Neutro

cinco.

Quando descemos do carro torci a boca em desgosto assim que o som elevado da música se tornou mais alto do que quando eu estava sentada no carro do tal Miguel. Como o local estava lotado de carros de várias marcas e cores o amigo de Keanu estacionou num lugar um pouco distante da casa de Bethany. Os gritos que vinham da área se tornavam mais intensos a cada passo que dávamos. Se eu fosse uma das vizinhas da namorada do meu melhor amigo já teria ligado para polícia e apresentado queixa. Se eu tivesse um celular agora poderia fazer isso. Ferrar com a festa da Bethany e voltar para o orfanato. Seria um prazer enorme o fazer, mas não posso. Keanu é mais importante que o meu ódio por ela.

— Pensando em voltar para o orfanato? — Keanu pergunta ao meu lado enquanto eu encarava os ombros largos de Miguel por ele estar a andar a nossa frente.

— Está tão óbvio assim?

Ele riu.

— Não, mas eu conheço-te o suficiente para saber que já quer voltar.

Dei de ombros, ficando em silêncio em seguida. Eu não era muito social e ficar num sítio cheio de pessoas bêbadas não me agradava muito, mas precisava esforçar-me um pouco e tentar ser um pouco agradável com todos ali. Principalmente com Bethany Pines.

— Não precisam ser melhores amigas — ele diz, interrompendo o meu pensamento. — Nem fingir que gostam uma da outra. Só precisam tentar ter uma convivência agradável.

Claro. Como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo.

— Ela é insuportável, Keanu — suspirei aborrecida. — O que viu nela, afinal?

Miguel, que até agora estava em silêncio se virou para trás e respondeu a minha pergunta.

— Eu também pergunto-me isso.

— Esse é um problema só meu — replicou e eu revirei os olhos.

Não fiquei muito surpreendida quando vi no local da festa o triplo das pessoas que pensei que teriam. Bethany era líder de torcida e consequentemente uma das pessoas mais populares da escola. Era óbvio que toda escola estaria ali.

Eu e Keanu andávamos sozinhos em direção a entrada porque
Miguel já havia se despedido de nós para ir ter com um grupo de garotos que deviam ser seus amigos.

Assim que entramos na casa tinham várias pessoas em pé dançando e outras apenas sentadas no sofá bebendo e fumando, mas oque chamou-me atenção foi uma garota que estava em cima de uma mesa dançando de forma sensual enquanto várias pessoas aplaudiam e filmavam. Ela arrepender-se-ia daquilo, no dia seguinte.

— Falyn, vem — Keanu chamou-me no momento em que percebeu que eu não o estava a seguir.

Ele segurou na minha mão me puxando para ele e segurou nos meus ombros me guiando até um pequeno grupo no meio da festa onde Bethany e outras garotas estavam.

— Fica calma, nada vai acontecer com você. Eu estou aqui — ele falou alto o suficiente para eu ouvir e revirei os olhos. Como se fosse fácil ter que sorrir para a pessoa que faz questão de tornar os seus dias um completo inferno.

Quando chegamos no pequeno grupo Bethany foi a primeira a aparecer no meu campo de visão. O sorriso no seu rosto foi se desfazendo gradualmente enquanto ela nos encarava. As suas amigas me olharam de cima para baixo antes de desaparecerem na multidão e nos deixaram a sós.

Ótimo. Eu também não ia com a cara de nenhuma delas.

— Ei, Bethany — a cumprimentei com um pequeno sorriso falso.

Ela não respondeu de imediato, a única coisa que se ouvia era o som alto da música e das vozes de várias pessoas espalhadas pela casa.

— Beth, ela está a falar com você — Keanu tenta chamar a sua atenção e ela pisca os seus olhos, âmbar para nós os dois.