trinta.

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Estava sentada na cama a olhar para um ponto fixo qualquer. Não dormi muito bem depois de ontem. Não sei exatamente o porquê. Estava confusa com a minha atitude e acima de tudo com o facto de Theron ter-me contado aquela história. Nem Greta que é minha amiga havia se aberto dessa forma e ele… sempre demonstrei o quanto não me importava com os seus sentimentos e mesmo assim ele não hesitou em contar-me uma parte importante da vida dele.

Talvez a minha atitude o tenha confundido. Talvez ele pense que o tenha perdoado e as coisas estavam bem entre nós. O que não era verdade. Não me arrependi do que fiz, mas também sei que não devia ter mostrado empatia para ele.

Escutei uma batida na porta. Fiquei em alerta porque ainda era cedo. Provavelmente seis da manhã.

— Entra — falei.

Que não seja Theron.

Que não seja Theron.

Repeti mentalmente. Não queria o encarar hoje. Não depois do que aconteceu ontem.

Quando ele apareceu no meu campo de visão soltei um suspiro baixo e frustrado. Seria estranho se o universo acatasse um pedido meu, isso sim.

— Oi — ele disse, a olhar diretamente para mim. Com uma intensidade avalassadora. Eu pensei que ele não iria conseguir nem olhar para a minha cara. Seria mais fácil se fosse assim. Se ele estivesse com vergonha de mim por ter se exposto daquela maneira, mas não. Ele tinha que me olhar como se o que quer que ele sentisse por mim, tivesse aumentado o triplo.

— Bom dia — respondi, secamente.

A expressão no seu rosto não se desfez. Era como se ele já esperasse essa atitude vinda de mim.

— Eu lembro de ontem — começou. — De tudo. E queria agradecer a você por ter-me ajudado. Apesar de tudo.

— É, qualquer um faria aquilo.

Ele riu. Era a primeira vez que eu o via rir.

— Mesmo assim. Obrigado — coçou a garganta. — E também não precisa fazer cara feia para mim — brincou, e foi aí que percebi que as minhas sobrancelhas estavam franzidas e a minha boca numa linha reta. — Sei perfeitamente que nada mudou entre nós. Fica calma.

— Que bom — fiquei um pouco mais a vontade depois da sua declaração.

Um silêncio pétreo se formou entre nós.

Ele ainda me encarava e eu também, mas o meu olhar dizia o contrário do dele.

Porque não vai embora logo?”

Era essa a pergunta que estava estampada na minha cara. Quando ele finalmente se tocou falou:

— Até daqui a três dias.

— Três dias? — questionei, confusa.

— Sim. Irei viajar com o meu pai para Cambridge hoje, daqui a pouco. Ele quer resolver umas coisas lá que tem a ver com empresa e eu preciso acompanha-lo — explicou. — Por isso vim agradecer hoje e agora.

— Ok. Faça uma boa e longa viagem — a provocação não se passou despercebida na minha voz.

Não iria ver a cara daquele homem ridículo por três dias! Essa era a melhor notícia que recebi desde que cheguei aqui.

— Então é isso. Adeus.

— Adeus — quando falei essas palavras ele saiu do quarto e foi embora.

(…)

Depois de algumas horas sentada na cama decidi que já estava na hora de tomar banho e descer para tomar o café da manhã. Estava com fome e feliz. Muito feliz. Tanto que até fui para a casa de banho a cantar baixinho.
Fiz toda a minha higiene matinal a dançar e escolhi uma roupa com cores vibrantes, mas que combinassem. 

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