Eu não havia decorado o caminho de volta, isso com certeza. Ver a floresta com os nuances da luz do sol, é uma sensação muito diferente do sombrio que atravessei para chegar até a cabana de Trevor.
Apesar de irritados comigo, eles se mantém em silêncio. Digo, eu não obriguei eles a virem comigo, eles já sabiam que eu voltaria de qualquer maneira. Ícaro está na frente, pisando firme no chão úmido da neve. Apesar de frio, o sol me engana, me dando a sensação de um leve quentinho (ou talvez seja a minha febre novamente).
Talvez eu seja imprudente ou extremamente idiota por estar fazendo isso. De qualquer maneira, não me importo. Era inevitável.
Estamos caminhando já faz tempo o suficiente para que eu perdesse a noção... do tempo. Não sei se isso faz muito sentido, mas é o que estou sentindo agora. As árvores são esbranquiçadas, pela neve e pela magia do lugar, e estamos passando por um caminho diferente.
- Já passamos por aqui antes? – Digo, estranhamente, sentindo vontade de rir. Eles me olham de uma maneira esquisita, franzindo as sobrancelhas, o que me faz rir cada vez mais.
- Trevor, isso... – Ícaro começa a dizer, mas eu não presto atenção. Me seguro no braço de Trevor, dando alguns passos lentos e olhando para cima.
As copas das árvores parecem girar, se distorcendo em tons de branco e vermelho... e verde... consigo ver o azul do céu... girando, girando, girando...
- Ei! – Trevor me puxa. Acho que acabei escorregando do braço dele. Não consigo evitar de dar risada, conforme minha visão fica distorcida. Sinto tanto sono, mal consigo manter os olhos abertos.
Fico olhando para meus pés. Tão pequenas, essas botinhas marrons. Me sinto em um desenho animado, com essas botinhas andando perto desses cogumelos. Cogumelos vermelhinhos, brilhantes, fofinhos...
- Ei, olhem isso. – Eu digo, encantada com minha calça jeans. A mancha de café que fiz nela parece formar um coelhinho. Eu fico apontando para a calça, sorridente, e eles me olham como se eu fosse doida. – Não é lindo?
- O que aconteceu com ela? – Ícaro resmunga, e eu tento murmurar um "idiota" mas minha voz acaba não saindo. Ah, que patético... esse sono infernal. – Parece drogada, puta merda.
Eu sou levantada do chão, não consigo ver Trevor. Ah, ele está me segurando. Tento passar os dedos pela bochecha dele, branquinha e macia. Isso é tão engraçado!
- São os cogumelos. Ela resolveu sair bem no momento do desabrochar deles. – A boca dele se mexe. – Fazem isso com humanos. Bom, ela não é uma bruxa sangue puro, muito menos treinada para resistir a isso... – Trevor fica dizendo e eu viro a cabeça para trás, sentindo ele me segurar. O balançar é tão bom...
- Ela está me assustando. – Ícaro fala, e faz uma careta para mim. Eu não consigo evitar de rir.
- Trevor... – Sussurro. – Falta muito?
Ele faz um sinal de sim com a cabeça, e eu suspiro, olhando para os pés dele. Caminhando, caminhando. Os cogumelos no chão, com esse aroma esquisito que me faz me sentir tão bem.
- Quando eu era criança, eu queria morar em um cogumelo vermelho. – Falo baixinho, fechando os olhos. O sono tomando conta de mim.
- Então, continue de olhos fechados. – Trevor sussurra. – E imagine que estamos em um cogumelo igual esses. Quando acordar, estaremos lá.
Eu obedeço. O balançar me deixa tão calma, conforme tudo vai escurecendo.
Sinto algo apertando minha bochecha, um leve beliscão. Abro os olhos com dificuldade, a luz e o vento frio me tocando com força.
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Serenity
FantasiaSe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...