Proteção

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Me sinto claustrofóbica quando a lanchonete enche e todos a nosso redor começam a se espremer.

Eu sou puxada pelo braço até a rua, uma pequena porta nos fundos. Trevor me segura com força, a expressão rígida, triste, mas ao mesmo tempo perturbada.

Eu fico na parede do refeitório, as costas na superfície gelada, e ele parado me olhando.

- Aquela floresta é manchada de sangue. - Ele começa a dizer, a respiração alterada. – Eu.... Não gosto de lá. Não gosto de falar sobre Forest Witchery.

Fico olhando para ele sem demonstrar reações. Eu não sei o que pensar, muito menos o que dizer. Verifico se não há mais ninguém para ouvir nossa conversa estranha, e por sorte, estamos sozinhos.

- Calma, eu... – Começo a dizer assustada com suas ações trêmulas, mas ele me interrompe.

- Eu não queria... - Ele começa a falar, a cabeça baixa, os olhos perdidos. - Não queria que ninguém se ferisse. Eu tenho... Alguém para salvar, proteger. E eu faço isso a todo custo. – Fico confusa, tento acalmá-lo de alguma maneira.

- Ninguém mais entra lá. Nem os mais corajosos. – Falo baixinho. – É claro que são só lendas.

Seus olhos violeta são aflitos. Como se só de pensar nisso, seu mundo desabasse e ele fosse apunhalado. Só de ver seus punhos tremendo de leve, e a respiração alterada, fico perdida pensando em como ajudar.

Coloco minha mão no rosto dele, erguendo o mesmo. Tudo bem, eu posso ter serenidade uma vez na vida. Tento ser calma, ele pode me contar aos poucos.

- Tudo bem. - Digo baixinho e puxo ele. Ele me abraça, forte. Esconde o rosto no meu peito, me apertando contra ele, como se precisasse de minha proteção. - Estou aqui. E vou tentar entender. Estou a seu tempo, Trevor. Você pode me contar. – Ele me aperta forte, um abraço tão apertado que sinto meus ossos se espremendo.

Tento ignorar o fato de estarmos tão próximos. Ele precisa de mim agora.

- Me desculpa. - Ele diz com a voz abafada. - Eu não consigo agora, me desculpa.

Eu fico em silêncio. Só abraço ele, e fico olhando para o nada. Quem quer que seja essa pessoa que ele protege, é uma coisa forte. Não consigo entender, nem sei se um dia vou. Talvez seja alguém da família, alguém que ele ame tanto assim.

Amor.

Trevor parece ter vivido tanto, e eu não sei nem 1% disso.

Eu sequer imaginava que ele pudesse ser frágil mesmo que lá no fundo. Eu vou descobrir. Não interessa o que aconteça, eu sei que vou.

Fiquei um pouco constrangida, mas tentei ser o mais gentil possível. Passo a mão por seus ombros, longos e fortes, e percebo cicatrizes por baixo de seu pescoço. Trevor Sullivan é intrigante. Não sei se sinto medo, ou pena.

- Vai ficar tudo bem. – Respondo e ele se distancia aos poucos. – Você também me ajudou, com minha família. – Seus olhos violeta são intensos. – Ergueremos um ao outro.

Ele sorri para mim, os olhinhos meio tristes. E eu sinto que mesmo em silêncio, conseguimos nos entender.

Eu voltei sozinha para sala, e não vi mais ele. Ele apenas se afastou dizendo "te vejo amanhã" como se nada tivesse acontecido. Talvez eu não seja mesmo tão bom detetive assim. Eu não sou boa com pressões, e acabei não me saindo como esperava.

Hoje depois da aula, meu irmão emprestado tentou levantar meu humor. Acho que eu precisava espairecer, esquecer como tudo soa complicado ao meu redor.

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