplicando por socorro, me perturbando com os olhos opacos.

Todas vertendo sangue, os olhos acinzentados aflitos, os cabelos negros sobre o rosto. Todas são eu. Com o mesmo vestido branco que estou usando e os mesmos pés feridos. A roupa manchada com o vermelho mais vívido que já vi. Elas estão... Elas...

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora