quarenta e um.

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Haden

 Não sei a quanto tempo estou sem respostas. Talvez uma, duas ou três horas? Não reparei se o tempo aqui é rápido ou lento. Só notei que, para além de salvar vidas, o trabalho de alguns médicos é ignorar.

É como se hoje os mesmos estivessem tendo um péssimo dia. É surreal o facto de todos eles ignorarem sem nenhum remorso as minhas perguntas com justificações como: estou ocupado agora, preciso tratar um paciente ou espere mais um pouco. Alguém trará notícias em breve.

Minha ansiedade não aguenta mais um segundo sem notícias.
É como se estivesse preso numa caixa quadradiculada sem poder me mexer e a cada minuto ela estivesse ficando pequena. Me apertando. E estou prestes a ser esmagado.

Como se tivesse percebido que estou quase entrando em colapso uma enfermeira entregou-me um copo de água. Fiquei confuso com o seu gesto, mas ela apenas sorriu, deu de ombros e foi embora, porém prestes a colocar os meus lábios na borda do copo parei subitamente. Relembrando-me do porquê de Falyn estar ali provavelmente entre a vida e a morte. Então,  joguei o copo com água no lixo, longe de mim. Sei que aquela mulher só queria ajudar, mas prefiro evitar futuros desgostos. Nunca se sabe.

Suspirei, cansado e olhei para o teto. Não saber de nada está a acabar comigo. O meu coração está batendo com tanta força que sinto que não conseguirei sobreviver até o fim do dia. Esse sentimento de desespero é tão familiar e odeio isso.

Passei as mãos pelo rosto com força, como se quisesse livrar-me desses pensamentos. Prefiro me iludir e pensar no futuro. Num futuro em que tudo irá estar bem. Num futuro em Falyn irá estar bem. Sorrindo para mim. Querendo saber mais sobre as minhas pinturas. Os meus gostos e até vida pessoal. Qualquer coisa.

— Haden — escutei o meu nome. Encarei Greta se aproximar de mim, e não tive tempo de reagir quando a mesma se jogou nos meus braços. A abracei de volta. — Sinto muito — pediu, como se fosse culpada.

— Não precisa pedir desculpa — a minha voz saiu arrastada. — Você não fez nada.

Ela balançou a cabeça em negação. Sem acreditar nas minhas palavras, mas preferiu deixar esse assunto morrer.

— Como ela está? — questionou, levantando o rosto para me encarar. Os seus olhos cinzentos estão vermelhos e o seu rosto inchando.

— Eu não sei — suspirei.

— Eles não disseram nada?

— Não.

— Mas já se passaram dez horas — se afastou de mim, indignada. — Eles não disseram nada mesmo? Nem que ela está viva, em operação, em coma, nada?!

— Não — repeti, e olhei para o lado esquerdo do longo corredor onde têm várias enfermeiras andando de um lado para outro e nessa confusão vi Theron e Jade andando na nossa direção. Não me preocupei com ele. O meu olhar está focado naquela mulher.

O que ela está fazendo aqui?

— Olá, Jade — sorri amargamente, me desvacilhiando da parede assim que eles se aproximaram de nós. — Veio terminar o trabalho? — ergui as sobrancelhas.

Ela apenas desviou o olhar do meu. Greta segurou no meu braço, com o intuito de me manter no lugar, mas afasteia de mim.

— Haden — ela sussurrou. — A deixe em paz.

Ignorei a sua presença.

— Fica parado aí — Theron pediu e só agora me dei ao trabalho de prestar atenção nele. É como me olhar no espelho. Não pelos traços físicos, mas pela aparência. Sei que estou tão destruído quanto ele. Olhos vermelhos, cara inchada e olheiras bem visíveis em baixo do olho, mas ele parece muito mais cansado do que eu fisicamente.

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