Ficar repetindo "vai ficar tudo bem" é cansativo. Depois de algumas vezes, começa a soar como uma mentira, um consolo triste.
- A amante do meu pai me ligou. Vim correndo, ele bateu nela. - Eu dizia ao policial, enquanto ele anotava. A sirene da viatura estava tão alta. Ridiculamente irritante. – Parece que foi esfaqueada, além da surra. - Ele me olha com pena. Tenho que admitir, que no lugar dele eu faria a mesma coisa.
Tentei me manter sem lágrimas. Séria, calma. Estou mentindo para todos com minha expressão falsa.
Eu liguei para irmã da minha mãe, tia Leona. Ela é o tipo de pessoa que sabe lidar com situações difíceis e eu não sei o que dizer ao certo para minha mãe. Talvez ela saiba; talvez me ajude a juntar os cacos. Enquanto elas foram para o hospital, eu fiquei aqui, dando depoimentos e tentando colocar as coisas no lugar.
- Seja forte, Srta. Wood. - O policial diz gentilmente. Eu dou um sorriso fraco. – Vamos encontrá-lo.
"Tenha serenidade".
Doeu muito apagar as luzes depois de juntar cacos de vidro e limpar a bagunça. Estava me sentindo exausta, e ainda voltaria ao hospital. Eu deixei Loki no meu quarto, longe da bagunça e livre desse ambiente tóxico. Me sinto culpada por estar com medo.
Nos cinco dias seguintes, eu dormia no hospital, almoçava no hospital, e só ia para casa tomar banho. Minha mãe está em total silêncio. Meu pai, está desaparecido, e a única vez que ela falou comigo, foi para perguntar se ele me machucou também.
Durante o primeiro dia, eu não sabia direito como olhar para ela. Eu parecia um castigo por ter a aparência tão semelhante com a de John, e me dói perceber isso no olhar dela.
Eu fiquei vagando pelos corredores, e tia Leona se sentava para tentar me distrair, falando de sua vida na cidade grande e suas histórias empolgantes. Eu sinceramente não prestei muita atenção. Dispersão, é o nome disso.
- Não teve problema em largar tudo para vir aqui? – Digo e ela faz um olhar chateado.
- Sabe, querida... – Ela suspira. – Eu sempre avisei a sua mãe. Eu já imaginava que esse dia chegaria. – Eu de fato entendo ela.
- Entendi.
- Não doeu pedir férias, se eu pudesse me mudava para cá. – Ela sorri gentilmente. – Vocês são minha família.
- Obrigada. – Eu coloco minha cabeça em seu ombro, recebendo o carinho gentil no cabelo.
Eu me desliguei por completo.
Hoje, ela ganhou alta do hospital. Arrumei a casa durante a manhã toda, e mudei muitas coisas nela também. Fico escondendo os porta retratos de família e os presentes antigos que ele lhe deu, espalhados pela casa. Quero que ela esqueça tudo que envolve o John. Mas infelizmente, eu sou a lembrança mais vívida dele. Os mesmos olhos cinza, a mesma expressão indiferente. A mesma arrogância.
- Ei! – Eu exclamo, vendo Loki subir na mesa que eu acabei de limpar. Ele deve pensar que seus pelos são uma benção para nós, meros mortais. Não consigo me irritar, eu apenas ri do pequeno felpudo.
Durante esse tempo todo, Trevor me ligou todas as noites. Ele falava comigo durante minhas insônias e me fazia esquecer por essas longas horas o quanto eu queria achar meu pai e fazer ele pagar por tudo isso.
Trevor me fazia rir, me mandava fotos engraçadas, e piadas idiotas. Eu me sentia mais próxima dele por me fazer esquecer dos problemas por alguns minutos. O dia em que eu não conseguia dormir, e ele ligou o telefone enquanto tocava violino foi o mais calmante para mim.

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Serenity
FantasiaSe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...