Confusa

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Tudo segue confuso como de costume.

Eu assopro meu café, o ar quente e úmido aquecendo minhas bochechas.

- A polícia ligou, parece que John sumiu do mapa. - Ela diz, a testa franzida. – Mas sua mãe ainda se preocupa.

Eu reviro os olhos. Sinto as bochechas arderem de impaciência.

- Eu desejo que ele se foda do jeito mais escroto possível. - Eu digo revirando os olhos e ela sorri de leve.

"Família". A muito tempo atrás, me dei conta de que família é algo bem mais complexo que uma mãe e um pai. Família é amor independente de quem a compõe. E aqui... Eu tenho um belo exemplo disso.

- Você anda mais presente, sabia? - Ela diz sorrindo - Antigamente você nem falava direito...

- Isso não mudou muito, acredite. - Digo e ela ri, dando um gole em seu café.

- Você está crescida, bonita. Parece que foi ontem que eu te pegava no colo. – Ela fala nostálgica. – Agora já tem quase dezoito anos. Estou velha.

- Tia! – Dou risada. – Pare com isso. Nada mudou.

- Eu sei que tem garoto nisso - Ela me olha maliciosamente - Até porque eu vi ele te esperando lá na frente.

- Ah não... - Ela começa a rir e não posso evitar fazer o mesmo. Sinto-me envergonhada ao mesmo tempo que quero contar tudo.

- Ele é lindo. - Ela se abana. - Na minha época, um daqueles ali...

- Poxa vida! - Eu falo sorrindo e negando com a cabeça. Está tão frio, mas estranhamente, me sinto aquecida aqui. Me sinto bem.

O mais estranho dos meus dias, é que os meus pesadelos sempre acabam em um lugar de conforto. Na cozinha cheirosa de café, amor e aconchego.

Resolvo não falar nada sobre o enigmático Trevor Sullivan. Pelo menos por enquanto.

Hoje ele não estava me esperando na frente de casa. Na verdade, ele não está em lugar algum.

Quando eu saí de casa, ele não estava ali. Ele não respondeu minhas mensagens. Eu não encontrei ele no caminho, eu cheguei na escola olhando para todos os lados possíveis. Nada. Trevor Sullivan sumiu.

Eu cruzo os braços, me escorando no prédio impacientemente. Nem percebo se aproximarem de mim.

- Ele não vem. - Ah... aquela voz. Realmente, já fazia um tempo. Respiro fundo, o vocal rouco com o doce tom de deboche voltou a assombrar meus dias.

- Obrigada pelo aviso. - Digo encarando a figura à minha frente. Ícaro me olha como sempre, com as mãos nos bolsos e uma expressão desafiadora. Ele cortou os cabelos, agora posso ver o sorriso debochado dele mais claramente ainda.

- Sabe, Serenity. - Ele começa a dizer. - Você não deveria continuar com isso. Não vai acabar bem.

As pessoas estão se esbarrando para entrar. Nem sei a razão de perder meu tempo com ele aqui.

- Você que deveria me deixar em paz. - Digo já me irritando. – Não sei porque eu deveria seguir conselhos de você.

Ele ri e eu nunca senti tanta vontade de socar alguém desde John.

- É um imbecil mesmo. – Eu resmungo baixinho desviando o olhar. Ele me irrita de uma maneira que ninguém consegue.

O vento frio me faz arrepiar. O inverno está cada vez mais próximo.

- Que boquinha suja. - Ele fala baixinho se aproximando do meu rosto. – Faz todo sentido Trevor gostar de você.

Eu me afasto, e ele sorri docemente.

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora