Quando atravessei as portas do orfanato o meu corpo estava todo dolorido. Os meus pés provavelmente ficariam inchados porque havia caminhado mais do que pensei. As minhas roupas ainda estavam encharcadas e apesar de não ter chovido mais o frio era intenso. Os meus lábios estavam a tremer enquanto eu andava pelo jardim do orfanato com pressa — para poder chegar logo no dormitório e trocar de roupa —, mas desacelerei os passos no momento em que vi Louise a encarar-me com um sorriso mordaz no rosto, parada na entrada do edifício do orfanato.
O meu autocontrole estava no limite. Eu queria andar na sua direção e gritar na cara dela o quanto a odiava por ferrar com a minha vida, mas as possíveis consequências mantinham-me com um pé atrás. Eu já estava encrencada até o pescoço por ter fugido de Sra. Rebeca e não queria adicionar Louise na minha lista de problemas.
— Você está péssima — ela diz a olhar-me de cima para baixo assim que me aproximo dela.
— E adivinha de quem é a culpa? — a minha voz saiu rouca e irónica. — Exclusivamente e unicamente sua — apontei o dedo na sua direção.
Ela não vale o seu tempo.
Não a provoque.
Vá embora, merda.
O meu cérebro tentava alertar-me sobre os perigos que eu mesma conhecia. Isso não acabaria bem. Eu podia descontar toda a minha raiva nela agora, sentir-me poderosa por tirar tudo que estava preso na minha garganta, sentir a minha alma leve por tirar um peso das minhas costas, mas a verdade era uma. E a era crua e cruel. No final do dia, quem estaria numa sala escura a chorar sozinha seria eu.
Mas o meu orgulho não se importou com isso. Não era primeira vez que Louise se metia na minha vida e tentava prejudicar-me. E estou farta de ser sempre a vítima dos planos sádicos das pessoas desse orfanato.
— Eu só fiz o meu trabalho — ela cruzou os braços na altura do peito. — E todo o mundo sabe que deve estar no dormitório depois das oito na noite, no mínimo. São as regras. E se rebeldes, como você, pensam que podem passar por cima delas e saírem ilesos estão enganados.
Soltei um riso sarcástico.
— Por isso mentiu para Sra. Rebeca sobre a minha roupa — perguntei. — Para ela me castigar? — adicionei.
— Não menti — rebateu. — Aquela roupa não é adequada para pessoas da sua idade.
— Mas isso não me torna uma puta e nem a outras garotas que usam — o meu tom de voz estava mais elevado que o normal. — Eu tenho o direito de usar oque faz-me sentir bem!
Eu nunca havia gritado com ninguém assim. Eram raras as vezes que perdia a cabeça por completo e hoje era um desses dias.
Os corredores do orfanato ainda estavam vazios, mas isso era apenas questão de segundos. Eram questão de segundos até alguém escutar os meus gritos e chamar os outros para ver o que estava a acontecer.
A expressão no rosto da mulher a minha frente foi substituída por raiva. Ela segurou no meu pulso com força e puxou-me de forma brusca para perto do seu corpo.
— Eu ainda posso ferrar com a vida de você mais do que já o fiz. — a sua voz soava ameaçadora, mas eu já estava no auge da raiva. Nada do que ela falasse agora faria-me recuar. — Se ousar levantar a voz para mim outra vez acabo com você.
— Fique a vontade — fingi indiferença. — Não tenho medo de você. Se quiser guerra comigo, é isso que irá ter e garanto-lhe, irá perder.
Tirei o meu pulso bruscamente do seu aperto e sem esperar por sua resposta comecei a andar em direção ao meu dormitório. As minhas mãos suavam frio e uma leve tremedeira atingiu todo o meu corpo. Medo era a única palavra que podia definir o meu estado de espírito agora. Enquanto andava pelos corredores dei de cara com algumas pessoas no meio do caminho e elas lançaram-me olhares estranhos devido à minha aparência e outras murmuravam e soltavam risadinhas. Ignorei todos eles e andei até o dormitório.
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Neutro
RomanceSe meter com as pessoas erradas tem as suas consequências. Falyn Lake conheceu um rapaz. E tudo o que ela queria era o mesmo longe de sua vida, mas ele já tinha outros planos para ela.