Imersa

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- A jornada de vocês não vai ser nada fácil. – Peter dizia, analisando meu rosto, a expressão preocupada misturada com a esperança. – Quantos dias ainda temos?

- Algumas semanas. – Trevor responde. Fico dispersa enquanto eles conversam sobre mim e nossos destinos. Estou confusa e um pouco assustada, ainda mais com essa "coisa" dentro de mim. Um poder, uma ferramenta que adquiri depois de tanto sofrimento.

Morrendo e voltando, sem parar. 

Faz quase dois dias. E eu não posso mentir, sinto saudades de casa. Da segurança, do conforto da minha cama, do Loki, da minha família e amigos. É um pouco assustador largar tudo tentando me salvar.

Me levanto um pouco zonza. As minhas botas imundas de terra e minhas roupas com vestígios de sangue. Um punhal no meu cinto, e meus cabelos emaranhados. É frio, e eu nunca me senti tão vulnerável na vida, sinto que nem eu mesma me conheço.

Eu saio da sala, deixo os três conversando. Me apoio na parede do castelo, gelada. Fico em um canto da sala, de onde pode se enxergar a cozinha. Os elfinhos trabalhando incansavelmente. Eles não parecem o tipo de criatura que desistiria, seu tamanho não importa, são... persistentes. Me falta um pouco disso. Largar o meu pessimismo.

- Senhorita. – Enidy se curva. – Com licença, precisa de algo? – Eu me surpreendo com sua presença, mas dou um sorriso gentil apesar de estar desorientada. Algo em seus olhinhos gigantes e brilhantes me transmite confiança.

- Porque vocês servem ao Peter? – Ele curva a cabeça, curioso. – Digo... não precisa responder se não quiser.

- Ele é nosso mestre. – A criaturinha diz. – Ele nos ama, e nós amamos ele. Ele nos salvou. Agora nós salvamos ele.

Não consigo evitar de sorrir. Isso é de uma pureza tão bonita, tão singela...

- Obrigada. – Digo. – Você me fez me sentir melhor. – Ele sorri, os dentinhos são pequenos comparado a boca e nariz extensos. Eu respiro fundo. Acho que preciso enfrentar os meus medos.

Me aproximo do batente da porta. Trevor me olha, faço um sinal enquanto Ícaro e Peter estão distraídos. Ele se levanta, se aproxima, pousando a mão nos meus cabelos.

- Preciso de um tempo. – Digo. – A minha cabeça vai explodir. Eu só quero ficar dois minutos em paz contigo. – Ele me dá um sorriso doce, beijando minha testa. Sinto seu hálito suave acariciando minha pele.

Segura minha mão, me guiando até a rua.

- Vem cá. – Sua voz suave, ele me leva até a rua. Nevando, é frio o suficiente para me fazer estremecer. Fecha a gigante porta atrás de nós. Se eu olho para cima da fenda, posso ver as árvores da floresta, mas se ignoro, parece que estamos entre montanhas.

Ele me puxa pela cintura, me guiando até a parede dos fundos. Me escoro em seu peito, fecho os olhos sentindo seu cheiro de lavanda. Um cheiro doce e gentil, como ele. Sua mão toca meus cabelos, e eu beijo sua boca quente.

- Já vamos partir. – Ele diz, sorri. – Tudo bem? Logo Ícaro nos encontra.

- Para onde, Trevor? – Eu suspiro, exausta. – Estou assustada. Exausta. – Algo nos seus olhos violeta me faz me arrepender. Uma expressão triste, quase de pena.

- Me desculpa. – Ele diz. – Eu sei que está. Mas precisamos... correr contra o tempo.

- Temos uma chance agora. – Sussuro e ele me abraça. Me aperta forte contra ele, e eu gostaria de ficar aqui por mais uns dez minutos, escutando seu coração tão perto de mim.

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