O toque de Ícaro era tão urgente quanto sua expressão. Pela primeira vez, ele não demonstrava deboche, muito menos desprezo. Ele parecia ansioso, talvez até mesmo desesperado.
- Serenity, precisa confiar em mim. – Ele me solta. Abaixa os olhos, aperta o punho, respira fundo. – Eu sei onde ele está. Sei que quer saber a verdade. Eu posso te ajudar.
Serenity, ele pode ser um psicopata. Ele pode te arrastar para o inferno se quiser, fazer algo com você! Droga, não seja idiota. Não acredite em estranhos. Não faça isso.
Mas, Trevor? Droga. Minha cabeça vai explodir.
É tentador. Tão tentador, que eu cruzo meus braços, franzindo a testa e perguntando com a maior paciência do mundo.
- Tudo bem. Quando começamos? – Merda, Serenity. – Não faça eu me arrepender.
Ele parece tirar um peso das costas. Dá uma risada aliviada. Não faça isso, nos odiamos. Nós nos odiamos, Ícaro. Eu apenas quero encontra-lo.
- Hoje à noite. – Ele se vira, as costas erguidas, alto. Preciso erguer os olhos. – Vou tentar.
Talvez hoje eu faça a coisa mais estúpida da minha vida.
Fui para casa tremendo de frio, com o cabelo negro sendo pintado pelos pequenos flocos brancos. Quanto mais eu caminhava mais nervosa ficava. Sinto a ansiedade pulando no meu peito. Isso não pode ser apenas coincidência!
Livros criando vida, pesadelos horríveis, Trevor simplesmente desaparecendo. A floresta me persegue, em histórias, em Trevor, nos meus sonhos. Mas ela não vem até mim.
Então eu terei que ir até ela.
Quando cheguei em casa tentei ser o mais natural possível. Digamos que se tia Leona ou minha mãe sonham que eu farei algo assim, elas me matariam. Ou... iriam apenas torturar.
- Loki. – Eu seguro ele no colo, cheirando seu pelinho esbranquiçado. – Pode guardar um segredo?
Ele fica me olhando com os olhos gigantes azulados. Como se pensasse e me julgasse no quão idiota eu sou.
- Eu sou uma babaca mesmo. E vou fazer uma grande babaquice hoje. – Digo sorrindo, dando um beijinho em sua cabeça e soltando ele no chão. Espero que respirar fundo me ajude a manter a calma.
Pego minha mochila e coloco o que eu julgo "necessário" nela. Já é tarde da noite, mas é claro que eu volto antes do horário da aula... assim espero. Pelo menos, antes que notem minha falta.
Espero voltar inteira. E viva.
Droga, Serenity! Pare de pensar assim. Pare.
Amarro as botas marrons por cima da calça jeans velha. Coloco um casaco de inverno quente, que proteja meu corpo. E uma touca. Acho que estou pronta.
Antes de sair, eu olho para o corredor. Loki está dormindo no sofá, e as luzes estão todas apagadas. Tudo bem, todo mundo dormindo, ninguém vai notar. No relógio, em ponto: 23:00. Vamos lá.
Caminhando até minha janela, vejo o corpo magro e alto parado no meu gramado. Ícaro. Está parado com uma expressão impaciente, me olhando e batendo o pé. Praguejo mentalmente.
Eu abro a janela cuidadosamente, subindo nos galhos da árvore e descendo com cuidado. Obrigada, lindíssima árvore. Me ajudando nas minhas fugas desde sempre. Ela nunca deixará de ser minha aliada. A não ser que cortem ela, é claro.
Fico impressionada sobre como Ícaro conseguiu se orientar pelo endereço que mandei. Parabéns. Com certa dificuldade, escorrego, caindo de pé no chão.

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Serenity
FantasySe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...