trinta e um.

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Haviam apenas duas palavras capazes de definir o meu estado de espírito agora: feliz e radiante. Pela primeira vez, em meses, sentia-me completamente concretizada. Absolutamente realizada. E mesmo com o pressentimento de que tudo isso duraria pouco, não deixei com que pensamentos negativos preenchessem a minha mente. 
Saber que Haden provavelmente sente tudo isso que está a fazer o meu coração bater tão forte no peito que até dói torna tudo ainda mais especial.

Agora nós estávamos a ir até o encontro do Keanu, num café qualquer, segundo as palavras de Haden. 

Ainda estava incomodada com o facto de ele estar envolvido nessa história de garotas desaparecidas, mas também estava com saudades dele. Passámos muito tempo juntos no orfanato. Nos tornamos família um do outro e isso seria até o fim, independente de tudo. Soa estranho pensar tudo isso mesmo sabendo o que ele fez ou ainda faz. Não consigo evitar não me sentir um pouco hipócrita. O que difere Keanu de Theron nessa situação em geral? Porque a ideia de perdoar o meu amigo não me deixa doente?

— Ei, Falyn — olhei para o lado, para encarar Haden que está com o olhar preso na estrada.

— O que foi?

— Você não parece muito feliz agora — fiquei um pouco surpresa pelo o seu tom de voz preocupado e por ele ter notado.

— E isso deixa-lhe preocupado? — abri um sorriso provocativo, achando graça o facto de o seu rosto ter adquirido uma nova tonalidade.

— O quê? Não! — se exaltou, na defensiva. — Só fiquei um pouco curioso. A uns cinco minutos atrás você estava a sorrir e depois…

— O seu coração se quebrou quando percebeu que eu estava incomodada com algo — o cortei, claramente o importunando.

— Não foi isso que aconteceu — resmungou, constrangido.

— Não precisa ficar com vergonha de admitir está preocupado comigo — toquei no seu ombro. — É normal quando se gosta de uma pessoa. 

Agora foi a vez dele rir, de nervosismo. 

— Quem disse que gosto de você? — ergueu as sobrancelhas.

— O facto é que não tem como não gostar — joguei os meus cachos para trás. — Eu sou especial.

— E convencida.

Revirei os olhos com humor para a sua declaração e voltei o meu olhar para um ponto fixo qualquer.

— Não precisa se preocupar comigo — declarei, e sabia que nesse exato momento ele rolava os olhos por eu ainda não ter desistido dessa ideia. — Só me lembrei de que Keanu e eu temos alguns assuntos seriamente pendentes. E eu preciso de todas respostas hoje.

— Que perguntas são essas? — a pergunta escapou da sua boca.

— Tenho certeza de que você não irá responder a nenhuma delas. Então é melhor que não saiba — fui sincera.

A minha resposta não parece o ter afetado negativamente. Pelo contrário, era como se ele se conformasse com isso.

— Que bom que me conhece o suficiente para saber disso — divagou.

— É.

E o resto do caminho percorrermos em silêncio. Não passaram nem cinco minutos e ele estacionou o carro na frente de um café. Tirei o cinto e desci do carro. 

Esperei por Haden de forma paciente, com os braços cruzados na altura do peito devido à temperatura. Estava um pouco frio. Olhei para o céu receosa, com medo de que a temperatura mudasse e tivesse um ataque.

NeutroOnde histórias criam vida. Descubra agora