Renascida

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Após o pequeno descanso, eu senti minhas energias recarregando aos poucos. Nos levantamos e seguimos caminho, (rumo ao desconhecido, no meu caso). 

- Nunca imaginei que esse lugar fosse tão grande assim. – Digo bocejando, as pernas calejadas de pisar em restos de neve e terra molhada. – Bom, não vão mesmo me contar onde estamos indo. – Reviro os olhos, os dois caminhando na minha frente sem sequer dar importância.

- Não sei como tem coragem de insistir. – Ícaro resmunga. Acho que essa caminhada toda só massageia ainda mais sua arrogância. – Fala logo, Trevor. Eu não aguento mais.

Ele espreguiça as costas, os cabelos loiros bagunçados, provavelmente de ficar cochilando. Não sei como consegue dormir nessa floresta maldita. 

- Já estamos chegando, Sereny. – Trevor de repente, se abaixa. Ele desenha um símbolo como uma meia lua, semelhante ao que Ícaro tem no braço, e ele brilha em tons de branco e violeta. A terra se abre, eu me seguro em uma árvore olhando a fenda se estender. É incrível. Quase como uma passagem subterrânea, tão infinita que não consigo ver até onde vai. Ver Trevor confiante e poderoso com si mesmo, me deixa admirada. Fico olhando o modo que ele puxa a manga do casaco quando faz isso, seus olhos violetas focados e o modo que ele me olha para garantir que estou bem. 

- Que merda. – Falo baixinho, admirada com o fato de sempre me surpreender. Ouço a risadinha abafada de Ícaro, mas ignoro, aflita demais para pensar em alguma coisa.

Trevor sorri, me estendendo a mão. Nós seguimos pela trilha de pedras, se afundando na fenda no meio da floresta. Estou um pouco tensa, devo admitir. Tenho medo do que viemos fazer aqui. É como se o lugar que estamos entrando, fosse protegido por uma barreira magica invisível.  

Eu vejo um grande portão de ferro, cravejado de espinhos e rosas vermelhas. Alguns galhos rebeldes se estendem, formando um muro resistente. Só consigo ver altas paredes de pedra, como um antigo castelo, envelhecido. Como que algo tão majestoso se esconde por baixo da terra, esse tempo todo? Não consigo digerir isso.

- O que é isso? – Pergunto quando eles começam a se aproximar do portão. Por trás das grades, há uma espécie de castelo.

- É a casa do meu pai. – Ícaro sorri. Ele abre o portão, puxando um cordão do pescoço, onde carregava uma chave. Fico em silêncio observando eles, e apenas sigo os mesmos. Esse tempo todo, imaginei que o pai de Ícaro estava... morto. Ele não falava dele como se por todo esse tempo pudesse vir aqui, e visitar o mesmo. Tenho muito para aprender ainda. 

Estou curiosa demais para questionar. Preciso ver com meus próprios olhos.

Eu caminho com eles pelo jardim, até a grande porta de madeira do castelo. É como um esconderijo, este lugar. Talvez esteja se protegendo de Sebastian, mas um homem que é capaz de viver em um lugar desses, eu não imagino o que seria capaz de assustá-lo.

A gigante porta se abre, com dificuldade. Eu fico procurando a pessoa por trás dela, mas... Que diabos é isso?

- Enidy. – Ícaro diz sorrindo para o pequeno serzinho, vestido como um mordomo. Eu engulo minha vontade de rir. Suas orelhas pontudas e olhos gigantes, ele é como um pequeno elfo. Um servo? Não é como Alphis, que encontramos na floresta. É... civilizado. Ou pelo menos parece ser. – Onde ele está?

- Senhor Allen. – A criatura diz, se curvando levemente para Ícaro. Eles entram no lugar, e eu troco um olhar cúmplice com Trevor assim que passamos pela porta. Algo me diz que ele entendeu o que eu quero dizer. – Vou levá-los. Sigam-me, por favor.

Eu me sinto naqueles filmes antigos, onde pessoas ricas e poderosas possuem casas gigantes, majestosas e repletas de cálices e tapetes vermelhos. Algumas mesas de madeira, poltronas exuberantes e livros espalhados por todo canto. O que me chama atenção, é as escadas possuírem um suporte ao seu lado, parecido com os que vi para auxílio de cadeirantes. Seguindo Enidy, eu me seguro no braço de Trevor olhando os quadros ao nosso redor. Pinturas antigas, e algumas fotos também. Vejo uma em especial que me chama atenção.

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