vinte.

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Enrolei a toalha no meu corpo enquanto saia da casa de banho. Eu não podia continuar sentada naquela cama a ver os dias passarem sem tratar da minha higiene matinal. Por um momento, passou-me pela cabeça a ideia de não tomar banho e não fazer mais nada para além de continuar deitada, mas mais tarde percebi que isso só teria consequências negativas para mim. Por isso, obriguei o meu corpo a se mover e explorar mais o quarto — e a casa de banho foi o primeiro lugar.

Andei em direção ao armário e fiquei surpresa quando vi várias roupas. Desde lingeries ousadas, calças, vestidos e saias aparentemente do meu tamanho.

Meu Deus.

Será que Theron queria usar-me como sua escrava sexual?

Para o meu próprio bem, ignorei esse pensamento e escolhi uma roupa de acordo com a temperatura. Pela janela, consegui ver que o céu estava nublado, mas não estava frio. Então optei por usar calças, jeans e uma camisa de mangas compridas com uma cor turquesa.

Quando ajeitava melhor a camisa no meu corpo a porta foi aberta. Theron estava vestido com roupas casuais. Uns calções e uma camisa cinzenta folgada. Parecia um, cara normal. Um, cara que apenas ficava a assistir jogo de futebol com o pai, ajudava a mãe a colocar a mesa — não por vontade própria porque assim perdia minutos do jogo —, aborrecia sua irmã com piadinhas de mau gosto de vez em quando. Pelo menos, na minha cabeça, essa era a definição de uma família perfeita e um cara normal. O que claramente, ele não era.

Desviei o olhar dele e comecei a fingir que estava a arranjar algo no armário apenas para não o encarar.

— Bom dia — fechou a porta atrás dele e eu continuei calada. — Como dormiu? — fez outra pergunta, apesar de já ter notado que eu não estava de modo a conversar.

Eu queria continuar calada e ignorar a sua presença até ele ir embora, mas precisava cuspir as palavras na cara dele. Precisava libertar a minha raiva.

— Dormi muito bem — cessei os movimentos e virei-me para ele. — Sonhei estar a enforcar-lhe com as minhas próprias mãos e fugir dessa casa sem remorso algum.

Sabia que esse tipo de pensamento não era saudável. O cultivo da raiva excessiva pode causar-me vários problemas como aumento de pressão e batimentos cardíacos, tonturas,  insónias e sabe-se-lá mais o quê. Sabia disso porque li uma vez no livro que tinha na biblioteca. E não queria passar por isso. Precisava tentar manter a calma e sanidade.

Ele não se abalou, com o meu possível sonho. Pelo contrário, contínuo com a mesma expressão imparcial. Como se nada o abalasse.

— Que sonho mórbido — foi a única coisa que ele disse.

— Espero que ele se torne realidade — menti.

Nunca.

Nunca mesmo, em hipótese alguma. Por mais que a pessoa seja má ou já tenha feito coisas horríveis e desumanas eu iria conseguir matar, principalmente com as minhas próprias mãos. Não tinha estômago e muito menos emocional para isso.

— Vim chamar você para tomar o pequeno almoço comigo e Greta — ignorou a minha resposta.

Soltei um riso sarcástico.

— Eu? — apontei para mim mesma. — Não tô a fim — dei de ombros, desinteressada na oferta.

— Depois disso podemos fazer uma tour pela casa para você a conhecer melhor e talvez consiga elaborar um plano de fuga — não consegui identificar a emoção nas suas palavras. Então, decidi assumir que aquilo era uma provocação.

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