Neutro

vinte e um.

Abri os olhos no momento em senti raios de sol queimarem o meu rosto. Coloquei as mãos na face para tentar impedir com que a sua intensidade continuasse a machucar-me enquanto encarava Jade abrir o resto das cortinas. Sentei-me melhor na cama e bocejei um pouco confusa com a atitude da mulher a alguns passos de distância de mim. Os seus movimentos eram apressados, como se quisesse correr contra o tempo.

— Seria legal se começassem a bater na porta — murmurei assim que ela se virou para mim. — Um dia irão encontrar-me nua aqui.

— Desculpa, mas o pequeno-almoço estará pronto daqui a alguns minutos e você precisa acordar.

— Não tô com fome — falei e as lembranças do pequeno-almoço de ontem vieram a tona. Não queria ver a cara de Theron tão cedo — apesar de saber que não tinha muita escolha —. Hoje só queria ficar no quarto. E era isso que iria fazer.

Ela suspirou.

— Você precisa descer, menina.

— Diga a eles que não estou com vontade — desdenhei, irredutível.

— O Sr. Robert não irá gostar disso.

Senti o meu sangue gelar com a menção desse nome. Qual era a probabilidade desse Sr. Robert ser o mesmo que Keanu e os seus amigos falavam no dia que espionei eles pela janela do dormitório?

Sentei-me na cama, para encarar melhor a figura feminina parada na minha frente.

— Olha, sei que começamos com o pé esquerdo quando nos conhecemos, mas pode dizer-me quem esse Sr. Robert é realmente? — perguntei, com a esperança de que ela me respondesse e quando vi o seu rosto empalidecer deixei cair os ombros.

A sua reação deixou-me desordenada. Não sabia o que pensar, mas preferi ignorar todos os pensamentos negativos. Quanto menos fosse pessimista, mais a minha sanidade continuaria intacta.

Jade apenas passou as mãos pelo, o seu uniforme e respondeu:

— Por favor. Apenas desça.

E saiu do quarto sem olhar para trás. Continuei congelada na cama incapaz de concretizar qualquer movimento. Eu estava cansada tanto fisicamente como mentalmente. Esses segredos e mistérios estão a acabar comigo. Sinto-me presa numa teia de mentiras. Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer comigo.

Quer dizer, quem pensa?

Porque esse é o tipo de perigo que todos pensam que estão a salvo até não estarem.

Droga. Eu já tinha o passado arruinado e agora o meu futuro parece estar comprometido. Nunca fui religiosa, mas permiti-me fechar os olhos e pedir a Deus que me livrasse dessa e mantivesse viva. Que me desse forças para continuar sã e com vontade de encontrar alguma saída nisso que parece ser um beco sem saída.

Imaginei Bellamy e as outras raparigas. Se elas se sentiram ou ainda se sentem tão assustadas quanto eu nessa posição… uma posição que poderia ter sido evitada se não tivesse escutado Keanu e ido para polícia. Por meu egoísmo talvez outras raparigas também tenham sido sequestradas. Talvez essa tenha sido a maneira que Deus encontrou para me fazer pagar por ter sido tão egocêntrica. Por não ter feito a minha obrigação quando me foi dada a oportunidade.

Soltei um suspiro frustrado e obriguei o meu corpo a levantar-se da cama. Fui para o casa de banho e fiz a minha higiene matinal. Não me preocupei com a temperatura quando saí do banho, apenas escolhi uma roupa aleatória e aconchegante para em seguida me colocar nas cobertas. O único lugar que me agradava naquela casa.

Não sabia quais seriam as consequências de estar a desafiar a pessoa que me mantém presa aqui, mas estava disposta a enfrentar.

Não sei por quanto tempo fiquei na mesma posição a encarar o nada quando a porta foi aberta. Não movi o meu olhar até ela porque não estava interessada em quem quer que tivesse entrado.