vinte e quatro.

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Encolhi-me ainda mais na cama enquanto sentia as lágrimas
continuarem a descer pelo meu rosto. Era difícil parar de chorar sozinha, principalmente quando não tinha ninguém ao seu redor para lhe apoiar e dar um ombro amigo.

Não sabia o que sentir naquele momento. Eram tantos sentimentos juntos e eles sufocavam-me de um jeito inimaginável. Nunca senti tanta aversão de alguém como senti de Theron naquelas últimas horas. Se antes o odiava agora o abominava.

Eu olhava para situação toda, tentava arranjar uma justificação plausível para tudo e todas as coisas que o poderiam ter feito trago-me até aqui, mas nenhuma me veio a mente.

Simplesmente não existiam motivos.

Escutei o barulho da porta ser aberta e a luz do corredor iluminar metade do quarto, mas não me preocupei em tentar disfarçar o facto de estar no ápice do meu sofrimento.

E porque, de alguma forma, sabia que era Haden ali. Ele disse-me que voltaria a mesma hora de ontem.

Não escutei mais passos depois que ele fechou a porta. Penso que o mesmo não esperava encontrar-me nesse estado. Prestes a ser engolida pelo abismo que era estar naquela situação.

— Falyn — tive certeza de que era ele quando o meu nome saiu dos seus lábios. Era como se ele fosse chorar junto comigo.

Senti o espaço ao meu lado na cama ser preenchido. Não protestei quando ele puxou-me para mais perto do seu corpo. Apenas deixei com que os seus braços envolvessem-me num abraço apertado e a minha cabeça descansasse no seu peito.

Não parei de chorar em segundo algum. Haden era de longe o meu porto seguro, mas agora era o único capaz de ajudar-me a passar por esse momento delicado. Nunca imaginei que algum dia isso pudesse acontecer entre nós os dois sendo que ainda acho o seu comportamento inepto, mas nenhuma pessoa no mundo era totalmente má. E nesse instante, aproveitaria o lado bom dele.

— Não quero casar com ele — balancei a cabeça em negação. — Eu não quero — apertei a barra da sua camisa com força.

— Eu sei — ele apertou-me mais nos seus braços. — A culpa é minha. Eu poderia ter ajudado você — lamentou.— Você poderia estar no orfanato com os seus amigos se eu não tivesse sido um filho da puta egoísta, para variar.

— Não fala isso — pedi. Sabia que ele não era o santo da história, mas me preocuparia com isso depois.

— Juro que se pudesse voltar no tempo, teria feito as coisas diferentes —  tentou se desculpar. — Me sinto um lixo agora.

Afastei-me dele, e limpei as lágrimas no rosto. Segurei nas suas mãos e fitei-o intensamente, para ter certeza de que ele pudesse sentir alguma empatia por mim.

— Se está mesmo arrependido, Haden — comecei, com a voz rouca e arrastada. — Ajude-me a fugir desse lugar porque eu sei que pode conseguir se quiser — os meus olhos começaram a arder, anunciando a chegada de novas lágrimas. — Por favor. Não posso casar-me com Theron. Não quero fazer parte dessa família doente.

Um silêncio pétreo se formou entre nós enquanto o mesmo processava as minhas palavras com calma. Se ele estivesse mesmo arrependido e a procura do meu perdão a melhor coisa a se fazer era ajudar-me a fugir desse lugar  porque sozinha Theron já deixou claro que não iria a lugar nenhum.

O encarei com expectativa. Ele era a minha única salvação. A minha oportunidade de ir embora desse lugar e nunca mais voltar.

— Não. Eu não posso — desviou o olhar do meu.

Deixei as suas mãos, como se tivesse recebido um choque.

— Como assim não pode? — a minha voz saiu embargada. — Você tem o dever de ajudar-me! — gritei, sem me preocupar em quem poderia estar acordado naquele momento. — Você precisa ajudar-me. Não pode deixar-me aqui. Se realmente sentisse tanto quanto diz não pouparia esforços em tirar-me daqui, mas é claro que é covarde demais até para isso.

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