quarenta e sete.

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Esfreguei as minhas mãos umas nas outras por conta do  frio e soltei um suspiro cansado, mesmo estando sentada. Estou à espera de Haden vir buscar-me para ir embora desse hospital que já está a dar-me dor de cabeça de tanto branco que tem.

Greta está sentada na poltrona mexendo no celular, conversando com um garoto aparentemente porque a cada cinco segundos a mesma solta risadinhas e balança a cabeça de forma negativa. Eu até tentei dar uma olhada básica, mas ela reparou, se afasto e me chamou fofoqueira.

— Você quer voltar para lá? — ela perguntou, me encarando pelo canto de olho. Tenho certeza de que ela só quebrou o silêncio porque está cansada de me ouvir suspirar.

Pisquei, desnorteada.

— Lá onde?

— Lá em casa — explicou. — Onde você estava antes de tudo isso acontecer.

Não a respondi. Mesmo tendo a resposta na ponta da língua, ainda não havia pensado nisso.

Agora, não preciso voltar mais para lá. Meio que estou livre. Com o Sr. Robert aqui no hospital, nada me impede de ir para onde eu quiser.

Mas, a grande pergunta é: para onde irei?

Para o orfanato nunca, só numa
outra vida. Talvez a casa de Haydee? Não. Ela ficou sem saber de mim durante meses. A mesma deve estar puta da vida comigo por desaparecer da sua vida sem mais nem menos  e vai querer que eu explique tudo que aconteceu. E ainda não estou preparada para isso, mas também tem o Keanu. Dá última vez que nos vimos, ele me deu o endereço de onde está a viver agora — sendo que a essa altura já saiu do orfanato. Porém, o problema é que não quero depender de ninguém e não quero aparecer do nada na vida dessas pessoas.

— Você ainda não me respondeu— Greta relembrou. Voltei o meu olhar para ela.

— Você já sabe a resposta.

Ela encolheu os ombros.

— Bom, eu pensei que você ainda quisesse.

— Mas, porque eu iria querer voltar? — indignada, questionei. — Desde o início a minha vontade era sair daquele lugar. Você sabe. Esteve comigo em todas às vezes que quase surtei por ainda estar lá.

— Eu sei — me observou de forma triste. — Só não quero que você vá embora e se esqueça de mim — revelou e acrescentou — Lembra que me prometeu que continuaríamos a ser amigas?

— Sim, eu lembro — murmurei, amaldiçoando-me mentalmente por falar as coisas apenas por falar. — E para isso acontecer, não preciso estar a viver lá — tentei deixar claro.

— Sei disso, desculpa. Apenas fiquei nervosa — sussurrou a última parte.
— Só não queria que a nossa amizade acabasse.

— A nossa amizade não vai acabar só por eu não estar a viver lá. Podemos nos encontrar em qualquer outro lugar. Essa cidade é grande.

— Deve estar a ser frustrante para você me ouvir dizer isso — mudou de assunto, de repente. — Sei que, oque mais quer, é ir embora e o mais longe possível. Sinto que estou sendo injusta por pedir uma coisa dessas a você — me encarou com pesar. — Me iluda e diga que não, por favor.

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