Algumas coisas me rodeiam de modo que eu não gostaria. Ainda não entendo ao certo as minhas origens, meu presente e meu futuro.
Eu não sei de onde veio a primeira Serenity. Se eu era diferente disso, como eu pensava e toda a dor que senti. Não sei quem sou agora, não sei controlar essa força dentro do meu peito e esse medo horrível que eu sinto. Não sei se vou viver o suficiente para me descobrir.
Trevor me levou de volta para Palace Gardens. Estava em silêncio, e não conseguia parar de pensar em milhares de catástrofes. Eu não tive coragem de entrar de novo. Fiquei parada perto do portão segurando meu coração e sentimentos por entre os dedos, o braço de Trevor apoiado entre meus ombros, como proteção. Ícaro estava tão perturbado quanto nós, assim que soube o que aconteceu. Ele me abraçou, evidentemente chocado com tudo. Eu estremeci, nunca imaginaria nada disso partindo da arrogância de Ícaro, mas o coração dele é muito maior do que eu imagino. Eu deveria pensar mais neles do que apenas nos meus problemas.
- Eu não tenho certeza se quero ir para casa. – Digo cabisbaixa o suficiente para que Trevor respire fundo, fundo demais. Está escuro, e caminhamos pela rua deserta, em caminho de minha casa. Se já foi difícil encarar meus amigos, imagine mamãe e tia Leona.
- Acho que não têm muita escolha. – Ele responde. Eu dou um suspiro. – Elas estão preocupadas. Seria cruel fugir disso.
- Eu sei. Mas só consigo pensar no John... e no seu pai.
Ficamos em silêncio. Trevor aperta minha mão, os dedos entrelaçados estremecem assim que digo disso.
- Você nunca foi muito otimista. – Trevor dá uma risadinha, e eu dou um sorriso triste.
- Eu sei... – Chutando as folhas no chão, consigo ver a clássica lâmpada redonda que fica na ponta da minha rua. Tão velha quanto eu. Estamos chegando, e a minha casa já está ali, apenas algumas janelas iluminadas, silenciosa. Sinto meu coração acelerar. Nem parece que eu fugi de casa. Parece em paz. Elas nem imaginam nada.
Eu continuo caminhando nervosa demais para prestar atenção no resto.
Trevor me segura. Me puxa pelo braço, me forçando à olhar seus olhos violetas. A lua acaricia sua expressão suave, ele parece feito de seda, com seus olhos cristalinos.
- Te amo. – Ele fala baixinho, quase um sussurro. – Mais do que tudo e todos. Você sabe disso, por centenas e centenas de anos.
Eu me sinto impulsionada em chorar, em me deitar no chão e espraguejar por todas as desgraças que me aconteceram. Mas não faria o mínimo sentido. Só eu conseguiria passar por isso, e ser Serenity Wood.
- Amo você, Sr. Sullivan.
Eu dou um sorriso, e envolvo seu rosto com minhas mãos. Beijo ele urgentemente, e é como se um peso sumisse dos meus ombros. Como se levitasse, com magia, e me renovasse por completo. Sua boca é doce e úmida e é o suficiente para que me faça perder a noção do tempo.
Ele passa as mãos pelos meus cabelos.
- Vem, está na hora.
Nos aproximamos da casa verde clara.
Quando eu seguro na maçaneta, abro a porta rapidamente. Trevor fica parado atrás de mim. Tudo está igual: os móveis, a TV ligada, algumas taças espalhadas pela mesa de centro, e Loki ronronando assim que me vê. Senti tanta saudade dele, que o pego no colo, sorrindo sinceramente.
- Mãe? – Eu falo um pouquinho alto, e logo escuto barulho de panelas sendo derrubadas na cozinha. Loki pula do meu colo, assustado, e eu estremeço. – Está tudo bem?
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Serenity
FantasySe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...