vinte e oito.

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Conheci hoje o professor que me ensinaria durante as aulas domiciliares. O seu nome é Lawrence Lombard, mas ele prefere ser chamado apenas de Sr. Lombard. Durante as quase seis horas que passamos juntos só me lembro do seu nome. Eu estava cansada e com sono. Havia esquecido completamente das aulas e Jade teve que me acordar às pressas.

Como era o nosso primeiro dia, ele não cobrou muito de mim. Deu exercícios leves e fáceis de resolver. Também não deixou nenhum trabalho de casa, mas com a promessa de que amanhã não seria assim.

Agora eu estava sentada na bancada da cozinha com o rosto apoiado nas mãos, para tentar dormir um pouco enquanto Jade terminava de fazer o café que se disponibilizou para preparar para mim.

— O que fez ontem a noite para estar tão cansada? — quebrou o silêncio.

— Chorei — murmurei, mentindo.

E um pequeno sorriso involuntário apareceu nos meus lábios com a lembrança da noite ou madrugada anterior. Eu realmente gostei de passar tempo com Haden. Nunca pensei que ele soubesse a definição da palavra “agradável”, mas gostei de ter sido surpreendida.

— Sinto muito por isso.

Levantei o meu olhar para o seu rosto no momento a seguir.

— Você sabia de tudo? — perguntei. — Desde o início?

Ela anuiu positivamente.

— Theron é como um filho para mim. Ele conta-me tudo — explicou.

— E concorda com tudo isso? — a indignação na minha voz a fez franzir as sobrancelhas. Como se a pergunta a tivesse ofendido.

— Claro que não.

— Então, porque não tentou persuadi-lo a fazer a escolha certa? Que é, procurar uma mulher que goste dele e o ame o suficiente para casar com ele. Simples e fácil. E ninguém sofre.

Ela não respondeu de imediato. Parecia estar a buscar uma justificação que desse sentido a situação toda. Até que, depois de alguns momentos, apenas deu de ombros e murmurou:

— Não sei.

— Eu não vou casar com ele — soltei, amargamente. Só de pensar nisso já sinto vontade de vomitar.

— Ele sabe disso — revelou e antes que eu pudesse fazer mais perguntas colocou uma chávena de café com leite a minha frente. — Agora tome isso.

Não relutei. Fiz o que ela mandou.

Alguns minutos depois ela começou a preparar o almoço. Quando terminei de tomar o café disponibilizei-me para ajudar e aprendi várias coisas também, mas no fim só cheguei a uma conclusão: cozinha não era minha área. Definitivamente não. E agora que penso melhor, não sei como sobreviveria quando fizesse dezoito anos e saísse do orfanato, já que teria que virar-me sozinha.

Quando tudo já estava pronto Greta apareceu, ainda com o uniforme do seu colégio, mas não parecia muito animada. Em geral, ela não era uma garota que sorria a cada um minuto, mas também não tinha uma expressão infeliz estampada no rosto a todo momento. Os seus cabelos pintados de cinzento estavam presos num pequeno rabo de cavalo, com vários fios soltos. Hoje ela estava sem os seus óculos de vista, permitindo-me ver perfeitamente a cor ocre dos seus olhos, tal e qual como o seu irmão.

— E essa cara? — Jade foi a primeira a se manifestar.

— Mamãe morreu nesse dia, não lembra?

Os olhos da mais velha se arregalaram. Até que ela deu volta no balcão e andou na direção dela para a dar um abraço apertado.

— Eu esqueci. Desculpa, querida — deu um beijo no seu rosto. Com um carinho invejável. — Mas felizmente, preparei a sua comida favorita — a tentou animar.

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