seis.

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Mostrei um sorriso fechado quando o amigo de Haydee entregou-me o terceiro copo de bebida. Eu estava enjoada e não aguentaria outro, mas sentia-me tão mal em parecer mal-educada e recusar sendo que ele estava a ser tão simpático comigo desde que me sentei ao seu lado.

Nos últimos minutos, Elliot falava-me sobre vários assuntos aleatórios. Como pela primeira vez que ele bebeu a água da praia para descobrir se era mesmo salgada, ou quando foi encontrado por sua mãe assistindo vídeos de pornografia aos doze anos ou quando perdeu a virgindade com a sua babá aos catorze e por aí em diante. Tudo isso em menos de vinte e cinco minutos.

Eu já estava saturada de tanta informação que tinha na cabeça, mas ele estava tão animado que eu não consegui o impedir de falar. Apenas assentia positivamente com a cabeça e escutava cada palavra que saia da sua boca com um sorriso colado no rosto.

Em alguns momentos, sem que Elliot percebesse desviei o olhar dele e comecei a procurar pelo Keanu ou até mesmo a sua namorada com o olhar, mas não os avistei em canto nenhum.
Eu teria que levantar-me para procurar melhor. Eles poderiam estar na cozinha ou no jardim lá fora.

Voltei a realidade quando o garoto a minha frente colocou a mão na barriga a rir de provavelmente alguma piada que fez enquanto eu estava alheia a ele. Para não ser falsa e rir com ele sem nem fazer ideia do que quer que ele tenha falado levei o copo cheio de um líquido vermelho até a boca e tomei um longo gole. A tentar manter a minha boca ocupada.

— E tem aquela vez em que fiquei com uma mulher dez anos mais, velha. Ela era linda para cacete e tinha uns peitos enormes… — ele fez um gesto no ar, como se estivesse a desenhar o tamanho para eu entender. — Foi uma das melhores fodas da minha vida, mas a melhor mesmo foi quando fiquei com a minha vizinha…

Não.

Eu não iria aguentar ouvir mais uma história. Eu precisava sair daquele lugar.

— Eu vou à casa de banho — o interrompi a levantar-me, sem o dar tempo de continuar

Se eu ficasse mais um segundo ali iria explodir.

Precisava lavar o rosto e respirar fundo umas cinco vezes até voltar para aqui. Ou eu poderia colocar o meu plano de tentar encontrar Keanu em prática e sair dessa casa.

— Não demora. Ainda tenho outras histórias para lhe contar.

Sorri e concordei a sentir-me uma péssima pessoa por estar a fugir de um, cara tão legal como ele. Sou um ser humano terrível.

— Claro. Estarei de volta daqui a pouco — menti, a sentir um gosto amargo a formar-se na minha boca.

Elliot concordou e no segundo a seguir chamou um casal que estava sentado do outro lado do enorme sofá para os dizer que o amor deles o enjoava de tão doce que era. Criando assim uma nova conversa com eles.

Enquanto distânciava-me dele andei em direção a saída para o procurar lá fora, mas não tive sucesso. Fui até as traseiras da casa e “idem”, nenhum sinal dele. O único sítio dentro da casa — no andar de baixo — que faltava era a cozinha. E para chegar lá tive que me empurrar algumas pessoas, mas elas estavam ocupadas demais a dançar colados uns nos outros para dar-me atenção. No momento em que consegui sair da confusão os meus pés pararam de forma automática assim que os meus olhos se cravaram em Miguel conversando com uma garota. Ela estava encostada na parede e ele a sua frente com um sorriso cheio de segundas intenções no rosto.

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