Curiosa

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Palace Gardens é conhecida principalmente por seus jardins deslumbrantes.

Por mim, é conhecida por ser de um tédio que me faz querer arrancar os olhos e gritar "PORQUE A MALDITA AULA NÃO ACABA NUNCA?". Infelizmente, eu preciso dos meus olhos.

Durante os dois primeiros períodos, fico escorada na janela da sala de ciências. Ao meu lado está Hope, e ela está fazendo praticamente todo trabalho. Não consigo levar ela à sério nem quando ela começa a suspirar irritada, e eu me sinto mal momentaneamente por isso. Mas logo passa.

Me desculpe, Hope.

Fico olhando a floresta ao longe pela janela. O céu está brilhante, mas não importa o quão ensolarado esteja, a floresta continua sombria. Ainda sinto calafrios misturados com atração por Forest Witchery.

Curiosidade é uma qualidade e um defeito ao mesmo tempo. Mas no meu caso, que sou sem noção do perigo, é quase como pular de uma ponte ou se atirar na frente de um carro. Entrar numa floresta com índices de assassinato, convenhamos, tem muito mais classe.

- Serenity. - Hope diz, e eu me viro entediada para ela. Ela usa óculos especiais para "lidar" com as substâncias. Está saindo uma fumaça estranha do vidro, me pergunto se ela sabe o que está fazendo. É provável que não. - Tudo bem que sua semana não foi fácil, mas me dá uma força aqui.

Eu nem sei porque estou de jaleco branco. Se só ela está fazendo algo de útil aqui.

- Estou dando. - Dou um sorriso sarcástico. - Se chama apoio moral.

- Vai se foder. - Ela diz séria, mas logo começa a rir. Uma risada que me anima a acompanhar ela, fazendo meu tédio passar por alguns segundos. Ah, Hope. Você não serve para ser durona.

Conheço ela desde os 6 anos. Começamos a escola juntas, e ela sempre foi minha melhor e única amiga. Isso não significa que ela saiba tudo o que acontece comigo, mas é ela que me distrai com seu humor atrapalhado. Digamos que ela é preciosa demais para mim, para que eu envolvesse ela nos meus problemas.

Hope tem os cabelos loiros e uma franjinha na testa. Ela quer ser bailarina, e nunca vi alguém dançar tão lindamente quanto ela.

Nosso trabalho de ciências foi ótimo. Hope sabe se virar bem, e relevou minha preguiça. Eu queria ajudá-la, mas fiquei observando o fracasso dos nossos colegas. Isaac derrubou seus tubos de ensaio, ele e Oliver ficaram rindo, ao invés de fazerem algo.

- Que idiotas. – Hope dizia rindo, enquanto eu anotava o que estava escrito no quadro. – Acho que é por isso que são nossos amigos.

Eu não tenho dúvida alguma sobre isso.

Os períodos se arrastaram, e com isso só fui ficando cada vez mais ansiosa e me preocupando. Me pergunto como mamãe está.

Ela deve ter acordado com tia Leona levando café da manhã para ela. O café que eu fiz, pouco antes de vir para cá. Se ela leu ou não o bilhete, não deve ter feito muita diferença. Ela não falou com mais ninguém.

- É sério, Serenity. - Isaac me dizia segurando a pilha de livros até a biblioteca. Eu acompanhava ele com as mãos nos bolsos do moletom cinza, rindo de como ele e Oliver estavam reclamando. - Quando eu acordei hoje, me imaginei lendo livros, coisa que já não é muito boa. Mas não, eu tenho que carregar eles até a biblioteca, já que nossa professora sedentária não pode fazer isso.

Eu começo a rir, e Oliver também. Isaac é uma piada, até quando está irritado.

O corredor é longo, e a biblioteca fica no final dele. Passamos por algumas salas, e logo pela sala de artes e de música. Vejo Leslie na biblioteca, de longe, e cumprimento ele com um sorriso gentil. Parece enfiado nos livros, como sempre o vejo.

SerenityOnde histórias criam vida. Descubra agora