Furacão

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Isso é cansativo. É de deixar minha cabeça latejando por horas e horas, me questionando se estou preparada o suficiente para ser... Serenity Wood.

Eu deixei que Hope se distraísse com nossos amigos, e aproveitei para me afastar um pouco da multidão. O barulho, o aglomerado, essa sensação de festa, me deixa exausta. Até mesmo porque me sinto tão distante daqui.

Eu caminho até o jardim de tulipas, meu lugar de paz. Onde Trevor veio até mim, onde eu fujo quando preciso ficar em silêncio. Me sinto aliviada quando encontro o banco de madeira escuro vazio, as flores que se mantém fortes apesar do frio rigoroso na rua. Dá para enxergar as pessoas se movimentando ao palco daqui.

As luzes púrpura e rosadas se misturando, o som de música abafado. Eu juro sentir meu estômago revirar junto de minha cabeça dolorida. Fecho os olhos por um instante, me encostando para trás no banco, sentindo o vento gelado machucar minhas bochechas.

É uma confusão a minha vida. Nunca achei que me envolveria em tantos problemas, eu que sempre fui anônima e passiva. É como se eu mudasse tanto nesse período, já não sou mais a mesma. 

Floresta Witchery, criaturas, medos e problemas familiares. Sinceramente, é tudo uma bagunça. 

Quando abro os olhos, as luzes sumiram. As cores abafadas em tons quentes não brilham mais. Apenas uma névoa escura, negra, pairando o chão, ocultando as flores e até mesmo meus pés. Eu me encolho no banco, sentindo meu corpo inteiro estremecer.

- Trevor? – Minha voz soa como um sussurro amedrontado, de uma presa que teme a morte. – Ei...

O vento é tão gelado, que me sinto molhada, congelando. Não consigo ver nada além do luar iluminando a névoa. Parecem sombras se mexendo ao meu redor, vultos espessos e assustadores. Abraço meus ombros, encolhida e com medo. Tremendo, oscilando entre correr e me esconder.

Uma silhueta elegante se movimenta, do escuro, aos poucos sendo revelada pela luz sutil. Eu forço meus olhos, desejando que seja Trevor, apesar de eu já perceber que não é. É familiar, mas não deveria ficar calma.

É... familiar.

É meu pai.

Eu me levanto do banco, conforme o homem se aproxima. Os cabelos negros como os meus, ficando grisalhos, os olhos acinzentados iguais aos meus. A mesma expressão indiferente, o mesmo andar cauteloso.

- O que você está fazendo aqui? – Minha voz saí agressiva, e o homem para na minha frente. Quase não me lembrava dele. As mãos que feriram minha mãe, o corpo tão mais alto que o meu, e muito mais largo.

- Filha. – Ele sorri. Um sorriso como o de antigamente. Estende a mão até minha bochecha, sinto meu corpo inteiro retrair, desprezá-lo, apesar da curiosidade. - Senti sua falta.

- Não encoste em mim!

O silêncio e a neblina se intensificam.

Eu respiro com dificuldade, tentando controlar o meu ódio, tentando entender como ele chegou até aqui. Ele não tem o direito de se aproximar de nós, nunca mais.

- Ah... Wood... – O rosto dele é malicioso. Nada parecido com o John, na verdade. Ele não gosta de ser repreendido, não gosta de ser rejeitado. Ele odeia isso em mim. Ele sempre odiou.

Mas ele está sorrindo com tanta satisfação, que dou dois passos para trás. O seu rosto se distorcendo, mudando.

As expressões de John Wood se transformando em um maxilar delineado e uma barba mal feita. Olhos expressivos, fortes, porém... violetas. Cabelos castanhos cuidadosamente arrumados para trás. Não é Trevor, por mais que haja algumas semelhanças.

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora