dezasseis.

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— Você parece bastante distante esses dias — Maxine tinha o olhar fixo em mim.

Eu estava sentada na cama com um livro de biologia no meio das pernas, mas a minha atenção encontrava-se perdida em algum lugar no universo.

Cocei a garganta.

— É impressão sua — menti.

— Não é nada — replicou. — Já se passaram trinta minutos e você ainda está a ler a mesma página desse livro sem graça.

Suspirei e fechei o livro. Era doloroso ter tantas preocupações na minha cabeça e não poder compartilhar com ninguém. Nem a pessoa que julguei ser meu amigo para vida parecia se preocupar comigo.

Se contasse a Maxine o que ela diria?

De qualquer forma, nunca irei saber porque não pretendia contar nada. Se Theron e Haden  forem o que penso — assassinos —  que as consequências sejam só comigo. Não preciso puxar ninguém para onde que já tenha me metido.

— O que foi? — ela insistiu. — Talvez eu possa ajudar.

— Eu sei, mas não é nada de importante — a encarei de volta. — É só o Keanu que está estranho comigo. Nos últimos dias ele não tem falado comigo e muito menos olhado na minha cara.

— E vocês sempre foram muito próximos um do outro, não é?

— Sim — confirmei. — Agora ele age como se fôssemos estranhos e esconde coisas de mim — um suspiro frustrado escapou dos meus lábios. — Nós nunca tivemos segredos.

— Talvez ele só queira proteger você.

Juntei as sobrancelhas. Era como se ela soubesse de algo que eu não sabia. E quando ela percebeu que falou mais do que devia fechou os olhos com força por alguns segundos a amaldiçoar-se mentalmente.

— Do quê? — aproximei-me dela. — Responda-me, Maxine. Sei que você sabe de algo.

Ela afastou-se de mim, nervosa. Se entregando.

— É coisa da sua cabeça — andou em direção a saída do dormitório. — Eu vou à sala de jogos — e sem motivo nenhum foi embora.

Suspirei aborrecida e comecei a arrumar as coisas que havia desarrumado para em seguida ir cuidar de demónios fantasiados de crianças.

As próximas horas da minha tarde foram preenchidas por crianças e mais crianças. Faltava penas uma semana para — Deus me perdoe — ver-me livres delas e voltar a minha vida monótona de antes. Já eram nove da noite e todas elas já dormiam enquanto eu arrumava tudo que haviam desacomodado. Os meus músculos doíam de tanto esforço e a única coisa que queria fazer era desabar na cama, mas não sem antes tomar banho e jantar.

Só de pensar no trabalho que terei pela frente fico com vontade de dormir aqui mesmo, mas obriguei o meu corpo a mover-se e andei em direção a saída e mesmo que não seja do meu feitio não despedi  nenhuma das mulheres que ali se encontravam. Durante a minha estadia naquele lugar nenhuma delas levantou a bunda para ajudar-me e criei um certo ódio por elas. O que ganhavam a ser tão más?

Os corredores do orfanato já estavam vazios enquanto eu andava em direção ao meu dormitório, mas diminuí  os passos quando vi Tanner a entrar no dormitório de Keanu, mas antes de o fazer ele olhou para direita e esquerda como se quisesse conferir se foi até ali sozinho. Ele não me viu porque no segundo que percebi que ele não queria ser visto a entrar ali escondi-me atrás de um vaso de flores — que era grande o suficiente para tapar maior parte do meu corpo.

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