quarenta e três.

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Falyn

Você não quer comer nada? — uma voz distante questionou, mas está tudo escuro. Não consigo enxergar nada.

— Não, vai você — outra voz estranha se sobressaiu no vácuo.

— Não quer que eu traga algo para você?

— Não. Tô bem — a primeira voz respondeu. — Vá embora logo.

Uma risada sarcástica ecoou no ambiente.

— Quer um momento a sós com ela para falar tudo que sente? — a segunda voz provocou. — Cuidado, é nesses momentos que as pessoas costumam acordar. Portanto, seja cauteloso se não quiser se comprometer demais.

— Sabe o que eu penso? Que você já deveria ter ido embora.

— Tudo bem, pombinho apaixonado. O darei espaço para expressar os seus mais profundos sentimentos — depois disso a porta foi fechada.

Tudo ficou em silêncio após isso. Não sei se está mais alguém no lugar onde estou. Não consigo sentir nada. Quero abrir os olhos e ver onde me encontro, mas estou com tanto sono. Tão cansada. Penso que mais psicologicamente do que fisicamente, mas acredito que dormir mais não é a solução. Sinto que, inconscientemente, estou a tentar fugir de algo. Algumas emoções, talvez. E se, tem uma coisa que aprendi ao longo da vida é que fugir não ajuda em nada. É uma opção sim, mas de longe a coisa mais correta a se fazer porque até quando irei fugir? Mais cedo, ou mais tarde irei cansar-me.

Sinto algo áspero tocar na minha mão de repente e, ao mesmo tempo em que o meu coração começa a bater num ritmo acelerado me esquivo do toque.

O que será que está a tocar-me? Uma barata? Aranha?

— Ei, Falyn. O que se passa? — fiquei assustada quando o aperto se tornou forte. Nossos dedos estão entrelaçados, então não é um animal. Posso ficar calma em relação á isso, mas de quem é a maldita voz? Não tenho em mente ninguém agora. Está tudo uma confusão. — Por favor, se está me ouvindo reaja. Aperta a minha mão porque acredito que o que acabei de ver foi uma ilusão e estou a ficar maluco. Já se passou tanto tempo e você ainda está inconsciente.

Tanto tempo? Quanto tempo estou assim?

Para não deixar a pessoa preocupada apertei-lhe mão e pude perceber quando a pessoa suspirou de alívio. E é por isso que resolvi abrir os olhos. As minhas pálpebras estão muito pesadas e quase desisti e voltei a dormir, mas fui até o fim e fiquei incomodada com a claridade forte que ocupa o ambiente então virei o rosto para a direita onde encontrei um par de olhos castanhos me observando. Espera, eu conheço esse rosto.

Semicerrei os olhos e sibilei:

— Haden? — quase não reconheci a minha voz. Está tão baixa.

— Sim! — o seu tom de voz é muito animado e logo em seguida ele abraçou-me de uma forma um pouco desajeitada por conta da posição em que estou. — Você não tem ideia do quanto estou feliz por você estar bem — começou a distribuir beijos na minha bochecha, fazendo-me rir, mas com dificuldade porque sinto a minha garganta seca.

— Porque está tão feliz? — quis saber, assim que o mesmo se afastou de mim o suficiente para eu poder o olhar nos olhos.

— Você está bem.

— Mas você está muito feliz. Demais, até.

— É o que acontece quando você encontra a sua alma gêmea — ele não parece constrangido por falar aquilo. E eu estou literalmente a morrer de vergonha.

NeutroOnde histórias criam vida. Descubra agora