Cogumelos lutam contra a neve. O frio rigoroso tomando conta da floresta, e tudo que é vivo luta bravamente contra o mesmo. Tragicamente belo.
Encaro o que parece ser uma criaturinha de asas pequenas, com pelos brancos e olhinhos arredondados. Suas asinhas delicadas e olhos brilhantes, voa suavemente por cima de alguns cogumelos brilhantes. Tão branca que se parecia se misturar ao cenário de neve.
- É uma mariposa da floresta. - Ícaro fala, a segurando entre os dedos logo após ela pousar. A criatura é tão linda, me sinto encantada. – Essa é diferente das normais. Só existem aqui. – Ele solta ela, que voa pela escuridão. Dou um sorriso doce. – Surreal que ainda existam coisas que não são malignas aqui.
- Tem razão. – Respondo estralando os ossos, forçando minha postura. Minhas costas já doem de tanto andar, misturado com a tensão do momento, sinto que só piora. – Falta muito?
- Falta pouco agora, juro. - Ele fala baixinho e eu concordo andando impaciente. Estou cansada, com fome, frio. Minha lanterna começa a piscar e eu engulo em seco. Os ruídos que vêm de trás de nós não ajudam. Sinto como se algo estivesse nos observando.
- Sensação estranha, né? – Digo para Ícaro, e ele me encara.
- Eu sei. São os olhos-negros. Fique calma, eles não se aproximam quando há luz. Só atacam no escuro. – Ícaro responde e eu acabo duplicando minha tensão.
Rugidos como risadas de hienas, são horríveis. O barulho mais assustador que já ouvi na vida, me rondando enquanto caminhamos.
- Ícaro... - Ele me olha de canto. Eu me aproximo dele, segurando a lanterna trêmula. - E se por acaso, a lanterna apagar? - Ele junta as sobrancelhas, apreensivo. – Você pode dar um jeito nisso, certo?
- Estou cansado demais para usar magia agora. - Fico olhando ele, segurando tremendo a lanterna. - Não estamos exatamente seguros aqui... - De repente, tudo escureceu. Eu largo a lanterna já inútil, totalmente assustada, ela bate contra meus pés e rola pelo chão. Logo, esses não são os únicos ruídos que ouço. A risada parece aumentar seu som, se aproximando. Estou tremendo de leve, no escuro, sentindo a mão forte de Ícaro segurar meu braço, o puxando.
Devagar, aumentamos o passo, ele me guia pela floresta escura, as poucas coisas que consigo ver é da luz da lua que atravessa as folhas das árvores.
- Ah! – Eu trompo em alguma coisa, alguma coisa grande. Como instinto, puxo do cinto o punhal que Ícaro me deu, cravando com toda minha força. Eu sinto um líquido viscoso e quente pingar nas minhas roupas, e Ícaro chuta a coisa, me puxando com toda a força.
- Ícaro!! – Eu grito, desesperada, sentindo algo puxar meu ombro. Garras, algo semelhante com garras. Meu coração está acelerado de tanto medo.
- Merda! - Ele grita, logo me soltando. Eu grito ao sentir a dor ardente, e o sangue escorrer pelo meu ombro e roupas rasgadas. Eu seguro meu ombro com toda a força, enquanto com a outra mão, seguro o punhal.
Ícaro se coloca em minha frente, e eu não consigo enxergar quase nada. Até o momento que escuto coisas quebrando. Como ossos. Sinto meu coração acelerar e o medo me dominar. Eu sei que tem mais deles vindo, e eu não vou conseguir me livrar disso sozinha.
Droga, droga, droga.
- Íca... – De repente, a criatura pega fogo. Um clarão gigantesco pela floresta, e todos eles parecem se afastar correndo pelo medo da luz e do calor. Eu fico sem palavras encarando-o. Os cabelos loiros caem pelos olhos, sujo de sangue até no rosto, a respiração ofegante.

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Serenity
FantasySe dependesse de mim, tudo seria mais simples e sereno. Eu gostaria de fechar os olhos, bater as asas como uma borboleta e fugir de toda bagunça. Mas eu decidi ir até ele. Se serenidade fosse realmente meu dom, eu não estaria tão ansiosa para descob...